Quem quer golpe faz a hora

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Forças Armadas são uma instituição do Estado, não do governo. Mas não se pode cochilar

Há quem tema que Bolsonaro, se derrotado na tentativa de reeleição, tente um golpe, alegando que as urnas foram fraudadas, que um esquema ilegal foi preparado para impedi-lo de vencer, qualquer coisa. Pode ser. Mas por que esperaria um momento em que os adversários estarão preparados? O que impede um golpista de dar o golpe no melhor momento para ele, não na hora em que esperam que saia da legalidade?

Bolsonaro já fez o possível para agradar a área de segurança, já disse que as Forças Armadas detectaram sabe-se lá quantos milhares de falhas na urna, que vivemos a “ditadura da caneta”, comandada pelo Poder Judiciário, que não há diferença entre essa tal ditadura e as de Cuba e Venezuela. Disse mais: “Acredito em Deus e nos próximos dias acontecerá algo que vai nos salvar”.

Em parte, tem razão: em Cuba, Fidel Castro e seu irmão Raúl só usavam uniformes militares, embora militares não fossem; na Venezuela, houve farta distribuição à turma das Forças Armadas de bons empregos no governo e nas estatais. Em parte, viola o Segundo Mandamento, ao usar Seu Santo Nome em vão. E atribui ao Senhor planos que talvez sejam exclusivamente seus.

Muitos acham que Bolsonaro late mas não morde, zurra mas não dá coice. Outros confiam em declarações de generais (que devem a ele seus cargos) de que seguirão fielmente a Constituição – e por que não? Forças Armadas são uma instituição do Estado, não do governo. Mas não se pode cochilar.

Moscou na linha

A visita de Bolsonaro a Putin, em Moscou, certamente terá suas situações ridículas. Certamente terá também aquele grupo de sempre que não tem o que fazer mas adora viajar, é chegado a uma boca livre e não dispensa uma diária. Mas parece haver motivos importantes para este encontro. Para Putin, é importante que a Rússia tenha bons contatos na América Latina; e a Rússia precisa diversificar sua pauta de exportações, hoje baseada em petróleo e gás natural. Os russos dominam uma tecnologia que o Brasil ambiciona: a dos submarinos a propulsão nuclear (embora com armas convencionais). Quando o Brasil fez o acordo com a França, só havia no mundo cinco países com submarinos nucleares: os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. O Brasil seria o sexto. De lá para cá, a Austrália comprou submarinos nucleares americanos, mas o Brasil pode ser o sétimo.

De Paris a Moscou

O acordo com a França deu uma emperrada (o presidente Macron não tem a menor vontade de colaborar com Bolsonaro; o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, cérebro do programa nuclear brasileiro, foi preso por ordem do juiz Sérgio Moro), e as coisas não mais andaram. Parou o programa nuclear inteiro, tanto que Angra 3, iniciada no regime militar, não foi ainda concluída. A KWU alemã, cuja tecnologia foi usada nas Angras 2 e 3, foi vendida à Thomson francesa. Sobram Rússia e China. Viável, só a Rússia.

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