Falhas na aquisição de vacinas contra Covid-19 e aposta em medicamentos sem eficácia, como cloroquina, são o ponto de partida das investigações
Os ex-ministros Eduardo Pazuello, da Saúde, e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, serão os primeiros alvos da CPI do Genocídio, que vai apurar as ações e omissões do governo de Jair Bolsonaro no combate à pandemia do coronavírus.
Senadores oposicionistas e independentes da Comissão, que são maioria, definiram como estratégia de ação questionar falhas na aquisição de vacinas contra a Covid-19 e na aposta em medicamentos sem comprovação científica, como a cloroquina, de acordo com reportagem de Julia Lindner e Jussara Soares, em O Globo.
Parlamentares governistas, por sua vez, querem destacar os repasses feitos a estados e municípios e possíveis desvios na aplicação desses recursos, tendo como um dos alvos o Consórcio do Nordeste.
Além dos ex-ministros da Saúde do governo Bolsonaro, em especial o general Eduardo Pazuello, um dos principais focos da oposição é convocar o ex-chanceler Ernesto Araújo, apontado como um ator que pode ter prejudicado a atuação do Brasil na aquisição de imunizantes no exterior por sua postura em relação a países como a China. E que só perdeu o cargo após pressão do Senado.
Devem ser levantados, ainda, processos de compra de vacinas contra o novo coronavírus a fim de identificar aqueles em que o governo recusou ou demorou a firmar contratos, além de dados sobre a compra do chamado “kit covid” para verificar o quanto foi gasto com determinados medicamentos, como a cloroquina, o teor de contratos com farmacêuticas para a aquisição dos remédios e por que o Exército foi envolvido nessas ações. No último caso, o ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo pode ser ouvido.
“— Temos que apurar, primeiro, por que a demora das vacinas no Brasil, por que um país com a nossa potência econômica está mendigando vacina, por que a gente não participou desses consórcios que foram formados. Em segundo lugar, vários fatos que aconteceram em vários estados, principalmente no Amazonas, sobre a falta de oxigênio” — disse o futuro presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM).
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) sugeriu aos colegas seguir uma ordem cronológica dos acontecimentos, começando pela gestão de Luiz Henrique Mandetta, passando por Nelson Teich e concluindo com Pazuello. Alguns parlamentares consideram ouvir também o atual ministro, Marcelo Queiroga.
“— Não comprou vacina, mas teve tentativa? Houve recusa? Isso tudo dá para materializar. Estamos fazendo esse passo a passo. E avaliar também as outras coisas que vão além da vacina, isolamento social, insumos, higiene pessoal, políticas econômicas adotadas, se foram suficientes ou se foram retardadas e contribuíram para que as pessoas se contaminassem ainda mais. Isso tudo junto leva a uma possibilidade de que o governo tenha optado por contaminar, para gerar a chamada imunidade de rebanho natural” — disse Vieira.
Membros do governo temem que a CPI se debruce sobre declarações do presidente Jair Bolsonaro, que diversas vezes negou a gravidade da doença, se recusou a usar a máscara, causou aglomerações e incentivou o uso de remédios sem comprovação. Ministros tentam minimizar a repercussão dizendo que se trata de um julgamento político com o objetivo de expor o presidente e desgastar a imagem às vésperas da disputa eleitoral de 2022.