Ah, que delícia de guerra!

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Há países sufocados pelo preço do petróleo, há um país o nosso – cuja maior atividade econômica está à beira de estrangulamento por falta de fertilizantes

Há gente morrendo, bilhões de dólares gastos para explodir vizinhos, um país resistindo ao ataque de uma superpotência nuclear, sabendo que não há vitória possível a curto prazo. Há países sufocados pelo preço do petróleo, há um país – o nosso – cuja maior atividade econômica está à beira de estrangulamento por falta de fertilizantes. Qual a preocupação do presidente Bolsonaro, enquanto o Brasil corre riscos, enquanto gente morre? Tomar dos índios as terras em que há potássio. Só? Não. Palavras do presidente: “O Projeto de Lei 191 permite a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em terras indígenas”. Abre o jogo: “A guerra entre Rússia e Ucrânia é uma boa oportunidade para o Brasil aprovar a exploração de terras indígenas”. E é necessário assaltar os índios? Não: a maior parte do potássio amazônico está fora das áreas indígenas e é da Petrobras. É desenvolver as minas, o que a lei permite, e ampliar a produção de potássio. Só potássio?

De novo, não: há tipos de rocha com grande teor de minerais, que moídas e acrescentadas ao solo são excelentes fertilizantes. Já são muito usadas, em especial para a agricultura familiar, desde 2013, com a lei 12.890. São bem mais baratas, “disponíveis, eficientes, sem problemas ambientais como a contaminação do ar e da água; ainda podem sequestrar carbono e guardá-lo”, ensina a geóloga e professora da UnB Suzi Hoff Theodoro. Normalmente são explorados por pequenas mineradoras. Se crescerem, é bom para todos.

Na terra dos outros

O líder do Governo na Câmara dos Deputados pediu urgência na votação do tal Projeto 191. O presidente da Câmara, Arthur Lira, disse que é preciso debater logo o projeto e não ignorar a pauta. Mas não é preciso: a Associação Brasileira de Produção Mineral informa que a questão indígena não tem atrapalhado os projetos de exploração dos fertilizantes. “É preciso que haja uma análise técnica de cada empreendimento, apenas isso”. E um projeto para não afetar a vida de quem mora lá e terá de conviver com mais poluição, ruídos e tráfego. Se fosse apenas questão de produzir fertilizantes, não haveria problema. O problema é incomodar os indígenas.

Apertando o laço

O presidente Joe Biden informou ontem que os Estados Unidos proibirão importações de petróleo, gás e outras fontes russas de energia. Por enquanto, os EUA estão sozinhos: a Europa não os seguiu. Mas os EUA são o maior comprador mundial de petróleo. O prejuízo para a Rússia deve ser grande.

Ontem de manhã, o petróleo estava a US$ 130 o barril, preço altíssimo. A decisão americana deve levantar o preço do petróleo. O russo Putin diz que o petróleo ruma para US$ 300 o barril, o maior preço da História.

Enxugando gelo

O Governo brasileiro busca uma fórmula de conter o aumento dos preços do combustível. É difícil: o petróleo vem subindo rapidamente. Imagine que vá a US$ 200 o barril, pouco mais de 50% acima do preço atual. Como será possível segurar os preços, ou dar subsídios suficientes para que o preço de hoje se mantenha? Há quem diga que o petróleo extraído no próprio Brasil é mais barato e, combinando-se seu preço com o do importado, dará para aguentar. Mas não dá: as ações da Petrobras são negociadas em bolsa, e se o preço for artificialmente reduzido os acionistas estarão sendo lesados. Isso dá processo – e, na Bolsa de Nova York, os processos são milionários. Há um outro problema: os membros do Conselho da Petrobras são pessoalmente responsáveis pelas medidas que aprovam, e podem ter de pagar indenizações fora de seu alcance. Uma solução seria tirar recursos do Tesouro (ou seja, de nosso dinheiro) para cobrar menos de quem tem carro ou caminhão. Mas que haja dinheiro, porque as quantias envolvidas são monumentais.

O homem múltiplo

Parece certa a indicação do presidente do Flamengo, Eduardo Landim, para a presidência do Conselho da Petrobras. Landim tem larga experiência em petróleo: já trabalhou no setor na presidência de Lula, já trabalhou com a petroleira de Eike Baptista, agora é Bolsonaro desde criancinha. Mas não dá muita sorte aos patrões: Lula e Eike tiveram problemas com petróleo e os dois foram parar na cadeia por algum tempo.

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