O euro caiu para o menor nível em cinco anos devido a preocupações com a segurança energética e uma desaceleração no crescimento europeu. Recessão no bloco europeu deve provocar desvalorização da moeda
A queda do euro para uma mínima em cinco anos está reacendendo a possibilidade de a moeda atingir a paridade em relação ao dólar pela primeira vez em duas décadas, já que temores de uma recessão econômica em todo o bloco incentivam investidores a apostar na baixa da divisa comum. As crescentes preocupações com a segurança energética e uma desaceleração no crescimento europeu ligaram o sinal de alerta. Mas outras moedas também estão sendo atingidas pela valorização do dólar.
A suspensão do serviço de gás natural da Rússia para a Polônia e a Bulgária não causará danos imediatos à economia europeia, mas a Europa pode enfrentar uma forte desaceleração do crescimento se o corte se espalhar para outros países – ou se a Europa impor um embargo ao gás russo, disseram economistas .
Com a moeda única indo a um piso de 1,0514 dólar, alguns indicadores financeiros e econômicos de alta frequência estão piscando em vermelho. A moeda caiu 4,5% em relação ao dólar americano somente em abril, aprofundando as perdas.
O euro vem caindo constantemente desde o pico de US$ 1,6 em 2008, obtendo pouco benefício das expectativas de que o Banco Central Europeu possa aumentar as taxas de juros este ano em 80 pontos-base. As taxas do BCE, atualmente em -0,50%, não subirão para os níveis dos EUA neste ano ou no próximo.
O dólar se valorizou com as expectativas de que o banco central dos EUA será mais agressivo do que seus pares. Espera-se que o Fed aumente as taxas de juros em 50 pontos base em sua reunião de 3 a 4 de maio, bem como em junho e julho. A moeda americana ganha também com a crise na Europa e o lockdown na China.
“O mercado está convencido de que o Fed será mais agressivo do que o BCE em praticamente qualquer cenário”, disse Athanasios Vamvakidis, chefe de estratégia cambial do Bank of America. “Acho que estamos vendo uma capitulação muito atrasada de investidores que estavam relutantes em vender a descoberto [o euro em relação ao dólar].”
O euro caiu de forma constante desde o início de fevereiro, à medida que os comerciantes responderam aos sinais cada vez mais agressivos do Federal Reserve dos EUA, que deve aumentar as taxas de juros rapidamente enquanto combate a inflação crescente em uma economia que está amplamente isolada das consequências da guerra na Ucrânia.
A guerra da Rússia contra a Ucrânia já está se espalhando pela Europa, afetando os preços da energia e prejudicando os fabricantes no momento em que o bloco se recuperava de uma recessão induzida pela pandemia. Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional cortou sua previsão de 2022 para os países que usam o euro para 2,8 por cento, de uma estimativa de 3,9 por cento em janeiro, com a Alemanha, a maior economia, sofrendo um grande impacto.
O espectro de uma guerra energética direta – incluindo um potencial embargo europeu ao gás e petróleo russos – está surgindo em um momento vulnerável. As empresas europeias já enfrentam custos de energia mais altos, que ameaçam as margens de lucro e espremem o poder de compra dos consumidores, disseram analistas.
É provável que haja mais queda, disse Vasileios Gkionakis, chefe da estratégia de câmbio do G10 para Europa, Oriente Médio e África (Emea) do Citi, acrescentando que “o posicionamento especulativo está muito mais limpo do que antes, sugerindo espaço para uma acumulação maior de posições de venda”.
Uma mudança para a paridade euro-dólar não será simples, no entanto, com operadores de câmbio enfrentando algumas barreiras técnicas rígidas.
A queda do euro ainda seria limitada por contratos de opções consideráveis em torno da mínima do início de 2017 de 1,0340 dólar e, em seguida, do patamar de 1,02 dólar atingido pela última vez em dezembro de 2002, de acordo com dois operadores.
Movimentos rápidos também podem chamar intervenção do BCE (Banco Central Europeu), vista pela última vez em 2000 e 2011, especialmente se a fraqueza do euro provocar turbulências no mercado de títulos em países mais frágeis, como a Itália.
Assim, poucos bancos estão dispostos a prever que a paridade euro-dólar será atingida. O HSBC, por exemplo, diz que o nível de 1,0341 dólar do início de 2017 pode aparecer “se os desafios macropolíticos não diminuírem”.
O Rabobank disse que reconsiderará sua previsão de euro a 1,10 dólar, observando o dólar “mais forte por mais tempo”, mas espera que “a paridade euro-dólar seja evitada” se as interrupções no fornecimento de energia forem contornadas e o aperto da política monetária pelo BCE permanecer em curso.
“Tudo isso é claramente negativo para as perspectivas de curto prazo”, disse ele. “Mas, para piorar, os altos preços de energia e commodities e cadeias de suprimentos interrompidas colocarão em risco a competitividade internacional da Europa.”
O euro se saiu melhor em relação a muitas outras moedas líderes. Foi o caso do iene japonês, a libra esterlina e a coroa sueca em 2022. Mas o dólar também subiu em busca de segurança entre os investidores à luz do ressurgimento do coronavírus na China.
“Talvez seja cedo para falar sobre a paridade [do euro] [com o dólar]”, disse Vamvakidis. “Mas se pensarmos no que mais pode dar errado para o euro, acho que com sanções à energia russa podemos chegar lá.”
Com informações de agências internacionais