O agro do século XXI

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Hoje o agro no Brasil é um dos setores mais exitosos da economia nacional, respondendo por mais de 21% do Produto Interno Bruto (PIB)

São muitas as expectativas positivas de que o agronegócio brasileiro seja um dos mais importantes protagonistas (possivelmente o mais importante protagonista) do esforço multilateral para aumentar a produção agrícola no mundo nas próximas décadas, a fim de garantir a segurança alimentar global, saciando a fome e contribuindo para o tão sonhado desenvolvimento planetário sustentável.

Hoje o agro no Brasil é um dos setores mais exitosos da economia nacional, respondendo por mais de 21% do Produto Interno Bruto (PIB), por quase 18,5 milhões de empregos e por cerca de 42,5% das exportações totais do país, pontua Roberto Rodrigues, ex ministro da agricultura e hoje coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), professor titular da Cátedra de Agronegócios da USP e embaixador da FAO para as cooperativas.

Certamente um dos maiores desafios da humanidade neste século será compatibilizar a oferta de alimentos a todos os cidadãos do mundo concomitantemente à preservação dos recursos naturais. Segundo as previsões do USDA [Departamento de Agricultura dos Estados Unidos], só haverá segurança alimentar no planeta na próxima década se a oferta de alimentos crescer 20%, considerados os aumentos das populações e da renda per capita dos países emergentes. Evidentemente que a questão da sustentabilidade ambiental é central em tudo isso, mas muitos se esquecem que sem alimentos a sustentabilidade humana e social é impossível. E para que esse crescimento da oferta global de alimentos se materialize, o Brasil terá que aumentar a sua própria produção em mais de 40% ao longo dos próximos anos.

Esse protagonismo do Brasil pode ser atribuído a três fatores cuja simultaneidade é rara:

• Temos uma tecnologia tropical sustentável,

• Disponibilidade de terras, e sobretudo,

• Gente empreendedora, capacitada e competente em todos os elos das cadeias produtivas do agro.

Quanto à disponibilidade de terras, basta visitar recente estudo da Embrapa mostrando que, no Brasil, todas as culturas plantadas ocupam menos de 8,0% de todo o território nacional. Quanto à tecnologia, os números falam por si mesmos. Do início dos anos noventa até hoje, a área plantada com grãos cresceu 60%, enquanto a produção aumentou 310%. Atualmente, 61 milhões de hectares são cultivados com grãos. Se tivéssemos hoje a mesma produtividade por hectare de 1990, seriam necessários outros quase 100 milhões de hectares (poupados de desmatamento) adicionais para colhermos as safras atuais. Esses dados provam a sustentabilidade da agricultura tropical e não são os únicos dados positivos. As florestas plantadas já ocupam mais de 7 milhões de hectares em todo o país e a expectativa é que cheguem a 10 milhões de hectares nos próximos anos. O etanol de cana-de-açúcar, por exemplo, emite apenas 11% do CO² emitido pela gasolina, contribuindo assim para a mitigação do aquecimento global. E ainda temos a cogeração de bioeletricidade nas unidades industriais açucareiras, o biodiesel e as biorrefinarias.

Muitas novas tecnologias estão também surgindo em institutos de pesquisa, centros acadêmicos e no setor privado, inclusive em tecnologia da informação. As máquinas já estão conversando entre si, drones já estão sobrevoando e pulverizando áreas agricultadas, muitos tratores e colheitadeiras já têm funcionamento autônomos e nanopartículas indicarão a temperatura e a umidade da terra e do ar, assim como imagens de satélites já estão fazendo, permitindo aos gestores e operadores do agronegócio decidirem o momento ideal para fazerem os tratamentos adequados da terra e do plantio. E ainda temos gente muito capaz e jovem que continua chegando ao mercado de trabalho do setor rural. Um estudo recente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro (https://abmra.org.br/) mostra que, ao contrário do que está acontecendo nos países desenvolvidos do hemisfério norte, a idade média de nossos produtores rurais vem caindo, ao mesmo tempo que os cursos de ciências agrárias estão formando técnicos cada vez mais preparados para a competitividade que se espera do setor.

Todos esses elementos explicam a participação do agronegócio no PIB nacional, os 25% dos empregos gerados no Brasil e a contribuição relevante do segmento para a formação do saldo comercial positivo do país. E podemos ainda aumentar nossa produção exportável de alimentos em mais de 40% ao longo dos próximos anos, contribuindo assim para aumentar a segurança alimentar não só de nosso país, mas de todo o mundo.

Além dos grandes avanços que o país fez na biotecnologia e no revolucionário desenvolvimento da agricultura tropical também não é possível falar sobre o presente e o futuro do agronegócio sem uma outra perspectiva essencial à qual temos dado muita atenção em particular. Os recursos tecnológicos relacionados à inteligência artificial (IA) vêm liderando as manchetes de forma consistente e por boas razões. Ela já transformou indústrias em todo o mundo e as empresas estão correndo para entender como integrar essa tecnologia emergente. Essa tecnologia não é um conceito novo e está conosco já há algum tempo, mas o que mudou nos últimos anos é o poder da computação, as opções de serviços baseados em nuvem e sua aplicabilidade aos nossos empregos, à economia e à sociedade de maneira ampla e profunda.

Os avanços relacionados aos novos recursos tecnológicos agora permitem que na cadeia de valor e na logística do agro seja possível criar soluções de ponta e inovadoras que até recentemente não teriam estado ao alcance de inúmeras e importantes iniciativas empreendedoras e da capacidade empresarial mais ousada e inovadora. Essas novas soluções de produtos e serviços que estão entrando no mercado fazem com que a adoção da IA facilite a entrega de resultados práticos e imediatamente impactantes ao mesmo tempo que permite a redução de riscos. São três os pilares principais deste progresso: análise de dados, análise preditiva e aprendizado de máquina.

• A análise de dados refere-se à revisão de dados de eventos passados em busca de padrões.

• A análise preditiva está fazendo suposições e testes com base em dados passados para prever futuros.

• O aprendizado de máquina analisa dados, faz suposições, aprende e fornece previsões em uma escala e profundidade de detalhes impossíveis para analistas humanos individuais.

Essas tecnologias já estão sendo um multiplicador de força em termos de aumentar a precisão das estratégias de produção e logística, bem como a previsão de vendas. Elas equipam as empresas com recursos aprimorados de pontuação de oportunidades, permitindo que elas determinem com mais precisão o destino das oportunidades de produção e vendas e, por fim, produzam previsões de negócios mais precisas. São também capazes de filtrar grandes volumes de dados em tempo real e identificar as possibilidades de geração de valor mais eficazes. No caso do agro, não apenas das cadeias de valor locais, mas também e de forma muito relevante no contexto das cadeias de valor globais. Usando algoritmos, as novas tecnologias ajudam ao ajustar as “pontuações” das oportunidades, levando em consideração uma infinidade de fatores diferentes – incluindo fatores demográficos, sociais, econômicos e tecnológicos – e, em seguida, apresentar os encaminhamentos com maior probabilidade de sucesso.

Mas que tipo de decisões um produtor rural pode tomar e por quê? Em uma cadeia de suprimentos genérica de um agronegócio poderíamos, por exemplo, identificar as seguintes necessidades de tomada de decisão:

• Os consumidores podem priorizar cada vez mais produtos saudáveis e resultantes de processos sustentáveis.

• As cadeias de valor locais e globais desejam maximizar os lucros, minimizar o desperdício, e garantir que tenham os produtos corretos suficientes no momento em que são desejados.

• Infraestruturas de silagem, centros de distribuição e indústrias de transformação desejam prever seus graus de eficiência e seus retornos econômicos para garantir o uso adequado de pessoal e equipamentos, prever as necessidades de horas extras, planejar as operações, etc.

• As fazendas têm estratégias de longo e curto prazo para considerar a aquisição ou venda de terras, benfeitorias adicionais, investimento em novos equipamentos e compra de fertilizantes.

Diferentes processos de tomada de decisão fazem uso de dados e conhecimento de maneiras diferentes e, da mesma forma que em quase todos os outros setores da economia, o setor de agronegócios não tem mais a opção de abrir mão da ciência de dados e da IA nos processos decisórios.

Finalmente há um outro componente relacionada ao agro e que, embora não faça parte dele, é fundamental para a sua viabilização: os recursos financeiros para a operação e os investimentos necessários. O interessante é que são os mesmos dados utilizados pelos produtores rurais assim como os mesmos recursos de análise de dados, análise preditiva e IA que permitirão, por parte do mercado uma otimização nas avaliações de riscos creditícios e na alocação dos recursos financeiros que são essenciais a toda essa cadeia de valor que gera imensa riqueza, sendo a maior delas a segurança alimentar de todo um planeta. E a rapidez das inovações é tão grande nesta área que até NFTs (tokens não fungíveis) baseados em tecnologia blockchain estão sendo usados em operações de crowdfunding para captação de recursos financeiros para o agronegócio.

Originalmente no Dom Total

 

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