Jumento vira alvo da cobiça econômica do mercado chinês

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Desde 2016, o Brasil se tornou um exportador de couro de jumento para a China

O jumento, um dos grandes símbolos do Nordeste brasileiro, corre o risco de desaparecer. O animal virou alvo da cobiça econômica do mercado chinês.
A espécie, originária da Ásia, foi Introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses. Durante séculos foi muito usada na agricultura e no transporte de carga. Com a modernização dos equipamentos agrícolas e a ampliação do uso de veículos motorizados, o jumento foi sendo substituído no dia a dia e deixou de ser útil para os nordestinos, já que sua carne não é consumida.

Com o tempo foi ficando cada vez mais comum ver animais abandonados, perambulando por campos e estradas, em busca de alimento. Muitos acabam morrendo de fome e de sede.

Até que foi descoberto um novo nicho para esses animais. Desde 2016, o Brasil se tornou um exportador de couro de jumento para a China. Há um grande interesse no país asiático pelo couro do animal. Com ele é feito o “Ejiao”, uma gelatina usada na indústria farmacêutica e de cosméticos. Na medicina tradicional chinesa, o “Ejiao” é considerado um remédio para diversos problemas de saúde: menstruação irregular, anemia, insônia e impotência sexual.

Cada jumento é vendido a preços que variam de 30 a 150 reais, o que tem causado o abate acelerado do animal. Os compradores são chineses que arrendam fazendas, principalmente na Bahia e no Ceará.

Em 2019, o Brasil exportou 200 mil animais, um número alto, mas longe de atender a demanda chinesa, de um milhão de animais ao ano. Com o crescimento da demanda, os jumentos livres começaram a ser caçados nas estradas, enquanto pequenos agricultores passaram a vender seus animais para as fazendas controladas pelos chineses.

Porém, os criadores asiáticos não costumam tratar bem dos seus animais e muitos jumentos morrem de fome e sede. Em setembro de 2018, duzentos jumentos foram encontrados mortos em uma fazenda em Itapetinga, sudoeste da Bahia. Os animais pertenciam a uma empresa chinesa e eram abatidos por um frigorífico da região.

Em dezembro do mesmo ano uma liminar da Justiça Federal proibiu o abate de jumentos no estado da Bahia. Em setembro de 2019 a liminar foi suspensa pelo Tribunal Regional Federal. Finalmente, em abril de 2020, a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia regulamentou o abate dessa espécie de animal. A nova regulamentação proíbe o abate de animais com menos de cem quilos, de fêmeas no último terço da gestação e estabelece o limite de abate de até 40% das fêmeas por lote.

No entanto, as medidas ainda não são suficientes para impedir uma possível extinção da espécie, de acordo com entidades de proteção dos animais. A Frente de Defesa dos Jumentos estima que até 2024 o animal estará extinto no Brasil, seja pelo abate em massa ou por maus tratos.

Além da luta contra o abate, a Frente também atua na criação de santuários para ajudar na preservação da espécie. Um deles é o Parque Padre Antônio Vieira, na cidade de Santa Quitéria, no Ceará, que abriga mais de três mil jumentos.

Mesmo com a ameaça de extinção, dificilmente o abate será interrompido. Muitas pessoas dependem desse comércio para sobreviver. As organizações da sociedade civil seguem na luta pela preservação dos animais.

O jumento, símbolo de uma cultura tipicamente nordestina, pode se transformar em pouco tempo em apenas mais uma lembrança.

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