Rússia está prestes a cortar o fornecimento de gás natural para mais um país europeu que se recusa a aceitar o pagamento em rublos
O gás russo deixará de fluir para a Finlândia às 7h (horário local) de sábado, disse a empresa estatal finlandesa de gás, Gasum, em comunicado nesta sexta-feira. A Polônia e a Bulgária tiveram o fornecimento suspenso no final de abril porque não fizeram pagamentos na moeda russa – uma medida que os líderes da UE descreveram na época como “chantagem” de Moscou.
“É lamentável que o fornecimento de gás natural sob nosso contrato de fornecimento seja interrompido agora”, disse o CEO da Gasum, Mika Wiljanen, acrescentando que a empresa está “se preparando cuidadosamente para essa situação”.
No início desta semana, Gasum disse que estava se preparando para que a Rússia fechasse os registros depois de se recusar a atender à exigência do presidente Vladimir Putin de que países “hostis” paguem pelo gás em rublos, em vez de euros ou dólares declarados em seus contratos.
A Finlândia anunciou formalmente no domingo sua intenção de ingressar na Otan, abandonando décadas de neutralidade e ignorando as ameaças russas de possível retaliação em uma tentativa de fortalecer sua segurança após o início da guerra na Ucrânia.
A Finlândia conta com a Rússia para quase 68% de seu consumo de gás natural em 2020, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Mas as exportações de gás da Rússia representam apenas 3% do mix total de energia do país nórdico – que inclui energia gerada a partir de biocombustíveis e fontes nucleares – de acordo com dados do Eurostat e da Rede Europeia de Operadores de Sistemas de Transmissão de Gás.
Wiljanen disse que a Gasum “será capaz de fornecer gás a todos os [seus] clientes nos próximos meses”, desde que não haja interrupções na rede de transporte de gás, mas acrescentou que o inverno será “desafiador”.
A vice-presidente da Gasum, Olga Väisänen, disse na sexta-feira que a Finlândia também está recebendo gás através de sua conexão com o Báltico via Estônia. O gasoduto liga a rede de transporte de gás da Finlândia à da Estônia e permite-lhe recorrer ao armazenamento subterrâneo na Letônia.
A Gazprom disse aos clientes que devem abrir duas contas no Gazprombank – uma em euros e a segunda em rublos, a partir das quais os pagamentos do gás seriam feitos. Desde então, autoridades da UE, governos nacionais e empresas de energia lutam para descobrir se o novo mecanismo de pagamento viola as sanções à Rússia.
Ainda há muita confusão. Alguns dos gigantes da energia da Europa iniciaram o processo de abertura de novas contas. A gigante italiana de energia Eni (E) disse na terça-feira que planeja abrir duas contas no Gazprombank, uma em euros e outra em rublos.
Mas a Comissão Europeia insiste que a orientação emitida na semana passada proíbe os compradores de abrir uma conta em rublos. O porta-voz da Comissão Europeia, Eric Mamer, disse em uma coletiva de imprensa na terça-feira que tal medida violaria as sanções.
“Qualquer coisa que vá além de abrir uma conta na moeda do contrato com o Gazprombank e fazer um pagamento nessa conta, e depois emitir uma declaração dizendo que… você finalizou o pagamento, infringe as sanções”, disse ele.
Alguns países precisam urgentemente de uma solução à medida que as contas vencem. A Alemanha, a maior economia do bloco, depende fortemente do gás russo para abastecer suas casas e indústrias, embora tenha conseguido reduzir a participação da Rússia em suas importações de 55% para 35% antes do início da guerra.
No início desta semana, a UE disse que gastaria € 210 bilhões de euros (US$ 222 bilhões) para se livrar do petróleo e do gás russos.
Seu plano “REPowerEU” visa reduzir o consumo de gás da Rússia em 66% antes do final deste ano – e romper completamente sua dependência antes de 2027 – economizando energia, encontrando fontes alternativas e acelerando a transição para energias renováveis.