Nossa “Marine Le Pen” não tem um Estado autoritário a construir
O Brasil sempre foi um país autoritário – todos o movimentos populares nacionais sempre foram duramente reprimidos, como a Inconfidência Mineira (1789), Cabanagem (1835), Farroupilha (1835), Canudos ( 1896), Contestado (1912). A misoginia sempre marcou a sociedade nacional, por isso temos pouquíssimas mulheres na política. Assim, Simone Tebet não tem um Estado autoritário a construir, ao ao contrário de Marine Le Pen – a candidata ao cargo mais importante da França, pais com forte tradição democrática.
Simone Tebet tem 52 anos é advogada, professora e senadora da República pelo MDB. Ela nasceu em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul. A mato-grossense-do-sul se torna agora presidenciável, após a desistência do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandeta (Democratas), do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) e do governador de São Paulo, João Dória (PSDB), agora é Tebet que empresta seu nome ao desgaste da turbulenta “terceira via”. Isso quer dizer que a Le Pen tupiniquim é a nova aposta da mídia corporativa e do mercado financeiro, os tradicionais inimigos da população brasileira.
Após a derrota de 2017 na França, a advogada e política, Marine Le Pen, precisou se reinventar. Seus correligionários adotaram estratégias para expurgar o ranço autoritário da líder de extrema-direita francesa – tentaram humanizar sua campeã. Durante cinco anos, procuraram recriar uma nova mulher, apresentando vídeos do cotidiano da candidata, divulgaram Le Pen como uma “mulher normal” – falando sobre seus filhos, aprendendo a dançar, ouvindo música, cuidando do jardim e dos animais domésticos. Estimularam a candidata a proferir menos declarações polêmicas e palavras ofensivas, afinal, o radicalismo, eleitoralmente falando, não funciona. Foi necessário, portanto, um amolecimento da forma, sem contudo tocar na substância programática. Foram necessárias várias etapas para preparar o seu regresso à política, em setembro de 2020.
Parte do nosso país é conservador e machista. A candidatura de Simone Tebet poderia até representar esse Brasil autoritário, se esse espectro já não estivesse projetado em Jair Bolsonaro. Assim, tanto a candidatura de João Doria quanto a da emedebista se apresentam como meros simulacros de um líder para um “Brasil” bolsonarista.
Simone Tebet até foi base do governo do presidente Jair Bolsonaro, votou as pautas conservadoras do atual presidente. Mas a questão de gênero (ser mulher em uma sociedade fálica), falta de radicalismo programático e de domínio do orçamento federal a colocam em uma posição periclitante. Simone Tebet, que votou no impeachment fraudulento da ex-presidente Dilma Rousseff, criou um grupo de ressentidos no país que deseja governar – os eleitores progressistas. Ao contrário de Marine Le Pen, que precisou se reinventar, Tebet precisa se inventar para conseguir ao menos uma votação significativa para o cargo mais importante do Brasil. A senadora nem mesmo é presidente nacional do MDB, cargo ocupado pelo deputado paulista, Baleia Rossi, político de competência duvidosa que sofreu uma derrota acachapante nas eleições para a mesa diretora da Câmara Federal em 2021.
O Brasil progressista e liberal vem rejeitando candidatos com imagens opacas. Os brasileiros tem demonstrado cansaço nas recentes pesquisas eleitorais. O eleitor médio está fadigado das bobagens programáticas da “direita”. Tebet nunca pautou nada que lhe atribuísse algum “brilho”. Ela se apresenta como uma “invenção das elites” – as mesmas cujas práticas políticas produziram o fracassado governo de Fernando Color de Melo (1990 – 1992), o corrupto “caçador de marajás”. Vale incluir também o emedebista Michel Temer (2016 – 2018) – que traiu a ex-presidente Dilma Rousseff (2011 – 2016), para logo em seguida, iniciar a implementação de políticas neoliberais com o desmonte das indústrias de construção civil, de petróleo e gás, bem como a destruição dos direitos trabalhistas.
A elite midiática e financeira, ao tentar destruir a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) com a Operação Lava Jato, terminou implodindo seu partido, o PSDB, ao mesmo tempo que alçou ao Palácio do Planalto, o pior presidente da história do Brasil – Jair Messias Bolsonaro, um radical de extrema-direita, cujas pautas são meramente ideológicas. Os arroubos autoritários de Jair Bolsonaro no entanto, fez eclodir o reprimido sentimento autoritário egresso da Ditadura Militar (1964 – 1985), que havia sido sufocado pela Constituição Federal de 1988.
O governo do presidente Jair Bolsonaro foi composto por quadros cuja principal característica é a incompetência técnica. Assim, através dos recorrentes ataques às instituições republicanas, o presidente criou um Brasil exasperado. Jair Bolsonaro amplificou a crise econômica, normalizou a crise política e semeia recorrentes crises contra o Judiciário para conseguir manter o apoio da sua trupe.
A inflação é apenas um “brinde” do bolsonarismo aos brasileiros. Diante da catastrófica herança distópica deixadas pelos candidatos-heróis das elites brasileiras, o que Simone Tebet ainda tem a oferecer?
A nostalgia econômica de governos programáticos faz o Brasil rejeitar candidatos que “governam” com a garganta e que ficam o tempo todo agitando parte da população com pautas inúteis. É exatamente isso que dizem as pesquisas.