“Tom vermelho do verde”, romance sobre a Amazônia

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
É imprescindível e urgente trazer à luz e estancar o sangue que impregna o verde da maior floresta tropical do mundo. Amazônia é palco de atrocidades há seculos (Mauro Pimentel/AFP)

Um romance deve ser avaliado pela crítica e, sobretudo, pelos leitores. A opinião do autor pouco importa, até porque todo pai ou mãe julga a feiura do filho a mais bela obra da Criação. Eu mesmo, como todo leitor, admiro obras de ficção que muitos detestam e vice-versa.

Devo, no entanto, dizer uma palavra sobre meu romance “Tom vermelho do verde” que a Rocco lança neste mês de julho. Ele descreve o genocídio de indígenas amazônicos perpetrado por militares, agentes da Funai e garimpeiros disfarçados de pastores evangélicos. Fato real ocorrido em plena ditadura, entre os anos de 1968 e 1977, narrado no livro “Massacre”, de Silvano Sabatini, que teve como copywriter o jornalista Antônio Carlos Fon, e publicado em 1998.

O livro me impactou por revelar uma face cruel da ditadura militar pouco conhecida do público: a repressão aos povos indígenas. Durante 19 anos fiquei “grávido” do tema, motivado a transformá-lo em romance. Até que em 2017 decidi pôr mãos à obra. Foram cinco anos de pesquisas, entrevistas, consultas a indigenistas e leituras, muitas leituras.

Digo isso porque amigos se surpreendem com a coincidência entre o brutal assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips e o tema do romance. Houve quem me perguntasse se o escrevi a partir das truculências cometidas no Vale do Javari…

Impressiona-me, sim, a linha de continuidade entre o massacre dos Waimiri-Atroari, nas décadas de 1960 e 1970, e a atual omissão da Funai somada à cumplicidade de militares, policiais e autoridades públicas com o garimpo ilegal e outras atividades criminosas.

Há séculos o palco das atrocidades é o mesmo: a Amazônia, alvo da cobiça de brancos que, movidos pela ânsia de enriquecimento rápido, devastam a floresta e exterminam seus legítimos guardiães, os povos originários.

Por isso, é importante, imprescindível e urgente trazer à luz e estancar o sangue que impregna o verde da maior floresta tropical do mundo. (por Frei Betto)

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