Lula e os perigos de “jogar parado”

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Tática implica em evocar mais o passado que o futuro. Desmobiliza os apoiadores. Furta-se a cativar corações e mentes em torno de propostas desejáveis de mudança. E deixa ex-presidente exposto às cascas de banana do bolsonarismo

Existe muita gente reclamando da performance pouco memorável de um Lula excessivamente contido no debate da Band.

Apesar de concordar que Lula não estava num dia dos mais inspirados, a questão principal é escamoteada quando o foco recai exclusivamente sob o desempenho pessoal do candidato. O problema central é a política da campanha. O debate foi reflexo, de certa forma, da ideia de que é melhor “jogar parado” para seguir na liderança do arriscar o confronto de ideias.

As pesquisas, confortáveis até agora, indicam que a tática possui alguma racionalidade. No entanto, aos meus olhos, ela é, ao contrário do que pretende, bastante arriscada. O debate foi apenas um primeiro sintoma disto, mas creio que estes apenas se avolumarão no decorrer da campanha.

“Jogar parado” implica, concretamente, em falar mais de passado do que de futuro; em Lula apresentar-se como o fiador tanto da volta do bem-estar dos pobres quanto da segurança e estabilidade dos ricos, sem precisar apresentar qualquer ideia nova, contando apenas com sua própria figura, ao estilo “o programa sou eu”. Desta forma, Lula não precisa assumir compromissos, está livre pra adotar qualquer arranjo flexível, a depender das circunstâncias e, assim, em tese, aglutinar mais apoio.

O problema principal desta orientação é que ela tem insuficiente potencial mobilizador: não move subjetividades dispostas a um combate duro, no qual o fator subjetivo (ex: o moral da militância e dos apoiadores) tem considerável importância e não cativa os espíritos em torno de propostas desejáveis de mudança.

O apelo à nostalgia dos tempos bons, apesar do feedback positivo não menosprezável na memória principalmente da população mais pobre, tende à despolitização, justamente em um momento em que a cisão antagônica entre projetos se torna necessária, fazendo o ex-presidente se tornar presa fácil de cascas de banana (mas e a crise econômica do segundo governo Dilma? E os casos de corrupção? Bolsonaro foi um raio em céu azul?) por parte do bolsonarismo.

Em suma: contra a falsa segurança do salto alto e do olhar exclusivo no retrovisor, seria bom começar a debater algumas propostas capazes de empolgar as pessoas, sinalizando alguma orientação de futuro. Do contrário, Lula ficará muito vulnerável a um debate passadista, no qual estão presentes não apenas os acertos, mas também os grandes erros.(Por )

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