“Carne é para quem tem dente de ouro”

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Uma visita à Cumaru (PE), onde mais de 70% da cidade depende do Auxílio Brasil. Com a inflação, os R$ 600 mal duram o mês. Muitos vivem só de “bicos”. Contas e a fome estão sempre à porta. Mas já não caem nos contos do bolsonarismo…

Quando Luiz Amaro dos Santos olha para fora da sua porta, vê a rua sem saída em que mora, no município pernambucano de Cumaru. Mas a rua sem saída é também o jeito que Santos, de 57 anos, encontra para falar da própria vida. Já cortou cana, madeira, cavou poços e foi auxiliar de carga e descarga de caminhões. Há seis anos, perdeu o movimento das pernas ao adquirir a síndrome de Guillain Barré, distúrbio autoimune que provoca fraqueza muscular e ausência de reflexos. Há dois, vê a comida desaparecer lentamente do prato. Com a alta da inflação e o atual preço dos alimentos, o auxílio de 600 reais, que começou a receber em agosto, mal deu para chegar ao fim do mês. “Quando compro uma coisa, falta outra. Tem dois meses que estou sem tomar meus medicamentos porque, se eu comprar, não tenho como comer”, relata. Santos mora sozinho com seus quatro passarinhos em seu quarto e sala de cor azul-céu. É lá que espera, há quase três anos, sua aposentadoria. É lá que deixa o tempo passar devagar, para ajudar a enganar a fome. “Carne é para quem tem dente de ouro, dou graças a Deus quando tem ovo ou sardinha. Tem que imprensar a barriga mesmo”, conta à piauí. 

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