Quase morri na Transamazônica

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Transamazônica parece não ter melhorado quase nada nos dias de hoje

A rodovia Transamazônica acabou de completar exato meio século e segue levando o nada ao lugar nenhum. Eu quase morri na “rodovia” (atenção às aspas) em 1981 quando ela ainda não tinha dez anos de vida e desde então pouco ou nada mudou ao seu redor nesse país que sempre primou pelo tal “desenvolvimentismo” cuja falácia primordial diz que “governar é abrir estradas” como se asfalto fosse sinônimo de bonomia.

Quando me acidentei na Transamazônica eu seguia, para uma reportagem, um novo caminhão em teste da Volvo nos meus recém completados 22 anos. O “bruto” ficou estacionado no pátio de um modesto posto na confluência com a Belém- Brasília e eu segui, sozinho, em um Passat marrom de tração dianteira pela Transamazônica adentro com a finalidade de arrumar um bom lugar pra fotografar o caminhão. Eis que uma absurda e gigantesca nuvem de mosquitos começou a vir na minha direção e eu fiz o retorno e voltei em excessiva velocidade de medroso. Então uma pedra surgiu no meio do caminho e eu mergulhei num barranco de seis metros e de lá me retiraram desacordado com várias costelas quebradas e uma cicatriz no rosto que durou por bom tempo. Fiquei hospitalizado em Tocantinópolis e depois tratei do rosto em Belém.

Sobrevivi para poder lhes contar, mais de quarenta anos depois, que a Transamazônica parece não ter melhorado quase nada como atestou reportagem dessa quarta- feira na “Folha de S.Paulo” que percorreu região próxima a Anapu onde fazendeiros, jagunços e grileiros, com desmedida violência, afugentam famílias que vivem no assentamento Dorothy Stang, justamente aquela religiosa americana que foi assassinada aos 73 anos por bandidos na mesma Anapu no ano de 2005.

Mesmo com a repercussão internacional do caso a impunidade segue naquela terra de ninguém ao redor da Transamazônica onde pouca gente está segura, resultado direto da equivocada política de habitação da Amazônia implementada pelos militares da ditadura de 1964 a 1985.

A inauguração da estrada foi feita pelo sanguinário general Médici, então presidente, que a imaginava como uma via de integração nacional. Deu em nada como se pode observar não só pela reportagem da Folha. Pena que não tenha dado em nada também a politica belicista e belicosa do atual governo que herda e piora o que há de mais nefasto na região além do nome de um município da área que se chama Medicilândia.

No já remoto 1981 onde lá estive contemplando desmatamento, mosquitos, calor, lama e miséria havia ainda entusiastas do general Médici como o dono de uma pousada tosca que tinha um imenso poster do ditador na sua sala de jantar. Hoje parece que ao invés de retroceder o entusiasmo por ditadores e o culto aumentou nessa horrenda era Bolsonaro que rogamos aos céus que acabe logo para que o Brasil não vire uma imensa Transamazônica devastada.

por Ricardo Soares na Dom Total

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