Há muitas coisas que venho aprendendo ao longo dos anos. Por trás de todo veículo de comunicação há interesses econômicos e políticos e escamoteá-los em nome de uma pretensa isenção é enganar o público. Como Mino diria, até o reino mineral sabe que Globo, Folha e Estadão sempre foram anti-Lula e anti-PT, assim como Record e Rede TV! apoiam Bolsonaro sem qualquer cerimônia e Silvio Santos irá se derreter para qualquer um que seja eleito.
Ainda assim, a Carta Capital é a única no país a endossar candidaturas à presidência, seguindo a tradição dos grandes jornais dos Estados Unidos. É importante dizer que o hábito nunca interferiu no viés crítico da revista ou determinou a subserviência aos candidatos escolhidos. Sem cartas escondidas na manga, vence a ética e a responsabilidade.
Tendo isso tudo em mente, quando Douglas Tavolaro afirmou em janeiro de 2019 que a CNN Brasil não seria nem de esquerda e nem de direita, já fui botando minhas barbas de molho. Ao negar qualquer posicionamento político, o fundador e ex-CEO estava na verdade escondendo o jogo, como de resto é o hábito do grosso de nossa imprensa.
O sinal vermelho acendeu mesmo foi durante uma das famigeradas lives semanais de Bolsonaro. Antes mesmo do primeiro dia no ar, o capitão elogiou a iniciativa e disse “pelo que estou sabendo vai ser uma rede de televisão diferente aí da Globo”. O que será que ele já estava sabendo? Como o tempo mostrou, o suficiente para conceder exclusivas e autorizar a presença de seus ministros no canal.
Foi na CNN que Pazuello lançou o plano nacional de vacinação, confeccionado a toque de caixa devido à pressão do Congresso e da sociedade. A longa entrevista foi uma patacoada cheia de generalidades e promessas que não se cumpriram, mas mostrou o prestígio de que goza o canal até hoje no Planalto.
Despertando ora o amor, ora o ódio das redes sociais, a preferência pelo canal oscila mais que gangorra entre a boiada de apoiadores do presidente. Se elogia Bolsonaro, é chamado de isento e responsável; em episódios como o da entrevista de Regina Duarte recém-empossada na Secretaria de Cultura, ganha a pecha de comunista.
Fora o exagero, a percepção não é errada. Em seu primeiro ano de existência, o canal de fato vem se alternando entre rezar para Deus e acender uma vela para o diabo, em um eterno movimento de morde-assopra ou aparente dupla personalidade. Se demitiu justamente Leandro Narloch devido a comentário homofóbico, por outro lado continua sendo a mesma empresa que contratou William Waack e mantém Alexandre Garcia em seu cast de comentaristas.
O elenco de jornalistas foi selecionado por Tavolaro a partir do momento em que se desligou das funções na Record para montar a versão brasileira da grife CNN. Completamente dedicado à nova casa, causou muita surpresa o anúncio de que bateria asas, em março passado.
Vendeu suas ações para o até então sócio majoritário do canal, o dono da RMV Rubens Menin – que fez uma contraproposta irrecusável ao seu desejo de ser o acionário único. Ainda que milionário, o ex-vice de jornalismo de Edir ‘nada a perder’ Macedo, não teria bala na agulha para arrematar sozinho a parte do bilionário Menin. Especula-se até hoje quem poderia realmente estar por trás da oferta (um certo bispo evangélico, talvez?).
Que o conservadorismo está no DNA da CNN, é inegável, porém, novos ares estão soprando na redação da Avenida Paulista – já visíveis na programação. Não podemos ainda identificar se isso é causa ou consequência da debandada de Tavolaro, mas até mesmo a escolha da nova CEO, Renata Afonso, aponta para profundas mudanças.
Renata Afonso atuou como executiva na TV TEM, afiliada da Rede Globo no interior de SP ( Divulgação)
Ex-diretora geral da TV TEM (pool de emissoras afiliadas da Globo que cobre quase metade do interior paulista), Afonso começou a carreira na antiga MTV, produzindo o Barraco MTV de Astrid Fontenelle. Segundo o currículo postado por ela mesma no Linkedin, acumula também passagens por Band (H), Rede TV! (Late show) e HBO.
A contratação da executiva entrega pelo menos duas pistas sobre a visão que Menin tem para o cargo. Ao fugir de medalhões do jornalismo nacional, o empresário buscou um nome que não demandasse salário exorbitante e com quem poderia lidar sem estrelismos. Além disso, a recusa em promover profissionais que já incorporam a folha de pagamento do canal, mostra o desejo de um fresh start, com alguém que não tenha sido alistado pelo antigo sócio.
O grande desafio da nova CEO será equilibrar a balança, desconstruindo a fama de chapabranquismo e parcialidade do canal. Apenas uma linha editorial clara e coerente pode salvar a CNN Brasil da esquizofrenia.
Há muitas coisas que venho aprendendo ao longo dos anos com Mino Carta, timoneiro-mor da revista Carta Capital e nome histórico da imprensa brasileira. Além do salutar hábito de consultar os próprios botões antes de emitir alguma opinião por impulso, foi o célebre jornalista quem primeiro me chamou a atenção para a importância da transparência ideológica da mídia.
Por trás de todo veículo de comunicação há interesses econômicos e políticos e escamoteá-los em nome de uma pretensa isenção é enganar o público. Como Mino diria, até o reino mineral sabe que Globo, Folha e Estadão sempre foram anti-Lula e anti-PT, assim como Record e Rede TV! apoiam Bolsonaro sem qualquer cerimônia e Silvio Santos irá se derreter para qualquer um que seja eleito.
Ainda assim, a Carta Capital é a única no país a endossar candidaturas à presidência, seguindo a tradição dos grandes jornais dos Estados Unidos. É importante dizer que o hábito nunca interferiu no viés crítico da revista ou determinou a subserviência aos candidatos escolhidos. Sem cartas escondidas na manga, vence a ética e a responsabilidade.
Tendo isso tudo em mente, quando Douglas Tavolaro afirmou em janeiro de 2019 que a CNN Brasil não seria nem de esquerda e nem de direita, já fui botando minhas barbas de molho. Ao negar qualquer posicionamento político, o fundador e ex-CEO estava na verdade escondendo o jogo, como de resto é o hábito do grosso de nossa imprensa.
O sinal vermelho acendeu mesmo foi durante uma das famigeradas lives semanais de Bolsonaro. Antes mesmo do primeiro dia no ar, o capitão elogiou a iniciativa e disse “pelo que estou sabendo vai ser uma rede de televisão diferente aí da Globo”. O que será que ele já estava sabendo? Como o tempo mostrou, o suficiente para conceder exclusivas e autorizar a presença de seus ministros no canal.
Foi na CNN que Pazuello lançou o plano nacional de vacinação, confeccionado a toque de caixa devido à pressão do Congresso e da sociedade. A longa entrevista foi uma patacoada cheia de generalidades e promessas que não se cumpriram, mas mostrou o prestígio de que goza o canal até hoje no Planalto.
Despertando ora o amor, ora o ódio das redes sociais, a preferência pelo canal oscila mais que gangorra entre a boiada de apoiadores do presidente. Se elogia Bolsonaro, é chamado de isento e responsável; em episódios como o da entrevista de Regina Duarte recém-empossada na Secretaria de Cultura, ganha a pecha de comunista.
Fora o exagero, a percepção não é errada. Em seu primeiro ano de existência, o canal de fato vem se alternando entre rezar para Deus e acender uma vela para o diabo, em um eterno movimento de morde-assopra ou aparente dupla personalidade. Se demitiu justamente Leandro Narloch devido a comentário homofóbico, por outro lado continua sendo a mesma empresa que contratou William Waack e mantém Alexandre Garcia em seu cast de comentaristas.
O elenco de jornalistas foi selecionado por Tavolaro a partir do momento em que se desligou das funções na Record para montar a versão brasileira da grife CNN. Completamente dedicado à nova casa, causou muita surpresa o anúncio de que bateria asas, em março passado.
Vendeu suas ações para o até então sócio majoritário do canal, o dono da RMV Rubens Menin – que fez uma contraproposta irrecusável ao seu desejo de ser o acionário único. Ainda que milionário, o ex-vice de jornalismo de Edir ‘nada a perder’ Macedo, não teria bala na agulha para arrematar sozinho a parte do bilionário Menin. Especula-se até hoje quem poderia realmente estar por trás da oferta (um certo bispo evangélico, talvez?).
Que o conservadorismo está no DNA da CNN, é inegável, porém, novos ares estão soprando na redação da Avenida Paulista – já visíveis na programação. Não podemos ainda identificar se isso é causa ou consequência da debandada de Tavolaro, mas até mesmo a escolha da nova CEO, Renata Afonso, aponta para profundas mudanças.
Ex-diretora geral da TV TEM (pool de emissoras afiliadas da Globo que cobre quase metade do interior paulista), Afonso começou a carreira na antiga MTV, produzindo o Barraco MTV de Astrid Fontenelle. Segundo o currículo postado por ela mesma no Linkedin, acumula também passagens por Band (H), Rede TV! (Late show) e HBO.
A contratação da executiva entrega pelo menos duas pistas sobre a visão que Menin tem para o cargo. Ao fugir de medalhões do jornalismo nacional, o empresário buscou um nome que não demandasse salário exorbitante e com quem poderia lidar sem estrelismos. Além disso, a recusa em promover profissionais que já incorporam a folha de pagamento do canal, mostra o desejo de um fresh start, com alguém que não tenha sido alistado pelo antigo sócio.
O grande desafio da nova CEO será equilibrar a balança, desconstruindo a fama de chapabranquismo e parcialidade do canal. Apenas uma linha editorial clara e coerente pode salvar a CNN Brasil da esquizofrenia. (por Alexis Parrot)
VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!