A bipolaridade da CNN

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Falta ao canal uma linha editorial clara

Há muitas coisas que venho aprendendo ao longo dos anos. Por trás de todo veículo de comunicação há interesses econômicos e políticos e escamoteá-los em nome de uma pretensa isenção é enganar o público. Como Mino diria, até o reino mineral sabe que Globo, Folha e Estadão sempre foram anti-Lula e anti-PT, assim como Record e Rede TV! apoiam Bolsonaro sem qualquer cerimônia e Silvio Santos irá se derreter para qualquer um que seja eleito.

Ainda assim, a Carta Capital é a única no país a endossar candidaturas à presidência, seguindo a tradição dos grandes jornais dos Estados Unidos. É importante dizer que o hábito nunca interferiu no viés crítico da revista ou determinou a subserviência aos candidatos escolhidos. Sem cartas escondidas na manga, vence a ética e a responsabilidade.  

Tendo isso tudo em mente, quando Douglas Tavolaro afirmou em janeiro de 2019 que a CNN Brasil não seria nem de esquerda e nem de direita, já fui botando minhas barbas de molho. Ao negar qualquer posicionamento político, o fundador e ex-CEO estava na verdade escondendo o jogo, como de resto é o hábito do grosso de nossa imprensa.

O sinal vermelho acendeu mesmo foi durante uma das famigeradas lives semanais de Bolsonaro. Antes mesmo do primeiro dia no ar, o capitão elogiou a iniciativa e disse “pelo que estou sabendo vai ser uma rede de televisão diferente aí da Globo”. O que será que ele já estava sabendo? Como o tempo mostrou, o suficiente para conceder exclusivas e autorizar a presença de seus ministros no canal.

Foi na CNN que Pazuello lançou o plano nacional de vacinação, confeccionado a toque de caixa devido à pressão do Congresso e da sociedade. A longa entrevista foi uma patacoada cheia de generalidades e promessas que não se cumpriram, mas mostrou o prestígio de que goza o canal até hoje no Planalto.

Despertando ora o amor, ora o ódio das redes sociais, a preferência pelo canal oscila mais que gangorra entre a boiada de apoiadores do presidente. Se elogia Bolsonaro, é chamado de isento e responsável; em episódios como o da entrevista de Regina Duarte recém-empossada na Secretaria de Cultura, ganha a pecha de comunista.

Fora o exagero, a percepção não é errada. Em seu primeiro ano de existência, o canal de fato vem se alternando entre rezar para Deus e acender uma vela para o diabo, em um eterno movimento de morde-assopra ou aparente dupla personalidade. Se demitiu justamente Leandro Narloch devido a comentário homofóbico, por outro lado continua sendo a mesma empresa que contratou William Waack e mantém Alexandre Garcia em seu cast de comentaristas.

O elenco de jornalistas foi selecionado por Tavolaro a partir do momento em que se desligou das funções na Record para montar a versão brasileira da grife CNN. Completamente dedicado à nova casa, causou muita surpresa o anúncio de que bateria asas, em março passado.

Vendeu suas ações para o até então sócio majoritário do canal, o dono da RMV Rubens Menin – que fez uma contraproposta irrecusável ao seu desejo de ser o acionário único. Ainda que milionário, o ex-vice de jornalismo de Edir ‘nada a perder’ Macedo, não teria bala na agulha para arrematar sozinho a parte do bilionário Menin. Especula-se até hoje quem poderia realmente estar por trás da oferta (um certo bispo evangélico, talvez?).  

Que o conservadorismo está no DNA da CNN, é inegável, porém, novos ares estão soprando na redação da Avenida Paulista – já visíveis na programação. Não podemos ainda identificar se isso é causa ou consequência da debandada de Tavolaro, mas até mesmo a escolha da nova CEO, Renata Afonso, aponta para profundas mudanças.    

Renata Afonso atuou como executiva na TV TEM, afiliada da Rede Globo no interior de SP

Renata Afonso atuou como executiva na TV TEM, afiliada da Rede Globo no interior de SP ( Divulgação)

Ex-diretora geral da TV TEM (pool de emissoras afiliadas da Globo que cobre quase metade do interior paulista), Afonso começou a carreira na antiga MTV, produzindo o Barraco MTV de Astrid Fontenelle. Segundo o currículo postado por ela mesma no Linkedin, acumula também passagens por Band (H), Rede TV! (Late show) e HBO.

A contratação da executiva entrega pelo menos duas pistas sobre a visão que Menin tem para o cargo. Ao fugir de medalhões do jornalismo nacional, o empresário buscou um nome que não demandasse salário exorbitante e com quem poderia lidar sem estrelismos. Além disso, a recusa em promover profissionais que já incorporam a folha de pagamento do canal, mostra o desejo de um fresh start, com alguém que não tenha sido alistado pelo antigo sócio.      

O grande desafio da nova CEO será equilibrar a balança, desconstruindo a fama de chapabranquismo e parcialidade do canal. Apenas uma linha editorial clara e coerente pode salvar a CNN Brasil da esquizofrenia. 

Há muitas coisas que venho aprendendo ao longo dos anos com Mino Carta, timoneiro-mor da revista Carta Capital e nome histórico da imprensa brasileira. Além do salutar hábito de consultar os próprios botões antes de emitir alguma opinião por impulso, foi o célebre jornalista quem primeiro me chamou a atenção para a importância da transparência ideológica da mídia.

Por trás de todo veículo de comunicação há interesses econômicos e políticos e escamoteá-los em nome de uma pretensa isenção é enganar o público. Como Mino diria, até o reino mineral sabe que Globo, Folha e Estadão sempre foram anti-Lula e anti-PT, assim como Record e Rede TV! apoiam Bolsonaro sem qualquer cerimônia e Silvio Santos irá se derreter para qualquer um que seja eleito.

Ainda assim, a Carta Capital é a única no país a endossar candidaturas à presidência, seguindo a tradição dos grandes jornais dos Estados Unidos. É importante dizer que o hábito nunca interferiu no viés crítico da revista ou determinou a subserviência aos candidatos escolhidos. Sem cartas escondidas na manga, vence a ética e a responsabilidade.  

Tendo isso tudo em mente, quando Douglas Tavolaro afirmou em janeiro de 2019 que a CNN Brasil não seria nem de esquerda e nem de direita, já fui botando minhas barbas de molho. Ao negar qualquer posicionamento político, o fundador e ex-CEO estava na verdade escondendo o jogo, como de resto é o hábito do grosso de nossa imprensa.

O sinal vermelho acendeu mesmo foi durante uma das famigeradas lives semanais de Bolsonaro. Antes mesmo do primeiro dia no ar, o capitão elogiou a iniciativa e disse “pelo que estou sabendo vai ser uma rede de televisão diferente aí da Globo”. O que será que ele já estava sabendo? Como o tempo mostrou, o suficiente para conceder exclusivas e autorizar a presença de seus ministros no canal.

Foi na CNN que Pazuello lançou o plano nacional de vacinação, confeccionado a toque de caixa devido à pressão do Congresso e da sociedade. A longa entrevista foi uma patacoada cheia de generalidades e promessas que não se cumpriram, mas mostrou o prestígio de que goza o canal até hoje no Planalto.

Despertando ora o amor, ora o ódio das redes sociais, a preferência pelo canal oscila mais que gangorra entre a boiada de apoiadores do presidente. Se elogia Bolsonaro, é chamado de isento e responsável; em episódios como o da entrevista de Regina Duarte recém-empossada na Secretaria de Cultura, ganha a pecha de comunista.

Fora o exagero, a percepção não é errada. Em seu primeiro ano de existência, o canal de fato vem se alternando entre rezar para Deus e acender uma vela para o diabo, em um eterno movimento de morde-assopra ou aparente dupla personalidade. Se demitiu justamente Leandro Narloch devido a comentário homofóbico, por outro lado continua sendo a mesma empresa que contratou William Waack e mantém Alexandre Garcia em seu cast de comentaristas.

O elenco de jornalistas foi selecionado por Tavolaro a partir do momento em que se desligou das funções na Record para montar a versão brasileira da grife CNN. Completamente dedicado à nova casa, causou muita surpresa o anúncio de que bateria asas, em março passado.

Vendeu suas ações para o até então sócio majoritário do canal, o dono da RMV Rubens Menin – que fez uma contraproposta irrecusável ao seu desejo de ser o acionário único. Ainda que milionário, o ex-vice de jornalismo de Edir ‘nada a perder’ Macedo, não teria bala na agulha para arrematar sozinho a parte do bilionário Menin. Especula-se até hoje quem poderia realmente estar por trás da oferta (um certo bispo evangélico, talvez?).  

Que o conservadorismo está no DNA da CNN, é inegável, porém, novos ares estão soprando na redação da Avenida Paulista – já visíveis na programação. Não podemos ainda identificar se isso é causa ou consequência da debandada de Tavolaro, mas até mesmo a escolha da nova CEO, Renata Afonso, aponta para profundas mudanças.    

Ex-diretora geral da TV TEM (pool de emissoras afiliadas da Globo que cobre quase metade do interior paulista), Afonso começou a carreira na antiga MTV, produzindo o Barraco MTV de Astrid Fontenelle. Segundo o currículo postado por ela mesma no Linkedin, acumula também passagens por Band (H), Rede TV! (Late show) e HBO.

A contratação da executiva entrega pelo menos duas pistas sobre a visão que Menin tem para o cargo. Ao fugir de medalhões do jornalismo nacional, o empresário buscou um nome que não demandasse salário exorbitante e com quem poderia lidar sem estrelismos. Além disso, a recusa em promover profissionais que já incorporam a folha de pagamento do canal, mostra o desejo de um fresh start, com alguém que não tenha sido alistado pelo antigo sócio.      

O grande desafio da nova CEO será equilibrar a balança, desconstruindo a fama de chapabranquismo e parcialidade do canal. Apenas uma linha editorial clara e coerente pode salvar a CNN Brasil da esquizofrenia. (por Alexis Parrot)

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