Austrália & Brasil: diferenças no ensino superior

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.

A Austrália é, sem dúvidas, sinônimo de sucesso quando o assunto é ensino superior. Com 25 milhões de habitantes e 40 universidades públicas, o país tem, a depender do ranking, pelo menos 6 instituições entre as 100 melhores universidades do mundo. Com 210 milhões de habitantes, e 108 universidades públicas, a situação no Brasil é bem diferente: não temos nenhuma entre as 100 melhores do mundo, em nenhum ranking. O que explica resultados tão distintos?

A justificativa vai além do nível sócio-econômico do país. A Austrália se destaca mesmo entre países mais ricos. Alemanha, França e Canadá têm, em média, 3 universidades entre as 100 melhores cada um. Por outro lado, países de renda média como México e Argentina apresentam resultados melhores do que o Brasil.

Observando o sistema australiano, as diferenças com o brasileiro ficam claras. Trata-se, afinal, de um modelo que valoriza e incentiva a aproximação do ensino superior com o setor produtivo, dá flexibilidade aos currículos e traz mecanismos inteligentes de financiamento.

Na Austrália, a regra é aproximar o ensino superior do mundo real. O setor produtivo financia mais da metade dos investimentos em pesquisa nas universidades e é ouvido na gestão das políticas educacionais. Assim, as universidades tornam-se menos cartoriais e mais inovativas. No Brasil, o setor produtivo muitas vezes é visto como inimigo, e seus investimentos relegados pelas universidades públicas, que são quase integralmente financiadas pelo orçamento público.

Os currículos, por sua vez, não se resumem a um conjunto de disciplinas com um grande volume de conteúdo. Exigem do estudante a participação em projetos de impacto econômico e social. No lugar do TCC, muitos cursos cobram a realização de estágios. Atividades curriculares, programas de iniciação científica e programas de pós-graduação estão conectados às necessidades do mercado de trabalho. Tudo isso permite aos estudantes desenvolverem habilidades úteis na geração de valor para a sociedade e, consequentemente, para si mesmos.

Mas acredito que uma das principais diferenças em relação ao Brasil está nos mecanismos de financiamento. Enquanto, por aqui, todos (incluindo os mais pobres) pagam para que poucos (em geral, mais ricos) possam estudar “gratuitamente” em universidades públicas, na Austrália, todos devem pagar sua faculdade, seja ela pública ou privada. Porém, todos têm acesso ao financiamento estudantil, o que torna o ensino superior acessível a todas as classes sociais. O ressarcimento é feito só quando o estudante começa a trabalhar, e somente após atingir uma determinada renda. 

Se quisermos tornar nosso ensino superior mais efetivo, justo, sustentável e conectado com o mundo do trabalho, temos que nos livrar de preconceitos e abraçar novas ideias,  especialmente aquelas já testadas em outros países. Aprender com as experiências de sucesso é fundamental se quisermos promover uma educação de qualidade e um universo de oportunidades para todos os brasileiros.

VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!

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