Fatal Model é alvo de críticas por taxas e práticas abusivas no mercado de sexo

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Plataforma de acompanhantes lucra milhões, mas é acusada de explorar trabalhadoras

REPÓRTER BRASIL – Nos últimos anos, a Fatal Model se consolidou como uma das maiores plataformas de anúncios de acompanhantes no Brasil, atraindo clientes e profissionais do sexo em busca de experiências eróticas pagas. No entanto, apesar de apresentar números expressivos – como 3 milhões de usuários e 50 mil anunciantes ativos – a plataforma vem sendo alvo de críticas severas por parte de acompanhantes que denunciam cobranças excessivas e um ambiente que incentiva a precarização do trabalho.

Profissionais ouvidos pela reportagem afirmam que, embora a plataforma seja promovida como um espaço seguro e empoderador, a realidade é bem diferente. Aparentemente, o sucesso financeiro da empresa, que faturou R$ 70 milhões em 2023, vem à custa de altas taxas cobradas dos próprios anunciantes. Entre as reclamações mais recorrentes, estão valores elevados para impulsionamento de anúncios, taxas para ajustes de perfil e um mercado cada vez mais pressionado por barganhas, que forçam profissionais a aceitarem valores muito abaixo de suas tarifas.

A cobrança por visibilidade e alterações de perfil

A plataforma oferece planos pagos que prometem maior visibilidade nos resultados de busca, mas, segundo profissionais como Artemis, que migrou para o site em 2022, essa promessa nem sempre é cumprida. Após pagar cerca de R$ 400 por mês para garantir uma posição de destaque, Artemis diz ter notado que o valor gasto não necessariamente se traduzia em um maior número de clientes. “Você paga caro para aparecer entre os primeiros, mas o retorno não é garantido”, critica.

Além disso, há cobranças adicionais para ajustes simples no perfil, como mudança de nome ou local de atendimento. Quando precisa alterar sua cidade de atuação devido a viagens, Artemis afirma que desembolsa R$ 120 por cada mudança. Esse custo extra, segundo ela, nem sempre é coberto pelo aumento na demanda.

Em resposta, a Fatal Model justifica essas taxas como medidas de segurança para prevenir fraudes e concorrência desleal entre anunciantes. A empresa alega que perfis que mudam frequentemente de nome ou local são utilizados para aplicar golpes, mas profissionais veem essa política como mais uma forma de exploração financeira.

Ambiente competitivo incentiva a barganha

Outra crítica frequente é a pressão para baixar os preços. Profissionais relatam que a plataforma não apenas permite, mas também acaba estimulando um comportamento agressivo por parte de clientes que tentam negociar valores muito abaixo do justo. Bárbara, uma acompanhante que migrou das plataformas de camming para a Fatal Model, conta que seus serviços, antes cobrados a R$ 40 por 10 minutos de atendimento online, agora são alvo de ofertas que chegam a R$ 20 por esse mesmo período.

“Clientes se sentem no direito de negociar qualquer valor, mesmo quando isso desrespeita o trabalho da profissional”, afirma Bárbara. Ela critica a falta de uma postura mais firme da plataforma em educar seus usuários sobre os valores estabelecidos pelas acompanhantes.

Em nota, a Fatal Model afirmou que não interfere nas negociações entre clientes e profissionais, que ocorrem diretamente por WhatsApp. A empresa alega ainda que promove campanhas para conscientizar seus usuários a respeitarem os valores estabelecidos, embora muitas trabalhadoras discordem da eficácia dessas ações.

Precarização e ausência de regulação legal

Pesquisadoras de universidades brasileiras alertam para os impactos negativos da plataformização do trabalho sexual. Para Lorena Caminhas, da Unicamp, e Carolina Bonomi, da USP, a ausência de regulamentação clara faz com que plataformas como a Fatal Model tenham carta branca para impor seus termos de uso, o que pode levar à precarização do trabalho das acompanhantes.

“Elas estão em um mercado historicamente marginalizado, onde a falta de regulamentação coloca o poder nas mãos da plataforma”, explica Lorena. Para essas pesquisadoras, o mercado de sexo online assemelha-se a outras plataformas digitais, como Uber, mas sem a proteção mínima que regulamentações poderiam oferecer.

Expansão internacional em meio a controvérsias

Mesmo diante das críticas, a Fatal Model planeja expandir seus negócios para mercados internacionais, como Alemanha, México e Reino Unido, com o objetivo de triplicar seu faturamento até 2025. Apesar dos planos ambiciosos, a plataforma continua enfrentando denúncias de seus próprios anunciantes no Brasil, que dependem dela para garantir parte significativa de suas rendas.

No início de 2024, o Instituto Conhecimento Liberta encaminhou uma denúncia à Procuradoria Geral da República, alegando que a publicidade da Fatal Model em horários de grande audiência na TV aberta viola o Estatuto da Criança e do Adolescente. A empresa, no entanto, nega qualquer ilegalidade.

Para muitos profissionais, deixar a plataforma não é uma opção viável, uma vez que ela se tornou o principal canal de obtenção de clientes. “Sem a Fatal Model, eu perderia mais da metade da minha renda”, desabafa Artemis, refletindo a dependência crescente que essas trabalhadoras têm da plataforma, mesmo diante das críticas.

O caso da Fatal Model expõe um problema mais amplo: a ausência de regulamentação e proteção para trabalhadores do sexo que atuam em plataformas digitais. Sem uma legislação clara que regule o setor, esses profissionais continuam vulneráveis às políticas determinadas unilateralmente por empresas que visam o lucro acima de tudo.


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