Iniciativa no Bundestag acusa o partido AfD de representar uma ameaça à democracia e à ordem constitucional do país
Uma proposta apresentada por 113 deputados do Bundestag, de diversos partidos, pede a proibição do Alternative für Deutschland (AfD), um dos principais partidos de oposição na Alemanha, com mais de 80 cadeiras no parlamento. A iniciativa alega que a postura do AfD vai contra os princípios fundamentais da democracia e que o partido representa um perigo para o Estado.
Fundado em 2013 como um partido eurocético, o AfD ganhou notoriedade por suas declarações contra a imigração, especialmente durante a crise de refugiados de 2015. Nos últimos anos, seus membros, tanto antigos quanto atuais, se envolveram em diversas polêmicas, principalmente relacionadas à postura do partido em relação ao passado nazista da Alemanha.
Com o início do conflito entre Moscou e Kiev, o AfD passou a criticar o apoio da Alemanha à Ucrânia e defendeu a retomada das relações econômicas com a Rússia, que haviam sido severamente afetadas pelas sanções impostas a Moscou.
O co-presidente do AfD, Tino Chrupalla, foi um dos principais opositores do apoio contínuo da Alemanha à Ucrânia e defendeu a volta do gás natural russo para aliviar a economia alemã. Apesar de sua crescente base de apoio, especialmente nos estados do leste da Alemanha, o AfD tem sido amplamente isolado pelos demais partidos, que o acusam de estar vinculado a grupos extremistas de direita e se recusam a formar coalizões com ele.
A proposta de proibição do AfD foi liderada por Marco Wanderwitz, deputado da União Democrata Cristã (CDU), que afirmou que o partido representa uma ameaça à democracia do país. O movimento foi endossado em sua maioria pelos Verdes, por membros do Partido Social-Democrata de Scholz e também por deputados do Partido de Esquerda. No entanto, apenas um número reduzido de membros da CDU aderiu à iniciativa.
A acusação central contra o AfD é de que o partido questiona a dignidade dos migrantes e da comunidade LGBTQ+ e minimiza os crimes do regime nazista. A deputada do Partido de Esquerda, Martina Renner, chamou abertamente o AfD de “partido nazista” e afirmou que muitos parlamentares sentem ser sua responsabilidade proteger a democracia do perigo representado pela legenda.
Embora o AfD não tenha se pronunciado sobre o movimento até o momento, o Serviço de Segurança Interna da Alemanha (BfV) está avaliando a possibilidade de classificar o partido como uma organização de extrema-direita comprovada. O BfV já havia declarado o AfD como um grupo “suspeito” de extremismo em 2021, e alguns de seus ramos regionais foram classificados como extremistas em três estados alemães, incluindo Saxônia.
A proposta de proibição precisa de uma maioria simples no Bundestag para que o Tribunal Constitucional inicie um processo contra o AfD – um primeiro passo para a possível banimento do partido. Contudo, a iniciativa enfrenta resistência, principalmente da CDU, que possui a maior bancada de oposição no parlamento, assim como dos Democratas Livres e da Aliança de Sahra Wagenknecht.