Movimentos sociais contestam ação policial que resultou na morte de dois trabalhadores sem terra na Fazenda Mutamba
Transferência e acusações contra delegado
REPÓRTER BRASIL – O delegado Antônio Mororó Júnior foi transferido da Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (Deca) de Marabá, sudeste do Pará, após comandar uma operação policial na Fazenda Mutamba que terminou com dois trabalhadores sem terra mortos e denúncias de tortura contra outros detidos. A transferência foi oficializada no dia 13 de novembro, pouco mais de um mês após a operação realizada em 11 de outubro.
Segundo a Polícia Civil do Pará, a ação visava cumprir mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão, alegando que o grupo investigado praticava crimes como porte ilegal de armas, extração de madeira e incêndios criminosos. Porém, movimentos sociais, como o MST e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), contestam a versão oficial, apontando para indícios de execuções sumárias e agressões graves.
Contestação de movimentos sociais e relatos de tortura
Movimentos sociais denunciaram que os trabalhadores mortos, Adão Rodrigues de Souza e Édson Silva e Silva, foram surpreendidos enquanto dormiam, sendo alvejados sem chance de defesa. Segundo relatos colhidos, os presos foram levados próximos aos corpos das vítimas e agredidos por horas.
A Defensoria Pública relatou à Justiça depoimentos que apontam para truculência policial. Exames médicos foram solicitados para comprovar hematomas, ferimentos e marcas de agressões em um dos detidos. Além disso, o Ministério Público Federal pediu perícias e exames residuográficos para investigar se houve resistência armada por parte das vítimas.
Apesar das alegações de um “grupo armado” na fazenda, a polícia apreendeu apenas sete espingardas antigas. Nenhum policial ficou ferido na operação.
Histórico de violência agrária na região
A Fazenda Mutamba está localizada em uma das áreas mais conflituosas do Brasil, historicamente marcada por disputas de terra e violência. A propriedade pertence à família Mutran, que acumula acusações de trabalho escravo e conflitos fundiários em outras terras. Em 2002, 25 trabalhadores foram resgatados em condições análogas à escravidão na fazenda.
O local é ocupado por três grupos de trabalhadores sem vínculo com grandes movimentos, como o MST. Atualmente, o Incra avalia duas possibilidades: negociar a compra da fazenda com os proprietários ou iniciar um processo de desapropriação com base na legislação vigente.
Repercussões e próximos passos
A transferência do delegado Antônio Mororó para a 21ª Seccional Urbana de Marabá foi assinada pelo diretor de Polícia do Interior, Hennison José Jacob Azevedo. O novo titular da Deca, delegado Vannir Fernandes, terá o desafio de conduzir investigações em uma região com histórico de massacres emblemáticos, como o de Eldorado dos Carajás (1996) e Pau D’Arco (2017).
A Defensoria Pública e movimentos sociais pedem que o caso da Fazenda Mutamba seja tratado com transparência, ressaltando a importância de garantir justiça em um contexto onde a violência agrária continua sendo uma grave questão no Pará.