Negociações climáticas mostram divisão entre países desenvolvidos e em desenvolvimento
A cúpula global da ONU sobre mudanças climáticas, realizada em Baku, Azerbaijão, revelou profundas divisões entre o Sul Global e os países desenvolvidos. A Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG), um acordo financeiro que promete US$ 300 bilhões anuais para os países em desenvolvimento até 2035, foi alvo de críticas por estar muito aquém da necessidade estimada de US$ 1,3 trilhão anuais. Nações como Índia, Nigéria e Bolívia demonstraram insatisfação com o resultado, enquanto especialistas alertam que as nações ricas continuam a evitar responsabilidades históricas.
Índia emerge como líder do Sul Global
Apesar de o acordo ter sido aprovado, a delegação indiana expressou oposição clara. Chandni Raina, negociadora do governo indiano, chamou o processo de “encenado” e criticou a ausência de transparência na aprovação. “Estamos extremamente decepcionados”, afirmou Raina, sendo apoiada por outros países em desenvolvimento, como Malawi e Bolívia.
Especialistas elogiaram a postura da Índia como uma liderança emergente no Sul Global. O ex-embaixador Manjeev Singh Puri destacou que a Índia apontou corretamente as falhas no processo. “A promessa de US$ 100 bilhões anuais, feita em 2009, mal foi cumprida. Agora, em um momento de crise climática, a expectativa era de um aumento significativo no financiamento, o que não aconteceu”, afirmou.
Ocidente sob críticas por evitar responsabilidades
As nações desenvolvidas foram duramente criticadas por escapar facilmente da responsabilidade histórica por suas emissões. Sehr Raheja, do Centro de Ciência e Meio Ambiente, classificou o resultado como “uma oportunidade perdida”. “A falta de subobjetivos claros e a longa duração do cronograma enfraqueceram o acordo. Parece mais uma conveniência política do que uma ação transformadora”, explicou.
A pesquisadora Aparna Roy, da Observer Research Foundation, ressaltou que as nações mais ricas continuam evitando ações reais. “É inaceitável que façam discursos de solidariedade enquanto se esquivam de uma transformação efetiva”, declarou.
Impactos para o Sul Global
Para o Sul Global, a COP29 foi um lembrete da desigualdade nos esforços climáticos globais. Muitos países em desenvolvimento são pressionados a acelerar a transição energética, mesmo com recursos limitados e o custo potencial de comprometer o crescimento econômico.
A Índia, por exemplo, destacou avanços em energia renovável, com a meta de alcançar 500 gigawatts de capacidade não fóssil até 2030. Entretanto, líderes indianos reiteraram a importância de garantir segurança energética para uma população de 1,4 bilhão de pessoas.
Roy apontou que o Sul Global precisa de uma “estratégia multifacetada”, incluindo o fortalecimento da infraestrutura doméstica resiliente ao clima e a ampliação da cooperação Sul-Sul. “Devemos também exigir reformas nas instituições financeiras internacionais para atender às necessidades de países vulneráveis”, afirmou.
A COP29 deixou claro que, embora alguns avanços tenham sido feitos, o mundo ainda está longe de alcançar uma transição climática justa e equitativa. A frustração das nações em desenvolvimento destaca a necessidade de uma maior responsabilização das nações desenvolvidas e um financiamento mais robusto para combater os impactos devastadores das mudanças climáticas.
Enquanto o Ocidente faz promessas climáticas de plástico, o Sul Global segue pagando a conta de um planeta superaquecido.