Dívida pública e juros: os desafios econômicos do Brasil

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Guido Mantega critica o atual cenário fiscal e a influência do setor financeiro nas decisões econômicas do Brasil.

A alta dos juros e o crescimento da dívida pública

Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BNDES, Guido Mantega, fez um alerta sobre os impactos negativos da elevada taxa de juros sobre a dívida pública brasileira. Segundo Mantega, o Brasil vive uma situação fiscal preocupante, com a dívida pública crescendo de forma exponencial, já superando 78% do Produto Interno Bruto (PIB). Ele afirmou que esse cenário é diretamente causado pela alta taxa de juros, que, ao contrário de outros países, tem um peso desproporcional sobre as finanças públicas do Brasil.

O impacto da taxa de juros na dívida pública

De acordo com Mantega, cerca de 70% da dívida pública brasileira é composta por juros. Ele fez uma comparação alarmante com outros países, como o Japão, que possui uma dívida pública muito maior, equivalente a 240% do seu PIB, mas consegue administrá-la com taxa de juros zero. No Brasil, no entanto, a elevação da taxa de juros gera um efeito devastador: a cada aumento de 1% nos juros, a dívida sobe em R$ 30 bilhões. Para Mantega, esse aumento exponencial da dívida se tornou um dos maiores desafios fiscais do país.

A crítica é direcionada à política fiscal brasileira, que, embora rígida, é prejudicada pela alta carga de juros. Mantega apontou que o maior problema atualmente não é o déficit primário, mas sim a despesa financeira, que já consome cerca de R$ 700 bilhões ao ano. Isso é três vezes maior do que o déficit da Previdência, que está na casa dos R$ 300 bilhões.

A comparação internacional: Brasil versus outros países

Mantega não poupou críticas ao sistema financeiro brasileiro e à forma como a política monetária é conduzida no país. Ele comparou o Brasil com economias como os Estados Unidos, onde o Federal Reserve leva em consideração não apenas a inflação, mas também o desemprego ao definir a taxa de juros. Recentemente, o Fed reduziu os juros para ajudar a conter a alta no desemprego. No Brasil, entretanto, a política monetária segue uma lógica inversa, onde as altas taxas de juros asfixiam a economia e alimentam um círculo vicioso de recessão e aumento da dívida.

Além disso, Mantega criticou a forte presença do setor financeiro nas decisões econômicas do Brasil, destacando que, durante a discussão sobre o novo arcabouço fiscal, representantes desse setor exerceram forte influência sobre as decisões, o que, para ele, compromete o interesse público.

O papel do Banco Central e a expectativa com Galípolo

Mantega também comentou sobre a gestão do Banco Central e as expectativas em relação ao novo presidente da instituição, Gabriel Galípolo. Embora mostre otimismo em relação a Galípolo, Mantega alertou para as limitações impostas pela composição atual do Comitê de Política Monetária (Copom), com o atual presidente, Roberto Campos Neto, detendo a maioria das cadeiras. Para Mantega, Galípolo deverá adotar uma postura técnica e buscar alternativas para estabilizar o câmbio, como o uso de swaps cambiais.

O câmbio desvalorizado e suas consequências

Por fim, Mantega também abordou o impacto da desvalorização do câmbio sobre a economia brasileira. Ele ressaltou que o câmbio desvalorizado agrava a situação fiscal, especialmente ao elevar o custo da dívida externa, que é mais sensível às flutuações da moeda. O enfraquecimento do real também torna as importações mais caras, o que pode gerar inflação e comprometer ainda mais o poder de compra da população.

A necessidade de mudanças estruturais

Para Guido Mantega, a atual trajetória fiscal do Brasil é insustentável a longo prazo, e a principal causa dessa crise é a alta taxa de juros, que não apenas amplia a dívida pública, mas também prejudica o crescimento econômico. Ele defende uma revisão urgente da política monetária do país, com a adoção de medidas que possibilitem a redução dos juros sem comprometer o controle da inflação. Caso contrário, o Brasil pode continuar preso a um ciclo de altos juros, inflação e estagnação econômica. Com juros nas alturas, a dívida pública brasileira só cresce —  o Brasil está pagando juros sobre juros.

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