Militares indiciados apontam general Freire Gomes como golpista-mor

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 Freire Gomes e os militares indiciados no centro da crise na tentativa de golpe no Brasil

Em meio à turbulência política que marcou a transição do governo Bolsonaro para o de Luiz Inácio Lula da Silva, um grupo de militares indiciados pela Polícia Federal no inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado articula uma ofensiva para apontar o ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, como responsável por falhas cruciais durante o período pós-eleitoral. As acusações de omissão e prevaricação ganham força, levantando questões sobre a postura dos militares diante de ações golpistas e o papel de Gomes em um episódio central da história política recente do Brasil. Esta articulação revela a divisão interna nas Forças Armadas e coloca em xeque as decisões tomadas em momentos decisivos para a democracia nacional.

A resistência de Freire Gomes e o contexto de crise
O nome do general Freire Gomes surgiu nas investigações como um dos principais personagens de uma resistência interna dentro das Forças Armadas ao projeto de um possível golpe de Estado idealizado por Jair Bolsonaro. Segundo as apurações, Gomes foi um dos comandantes das Forças Armadas que se recusaram a assinar o decreto que instauraria um estado de defesa no Brasil, uma medida que visava limitar direitos e poderia ser vista como um precursor do golpe. Em uma reunião com Bolsonaro, o general teria chegado a ameaçar prender o então presidente caso insistisse na ideia.

No entanto, a versão de Gomes sobre os acontecimentos está sendo contestada por militares indiciados no caso. Entre eles, destaca-se o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, que defende que a situação nunca teria ocorrido como descrita e que as próprias investigações indicam uma postura omissa de Gomes em momentos críticos.

Acusações de omissão e prevaricação
A acusação mais grave contra Freire Gomes é de que ele teria adotado uma postura de “resistência passiva” ao longo das semanas que sucederam a vitória de Lula nas eleições presidenciais. Fontes militares afirmam que, em vez de agir para deter as manifestações golpistas que tomaram conta de diversos estados, o general se omitiu, deixando de advertir os envolvidos e de tomar medidas para conter o movimento. Essa inércia foi interpretada como uma possível prevaricação, crime que se refere ao descumprimento de deveres funcionais por parte de servidores públicos.

Outro ponto que alimenta essa narrativa de omissão é a demora na desmobilização das manifestações de apoiadores de Bolsonaro em frente aos quartéis do Exército. Em vez de intervir para interromper os atos, Freire Gomes teria dado sinais de que as mobilizações eram aceitáveis, o que é reforçado por uma nota conjunta das Forças Armadas, assinada em 11 de novembro de 2022. A nota foi interpretada por alguns como um estímulo à continuidade das manifestações, fato que gerou grande repercussão tanto dentro quanto fora das Forças Armadas.

A controversa atuação de 29 de dezembro
Outro episódio que entrou no radar das investigações ocorreu em 29 de dezembro de 2022, quando o Comandante Militar do Planalto teria tentado retirar os manifestantes bolsonaristas acampados em frente ao Quartel-General em Brasília. Segundo relatos, Freire Gomes teria impedido a ação, o que gerou um impasse no comando das Forças Armadas. Essa decisão, ou falta dela, é vista como uma das atitudes mais controversas em meio ao clima de tensão que envolvia a transição de governo e que ajudou a acirrar a crise política no Brasil.

O embate de versões e a tensão nas Forças Armadas
As investigações continuam em curso, mas as acusações e articulações nos bastidores revelam uma crescente divisão nas Forças Armadas. O confronto de versões sobre o papel do general Freire Gomes coloca em xeque a confiança e a unidade dentro da instituição, especialmente em um momento de transição de poder no Brasil. Enquanto alguns militares buscam transferir responsabilidades, outros alegam que a omissão de Freire Gomes pode ter sido um fator determinante na falha em impedir a tentativa de golpe.

A situação revela não apenas a fragilidade política da época, mas também a complexidade das decisões tomadas dentro das Forças Armadas, que enfrentaram uma pressão sem precedentes. O desfecho desse imbróglio pode ter repercussões não só para as figuras diretamente envolvidas, mas para a própria imagem das Forças Armadas no Brasil.

O caso envolvendo o general Freire Gomes e os militares indiciados na tentativa de golpe de Estado representa um capítulo importante na história recente do Brasil, marcado por incertezas e disputas internas nas Forças Armadas. As acusações de omissão e prevaricação, embora ainda sob investigação, trazem à tona a complexidade das escolhas feitas durante um período de grande instabilidade política. À medida que o país busca entender os responsáveis por tais falhas, o episódio evidencia a necessidade de reflexão sobre o papel das instituições militares no fortalecimento da democracia brasileira.

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