Dimas Covas diz que interferência de Bolsonaro afetou aquisição da Coronavac

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Diretor do Instituto Butantan ainda que houve tratamento desigual pelo governo nas relações com o instituto ligado ao governo de São Paulo e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)

Durante o seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid nesta quinta-feira (27), o diretor do Instituto Butantan Dimas Covas, reforçou que a interferência do presidente Jair Bolsonaro na aquisição da Coronavac pelo governo provocou prejuízo nas negociações. À CPI, o ex-ministro Eduardo Pazuello afirmou que a posição de Bolsonaro não atrapalhou a compra. Segundo Covas, após o episódio, em outubro de 2020, não houve progresso nas tratativas até janeiro deste ano, quando foi fechado o primeiro contrato com o governo.

Na sessão, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), apresentou vídeos envolvendo o caso, tanto das manifestações de Bolsonaro como do então secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco. Após a fala do presidente, ele declarou que não havia intenção de comprar vacina chinesa, uma referência à Coronavac.

“Só foi contratada seis meses depois da primeira oferta”, ressaltou Covas à CPI. “Então, de fato, questão da vacina não foi bem resolvida pelo país no ano passado. Houve atraso em relação a iniciativa de outros países, mercado global onde a quantidade é pequena e a demanda é enorme”, disse ele.

Covas ainda destacou os efeitos de o governo não ter aceitado a primeira oferta, feita em julho do ano passado. “A não aceitação da primeira oferta significa 60 milhões até dezembro de 2020. A partir daí, essas idas e vindas foram dificultando o cronograma, não os quantitativos, porque o Butantan mantinha seu acordo para os 46 milhões, mas tinha condições de chegar aos 100 milhões de doses que poderiam chegar em maio. Como não houve essas definições, o cronograma passou para setembro porque a demanda por vacinas nesse momento era muito grande”, disse Covas.

O diretor do Butantan comentou que, quando enfim o governo assinou o contrato, teria sido em consequência de outras iniciativas não terem dado certo, como a tentativa de buscar vacina na Índia e dificuldades com o imunizante da Astrazeneca. “Única disponível era a do Butantan”, disse ele.

Covas respondeu também que a interlocução com o Ministério da Saúde sempre foi técnica, e que nunca tratou com o presidente diretamente sobre a compra da vacina. “O fato é que houve mudança, estávamos trabalhando (com área técnica do ministério) conjuntamente até inclusive para caminhar com MP para dar sustentação orçamentária a nossos pleitos, e a partir do dia 20 de outubro isso foi absolutamente interrompido, não houve progresso nessas tratativas”, afirmou ele. “Nunca recebi ofício de fato que intenção de compra feita no dia 19 de outubro não era mais válida, mas depois daquilo não houve mais progresso”, afirmou.

Decepção

Na CPI, o diretor do Instituto Butantan disse estar “decepcionado” com o tratamento que a Instituição teve por parte do governo federal. “Questionar o Butantan significa questionar a saúde pública”, afirmou Dimas Covas.

O relator Renan Calheiros apresentou uma série de vídeos feitos tanto por integrantes do Ministério da Saúde, quanto pelo presidente Jair Bolsonaro, no ano passado, e questionou Covas sobre a eficácia e a segurança da vacina contra Covid-19 produzida pelo Instituto. Para o diretor, a “campanha” feita nas mídias sociais desqualificando a vacina trouxe prejuízos à imagem do instituto.

“Obviamente que quando começou a vacinação, foi a primeira vacina a ser usada, e é a que sustentou o PNI (Programa Nacional de Imunização) até muito recentemente, essa imagem mudou muito. Nós demos a resposta que era esperada do Butantan, nós não saímos do nosso trilho. Se houve dificuldade, foi por parte do Ministério”, completou Covas.

Na avaliação dele, as posições políticas, “de lado a lado” como colocou o relator da CPI, impediram a vacinação de milhões de pessoas em um prazo anterior ao iniciado no país. “Hoje, infelizmente, nós temos a segunda posição no mundo em número de óbitos. Poderia ter sido amenizada, poderia sim. Obviamente que não é o único pilar, existem outros pilares. Mas este é um pilar que poderia ter começado um pouco antes, sem dúvida nenhuma”, declarou.

Acompanhe a sessão

China

O diretor também reafirmou que as declarações contra a China que acontecem no Brasil atrapalham as negociações com o país asiático. “Obviamente isso se reflete nas dificuldades burocráticas, que eram normalmente resolvidas em 15 dias, hoje demoram mais de mês para serem resolvidas”, disse.

Covas, no entanto, avaliou positivamente o trabalho realizado pelo ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França, que assumiu em março deste ano, após a saída do ex-chanceler Ernesto Araújo. Segundo o diretor, França “tem ajudado muito” na interlocução com a China e a farmacêutica chinesa Sinovac.

Tratamento desigual

Dimas Covas disse que houve tratamento desigual pelo governo federal nas relações com o instituto ligado ao governo de São Paulo e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que oferta a vacina da AstraZeneca. A resposta foi dada ao senador governista Marcos Rogério (DEM-RO), que o questionou se, na primeira oferta do Butantan feita ao Ministério da Saúde, havia segurança para o governo comprar a vacina.

“A AstraZeneca foi contrata em agosto, no mesmo patamar (de informações que tinha sobre a Coronavac). Tratamentos ocorreram de forma diferente, pedimos contratação nos mesmos moldes, houve duas formas de entender as vacinas”, afirmou Covas.

Quando uma carta de intenções foi assinada com o Ministério da Saúde no dia 19 de outubro, antes de a negociação paralisar em razão da declaração do presidente Jair Bolsonaro, o Butantan já estava em condições de produção e de receber a vacina, disse o diretor do instituto paulista.

Butanvac

Dimas Covas também afirmou na CPI que o Butantan iniciou conversas preliminares com o governo federal sobre a Butanvac, vacina contra Covid-19 que está sendo desenvolvida pelo instituto em parceria com um consórcio internacional. Uma reunião foi realizada na quarta-feira (26) entre uma diretora do instituto e o Ministério da Saúde.

“Diretora teve ontem uma reunião preliminar com secretário-executivo (do Ministério da Saúde), e já se iniciou uma conversa inicial sobre a possibilidade, mas simplesmente inicial, não houve documentação trocada”, disse ele.

Dose de reforço

Ainda em seu depoimento, Dimas Covas, admitiu a possibilidade de que a vacina contra Covid-19 precise ser aplicada em doses anuais. Segundo ele, “tudo indica” que haverá necessidade do reforço periódico da vacinação.

“Na minha percepção, como cientista, como médico, tudo indica que haverá necessidade de doses anuais, de reforço, como é a da vacina da gripe, dado que essa infecção tem a possibilidade de se tornar endêmica tudo indica que isso vai acontecer. Algumas companhias já estão trabalhando na possibilidade dessa terceira dose, inclusive o Butantan, que desenvolve estudos para ter o reforço vacinal pelo menos uma vez ao ano”, disse Covas nesta quinta-feira.

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