Desigualdade digital: 46 milhões de brasileiros não têm acesso à internet

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Mesmo com o barateamento de aparelhos celulares e diversas facilidades tecnológicas para o acesso à internet, ainda é muito caro estar conectado

Computadores, notebooks, smartphones, tablets, relógios e até geladeiras. Hoje está cada vez mais fácil estar conectado à internet e ao mundo virtual. Mais do que isso, se tornou imprescindível o acesso à rede para trabalhar, estudar e socializar. No entanto, ao mesmo tempo que as possibilidades de acesso se multiplicam, o abismo da desigualdade digital se abre. Enquanto o número de residências conectadas aumenta, quem são aqueles que permanecem desconectados?

Hoje, de acordo com dados da agência We Are Social, 150 milhões de brasileiros têm acesso à internet, ou três em cada quatro pessoas. Isso significa também que temos 70% da população conectada.

Esses números, por mais animadores que sejam, escondem outra realidade. Vamos olhar de outra forma e entender o Brasil desconectado. São 46 milhões de brasileiras sem acesso à internet, segundo a pesquisa TIC Domicílios, realizada pelo Centro Regional de Estudos para Desenvolvimento da Sociedade da Informação, o CETIC.

É importante entender como é feita a medição. Tais pesquisas consideram uma pessoa como usuária de internet se ela acessou a rede ao menos uma vez nos últimos três meses. Esse nível de acesso, podemos concordar, não quer dizer que a pessoa está realmente conectada. A TIC Domicílios revelou que entre aqueles que não acessam a internet, 45% não o fazem por ser muito caro e outros 37% por não possuir um aparelho com conexão à rede. A mesma pesquisa revela que uma em cada cinco pessoas no país só acessa a rede digital emprestando a conexão de um vizinho.

Ou seja, mesmo com o barateamento de aparelhos celulares e diversas facilidades tecnológicas para o acesso à internet, ainda é muito caro estar conectado, seja por conta dos valores altíssimos dos serviços de telefonia no Brasil, seja pela falta de aparelho.

Veja só. O brasileiro gasta, em média, 115 reais ao mês em conexão, o que equivale a cerca de 10% do salário-mínimo, que hoje vale 1.100 reais.

Outro dado é alarmante: não bastando os empecilhos financeiros e materiais para se conectar, a pesquisa mostrou que 72% das pessoas desconectadas, na verdade, são analfabetos digitais, ou seja, não sabem como operar equipamentos de acesso à internet. Tal marco será com certeza muito difícil de superar no atual cenário.

E por que isso importa? Em um mundo conectado, a barreira digital significa também um impedimento de que certas camadas da sociedade se integrem a novas formas de estudo e trabalho. A TIC Domicílio também revelou que apenas 3 em cada 10 pessoas das classes D e E usam a internet para realizar atividades relacionadas a educação.

Assim, os dados otimistas que alardem que temos 70% da população conectada estão, na verdade, escondendo uma realidade dura e difícil de superar. A desigualdade digital atinge as classes mais baixas e afeta sua capacidade de mobilização. É preciso, portanto, pensar em maneiras de integrar os brasileiros à era digital.

O Planeta Azul

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