Sob o signo do populismo

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
O mais urgente agora é frear a sanha bolsonarista, mas sem contribuir para a volta de Lula ao poder

De um lado, a direita bolsonarista; de outro, a esquerda lulista. Sem uma terceira via democrática, esse é o quadro que se desenha para as próximas eleições. Ao antecipar as tendências eleitorais de 2022, institutos de pesquisa contribuem para a polarização, desviando o foco de assuntos que realmente interessam no momento.

Em qualquer lugar civilizado, os crimes do governo Bolsonaro levantados pela CPI da Covid-19, bem como as declarações e o comportamento nada empático do presidente, já seriam suficientes para afastá-lo do cargo. No entanto, enquanto a opinião pública se divide, os cadáveres da peste se amontoam e o circo de horrores continua a pleno vapor.

O mais urgente agora é frear a sanha bolsonarista, mas sem contribuir para a volta de Lula ao poder. Pessoas de bom-senso não podem aderir à tese de inocência do ex-presidente condenado pela Lava-Jato. Caso a radicalização saia de controle, o principal culpado será o STF, que se baseou em mensagens hackeadas para anular as penas do líder petista condenado em três instâncias da Justiça.

Bandeiras vermelhas

Bolsonaro conseguiu o que mais sonhava em seus devaneios. Isto é, enterrou a Lava-Jato e viu Lula ressurgir das cinzas como seu paradigma. Ao reunir apoiadores em comícios e motosseatas que provocam aglomeração e contrariam a legislação eleitoral, ele atiçou as forças de oposição a saírem às ruas, furando o isolamento social recomendado pela OMS. Bandeiras vermelhas em praças públicas dão ao Mussolini dos trópicos o argumento ideal para consolidar sua candidatura à reeleição.

Da mesma forma que eleitores de esquerda tendem a votar em Lula (caso ele realmente seja candidato em 2022), conservadores e reacionários se aglutinarão em torno de Bolsonaro, fazendo vista grossa ao negacionismo e às ligações perigosas de sua família com o submundo miliciano. Afinal, esse tipo de gente acredita que petistas são comunistas, que comunistas comem criancinhas e que o “mito” Jair é de fato o messias da honestidade.

Grosso modo, a mídia parece pouco interessada em contribuir para o surgimento de uma terceira via, um nome que seja capaz de despolarizar o eleitorado e pacificar o país. Em busca de leitores e audiência, a imprensa aposta no sensacionalismo. A novidade é que veículos outrora hostilizados pelo PT hoje são ameaçados por um presidente autoritário, que repele o contraditório e agride verbalmente jornalistas pelo simples fato de lhe fazerem perguntas.

Nova República

A bem da verdade, o impasse a que estamos sendo levados começou com a Nova República. O pacto assinado entre o antigo MDB e velhas lideranças que apoiaram o regime militar deixou impune os crimes da ditadura e gerou o ovo da serpente que agora ameaça eclodir. Para piorar o quadro, a Constituição de 1988 não foi devidamente revista em tempo hábil. Já o plebiscito que acenava com a possibilidade do parlamentarismo optou pelo presidencialismo imperial.

Antes disso, José Sarney havia usado o Plano Cruzado para que a aliança governista vencesse as eleições de 1986. Naquele ano, o governo conquistou maioria no Congresso, totalizando 77% dos votos nas eleições gerais. Formada pelo PMDB e PFL, sua bancada ocupou 81% das cadeiras do Senado Federal. Assim nascia o chamado Centrão, que apoiaria Lula tempos depois e que hoje está fechado com Bolsonaro.

Em 1989, na primeira eleição direta para presidente da República desde 1960, Fernando Collor de Mello derrotou Lula no segundo turno com 46,96% dos votos. Seu governo posava de liberal, mas confiscou a poupança e levou milhões de pessoas à falência e ao desespero. Acusado de corrupção por ter ganhado um Fiat Elba de presente, o caçador de marajás renunciou pouco antes da votação do impeachment.

Empossado na Presidência, o vice Itamar Franco criou o Plano Real, interrompendo a inflação galopante. Seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, arvorou-se o pai da criança, elegeu-se presidente e comprou o Congresso para instituir o segundo mandato presidencial. De lá para cá, entre mensalões e petrolões, o cargo maior da República se consolidou como balcão de negócios. A eleição de Bolsonaro em 2018 foi o ápice dessa cadeia de eventos. Reelegê-lo presidente ou trazer Lula de volta seria insistir no populismo e no atraso. Depois de tanta bandalheira, o Brasil merece coisa melhor. (por Jorge Fernando dos Santos)

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