Organização criminosa é suspeita de estar por trás dos crimes de Lázaro

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Segundo a investigação, a família assassinada devia dinheiro ao fazendeiro Elmi, que pode ter contratado Lázaro para fazer a cobrança

Investigação da Polícia Civil de Goiás aponta a existência de uma organização criminosa por trás dos crimes praticados por Lázaro Barbosa, de 32 anos, o “serial killer” do Distrito Federal, morto pela polícia no dia 28 de junho. Suspeito da morte de sete pessoas, quatro delas da mesma família, Lázaro pode ter agido a mando de fazendeiros, empresários e políticos da região de Cocalzinho de Goiás, segundo a polícia. A caçada ao criminoso mobilizou 270 policiais.

Um dos indícios de que Lázaro fizesse parte dessa organização seria o suporte financeiro dado a ele. Quando o criminoso foi morto, os policiais encontraram R$ 4,4 mil entre seus pertences. “O volume de dinheiro apreendido que estava em poder do foragido, bem como a forma com que estava acondicionado, são indícios de que tivesse acontecido um aporte financeiro recente para sua fuga”, informou, em nota, a Secretaria da Segurança Pública de Goiás (SSP-GO).

Até a tarde dessa segunda-feira (5), apenas uma pessoa tinha sido presa, acusada de ter ajudado o criminoso a fugir: o fazendeiro Elmi Evangelista Caetano, de 73 anos.

Conforme a investigação, além de ter dado abrigo e fornecido refeições para o fugitivo, o fazendeiro teria atrapalhado o trabalho da polícia, fornecendo informações falsas sobre o paradeiro de Lázaro. Enquanto outros proprietários da região abriram as propriedades para as buscas policiais, Caetano teria mantido os portões de acesso fechados com cadeado. Em seu celular, a polícia encontrou uma mensagem de voz indicando que o criminoso usava a fazenda como esconderijo. “Ele está dormindo lá naquele barraco onde a mãe dele morava”, disse Elmi.

O caseiro Alain Reis de Santana, de 35 anos, chegou a ver o fugitivo na propriedade e falou sobre isso com o patrão, que teria desconversado. O caseiro chegou a ser preso com Elmi, mas foi solto após colaborar com a polícia.

Ele disse que não denunciou a presença de Lázaro na fazenda porque foi ameaçado por ele e temia pela sua vida. Segundo Santana, o criminoso permaneceu na fazenda por pelo menos cinco dias e, durante esse período, teve livre acesso às dependências da casa.

Ainda segundo a SSP-GO, há outros elementos indicando que Lázaro não agia sozinho, como o fato dele ter conseguido acesso à internet, no período em que estava cometendo crimes na zona rural de Cocalzinho de Goiás.

A pasta divulgou uma carta encontrada no bolso do foragido, em que ele “presta contas” de um provável assassinato. “Eu fui numa fita que deu o mó (maior) peteco como cê mesmo deve tá sabendo. O cara estava armado e antes de eu consegui enquadrar a vítima ainda conseguiu avisar uma pessoa que quando eu vi já foi só os tiros”.

Em outro trecho, Lázaro conta que estava sem munição e se dispunha a pagar para obter um novo suprimento. “Já tive 2 confrontos com eles e tô zerado de munição. Cara, por favor, arruma o tanto de munição de 38 e de 380 para mim. Eu tenho 35 munição de 380 lá naquele barraco que eu tava com a… pra pegar pra mim. Eu vou te adiantar R$500 por esse corre, por favor, mano, não me deixa na mão… Se eu não arrumar comprado, eu vou ter que ir atrás e pode morrer mais gente”.

Para a polícia, a citação da “fita” que deu errado pode se referir à chacina de Ceilândia, que deu origem à caçada ao criminoso. O fazendeiro Cláudio Vidal e os dois filhos, Gustavo e Carlos Eduardo, foram assassinados com tiros e facadas na propriedade da família.

A mulher de Cláudio, Cleonice Marques de Andrade, foi feita refém e levada para um córrego, onde foi estuprada e morta com um tiro na cabeça. Segundo a investigação, a família devia dinheiro ao fazendeiro Elmi, que pode ter contratado Lázaro para fazer a cobrança.

Essa, pelo menos, foi a hipótese levantada pela delegada Rafaela Azzi, da Delegacia-Geral da Polícia Civil que investiga o caso, durante entrevista exibida domingo (4) pelo Fantástico. “Não descartamos a hipótese de que ele (Elmi) tenha realmente usado Lázaro para cobrar a dívida e, não recebendo, matar aquelas pessoas”, disse.

Na entrevista, a policial afirmou haver “pessoas importantes” por trás de Lázaro, como empresários, fazendeiros e políticos. Rafaela disse ainda que a morte de Lázaro durante o cerco policial dificultou a investigação sobre eventuais mandantes. “Nós queríamos a rendição dele”, afirmou ao programa.

Procurada pela reportagem nessa segunda-feira (5), a delegada informou que apenas a SSP-GO se manifestaria sobre o caso. “É ressaltado que a força-tarefa tentou o tempo todo a rendição do foragido, pois sempre foi do interesse da força-tarefa que Lázaro Barbosa Sousa respondesse por seus crimes. A força-tarefa tinha o propósito de restabelecer a paz da população da região, garantir que Lázaro Barbosa Sousa não cometesse mais crimes e que ele fosse capturado”, informou a pasta.

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) apresentou denúncia à Justiça contra o fazendeiro Elmi no último dia 30 – ele continua preso. O proprietário rural foi indiciado pela suspeita de ter auxiliado o criminoso na fuga. Ele também foi enquadrado por posse ilegal de arma de fogo. Um filho do fazendeiro também é investigado por ter, supostamente, apoiado o pai no abrigo a Lázaro.

O advogado do fazendeiro, Ilvan Barbosa, disse que a hipótese levantada pela Polícia Civil de Goiás sobre possível vínculo de seu cliente com a família assassinada em Ceilândia é “fantástica e midiática”. Segundo ele, não há prova de que Elmi tenha ajudado na fuga de Lázaro. “Se for imputada alguma conduta ao meu cliente, será apenas a de posse de munições. As demais imputações carecem de provas e laudos”, disse.

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