Planalto: O poço

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Sinto-me em um país assim, como o poço. Cena do filme ‘O poço’ (Netflix)

Certo tempo atrás assisti ao filme O poço, este artigo tem spoilers sobre o filme.

Trata-se da história de um instrumento social denominado Centro Vertical de Autogestão. Uma solução estatal para diversos e diferentes problemas. Ao mesmo tempo, prisão, asilo, spa, exílio, purgatório, mosteiro etc.

A prisão vertical vai sendo gradativamente descoberta pelo personagem central, que entrou no poço por vontade própria, para parar de fumar.

Um dos mistérios era, quantos andares tinha o poço, ou qual seria seu fundo. Mesmo com um fundo ao fim revelado, a sensação, até a última cena, era de que não havia fundo.

Sinto-me em um país assim, como o poço.

O termo autogestão para o poço soa dramático ao conectar a indiferença estatal para a vida do povo com um termo relacionado com a capacidade das pessoas de gerirem autonomamente as comunidades onde vivem, sem depender do Estado e de sua burocracia.

O filme é sobre a burocracia, depois de toda a saga para mostrar que o poço era um projeto falido, um verdadeiro inferno na terra, o máximo que o burocrata chefe entendeu era que existia um fio de cabelo no manjar, e por isso ele tinha sido rejeitado, voltando intacto do último andar até o primeiro.

Lutar por um Estado mais próximo das realidades distintas de um povo diverso como o brasileiro é lutar pela desburocratização, pela pluralidade de representação, pela quebra de monopólios, inclusive do monopólio das comunicações, pela melhor distribuição da riqueza. Logo, a humanização do Estado é um projeto político, democratizante, progressista, popular, que dialoga com a autogestão.

O projeto inverso pode chegar a ser o que era o poço. Em resumo, um sistema de alimentação dentro de uma cisterna em que um banquete ia descendo de andar em andar, e os debaixo só comeriam o que os de cima reservassem conscientemente para eles, o cuidado dos debaixo dependeria sempre dos de cima, que no dia seguinte estariam em outro andar definido aleatoriamente. Não era incomum que aos debaixo fosse servido o resto, ou muito pior, as fezes, ou o vômito dos de cima.

Sim. Este é o projeto do poço, este é o projeto de um país que ignora a insegurança alimentar de mais de 117 milhões de pessoas, ignora os miseráveis pedintes nas ruas, as crianças em precárias escolas, os 30% de seus e suas trabalhadoras que vivem com R$275,00 mensais, destrói políticas públicas, chama a maior pandemia da história de gripezinha e enxerga como prioridade reduzir impostos de games, eleições com voto impresso e servir leite condensado no Planalto, ou seria o fio de cabelo no manjar? (por Marcel Farah)

VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!

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