O presidente da Bolívia, Luis Arce (MAS), afirmou nesta sexta-feira, 6, que os golpistas de 2019, que derrubaram o governo eleito de Evo Morales (MAS), precisam ser sancionados e que não descansará até atingir seu objetivo. Segundo ele, é preciso punir também os “cúmplices internacionais”.
Como o empresário bilionário Elon Musk, dono da Tesla, admitiu, os norte-americanos promoveram o golpe de Estado contra o governo. Um dos interesses da Tesla, por exemplo, era desnacionalizar o lítio boliviano. Após o golpe, o governo da direita sinalizou abrir as portas da exploração do lítio para a Tesla.
Mais de 50% dos depósitos de lítio globais se encontram no ‘Triângulo do Lítio’ – com fontes do material concentradas na Argentina, Bolívia e Chile. Os desertos montanhosos da Bolívia – o Salar de Uyuni – possui as maiores reservas conhecidas.
Participação internacional no golpe
Segundo Arce, houve uma conspiração de governos de direita contra Morales, como os de Lenín Moreno do Equador (2017-2021) e de Mauricio Macri (2015-2019) da Argentina, que enviaram armas para os golpistas.
Além disso, considera que a delegação da União Europeia (UE) em La Paz, a Igreja Católica e os ex-presidentes de direita Carlos Mesa (2003-2005) e Jorge Quiroga (2001-2002) fizeram parte da conspiração.
Punição aos golpistas
“Não cansaremos, no âmbito de nossos poderes, de exigir o processo e punição dos autores do golpe de Estado”, disse Arce.
Todos aqueles que promoveram a derrubada de Morales “devem responder à justiça pelos atos ilegais, ilegítimos e violentos que perpetraram contra o povo, a democracia e a constituição política do Estado”.
Chefe do governo golpista que assumiu o poder após Evo, Jeanine Áñez está presa desde março e é investigada no âmbito de um processo criminal, assim como vários de seus ministros e ex-chefes militares e policiais. As forças de segurança participaram ativamente do golpe contra o governo do MAS.
Enfrentamentos nas ruas e no Parlamento
As declarações de Arce ocorreram em sessão para comemorar a fundação da Bolívia, ocorrida em 6 de agosto de 1825. Na quinta-feira, 5, um dia antes, mobilizações da esquerda e da direita ocorreram e manifestantes a favor e contra o governo se confrontaram com violência.
A direita golpista, que organizou linchamentos de políticos da esquerda e a repressão de trabalhadores que saíram às ruas contra o golpe em 2019, se insurgiu no Parlamento nesta sexta durante informe de Arce, alegando que o atual presidente está promovendo a violência.
Arce denuncia golpistas
Arce deixou claro que quem esteve por trás do governo golpista “só esperava sair após deixar o país sem recursos, sem saúde, sem educação, sem instituições culturais, sem governo, na incerteza, sem direitos humanos ou liberdade de expressão, como em todas as ditaduras da nossa história”.
“Eles sempre querem impor com violência o que não conseguem democraticamente nas urnas”, disse ele, ao afirmar que o golpe foi preparado vários meses antes, quando líderes da oposição fizeram apelos para ignorar os resultados eleitorais e ameaçaram desobediência civil.
“A direita rompeu nossa ordem constitucional com o único objetivo de agredir o Estado”, argumentou. “Memória, verdade e justiça, esse é o mandato do povo que recebemos em outubro do ano passado”, acrescentou, referindo-se a este assunto e à vitória do MAS nas eleições de 2020, nas quais foi eleito.
Mobilização popular derrotou o golpe
“Esta eleição histórica não teria sido possível sem o bloqueio de estradas nacionais e a greve geral declarada pela Central Obrera Boliviana (COB) e o Pacto de Unidade em agosto do mesmo ano”, afirmou nas redes sociais o presidente da Bolívia.
“Sem a luta, a resistência e a mobilização, a democracia não teria se recuperado e o governo de fato [golpista] teria continuado no desejo de se estender ao poder, usando a pandemia como pretexto para continuar violando direitos”, alegou, lembrando que a pandemia foi utilizada pela direita para adiar as eleições no país, ameaçando não realizar o pleito em 2020.
Informações da AFP e TeleSur