O Esquadrão Suicida

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
James Gunn se diverte e eleva ‘O Esquadrão Suicida’ a outro nível de qualidade.

É uma sequência? É um reboot? Nem uma coisa, nem outra. O esquadrão suicida, segunda as palavras do próprio diretor, James Gunn, “é o que é”. E é mesmo, consideravelmente melhor do que seu antecessor, tão “esculachado” (com razão) pela crítica e principalmente pelo público. Filmado totalmente em IMAX, o novo grande lançamento da DC/Warner tem muitos motivos para essa melhora, que já era esperada simplesmente por ter Gunn no comando.

As comparações que já explodem na mídia, não só com o filme anterior de David Ayer, mas também com as películas de Os guardiões da galáxia (James Gunn, 2014 e 2017), são inevitáveis. Digo até mesmo que são imprescindíveis, uma vez que revelam muito não só sobre o estilo e a evolução do diretor, mas também sobre o processo criativo e a liberdade que cada estúdio deu para ele.

Assim, na Marvel/Disney, quando dirigiu Os guardiões, Gunn estava limitado não somente pela empresa que o contatava, mas também pelos valores morais e a aura de heroísmo que encobria seus personagens principais. A DC/Warner, ao contrário, deu ao diretor quase que carta branca para fazer o que quisesse dentro de seu orçamento e ele pôde liberar não só sua criatividade, como também toda as maluquices e a falta de escrúpulos de seus vilões.

Em razão disso, apesar de seguir na mesma linha de enredo do filme de Ayer  os vilões são recrutados à força para salvar o mundo de um monstro em forma de estrela do mar -, O esquadrão suicida dá uma roupagem mais interessante à história. Alguns personagens retornam apesar de, como já referido, a trama não ter quase nenhuma ligação com a película anterior. Dessa forma, o general Rick Flag (Joel Kinnaman) – um excelente personagem – retorna para representar o governo americano na linha de frente da missão e garantir que os bandidos vão andar na linha. O fato de ele jamais mencionar a Dra. June Moone (Cara Delevingne) – o amor de sua vida – em nenhum momento, ilustra esse fato. E é claro que a Arlequina de Margot Robbie, a melhor coisa dessa “parada” toda, não poderia ficar de fora, assim como a altamente questionável Amanda Waller da excelente Viola Davis.

O estilo de comédia dominante é também indubitavelmente mais eficiente, dobrando o número de risadas que tivemos na primeira experiência. E a maioria delas é causada, obviamente, por ela, a ex-mulher do Coringa. Arlequina não só está com uma caracterização diferente, ostentando as cores vermelho e preto em seu cabelo e roupas (o que é baseado em sua aparição na New 52 DC Comics), como também está duas vezes mais engraçada. Mas por outro lado, as interações da Ratcatcher 2 (Daniela Melchior) com Robert DuBois/Bloodsport (Idris Elba) e King Shark (Sylvester Stallone) elevaram o nível do que é engraçado a outro patamar. Ratcatcher 2, inclusive, traz para essa versão algo que a primeira não teve, e o faz de forma a não estragar ou desviar o estilo do filme. Ela traz um coração à película.

Só por isso já podemos dizer que O esquadrão suicida atual já é melhor do que o anterior, mas Gunn quis mostrar ainda mais seu talento, mandando um recado a Martin Scorsese sobre como seus filmes (e os outros longas de de super-heróis também) são sim cinema! Como exemplo, basta notar como é perceptível a mudança na paleta de cores durante a narrativa, e os vilões saem de uma imagem mais cinzenta e pálida dos EUA para a extremamente colorida fotografia do Caribe. Porém o mais interessante é notar como o diretor, com a liberdade criativa que lhe foi dada, manipula bem o ridículo – o grande vilão em Corto Maltese (e há que se pensar se ele é mesmo o grande super-vilão) os trajes da famigerada Força Tarefa X (ou esquadrão suicida) e os próprios assassinos, ou pelo menos alguns deles, entram nessa categoria e cumprem muito bem seu papel. E por fim, a facilidade com que ele representa a política mundial e as formas como norte-americanos e latinas lidam com ela é de extrema e por que não dizer, impressionante eficiência.

Por tudo isso, mesmo que O esquadrão suicida ainda não seja o melhor filme da DC/Warner, fez bonito em superar o fiasco do longa de 2016, possuindo o selo James Gunn de qualidade. É mais do que um “pundinzinho”, como diz Arlequina, e com certeza mais do que o “nham-nham”, como diz King Shark. Dá para notar como o diretor se divertiu nessa produção. Quer rir? Então corre para o cinema.

Publicado originalmente em O Cinema é

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