Vinte anos depois, Brasil virou segundo escalão do Bric

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Há duas décadas, acrônimo era usado pela primeira vez. Ele englobava países emergentes que deveriam alcançar em breve os mais ricos como potências. Para alguns, isso virou verdade. Para a economia brasileira, não.

Em 2001, Jim O’Neill, então economista-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs, descreveu pela primeira vez uma nova divisão de trabalho na economia mundial: Building better global economic BRICs. Em português, seria algo como “o mundo precisa de melhores tijolos econômicos”, num trocadilho entre a palavra em inglês para tijolos (brick) e o acrônimo das principais economias emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China.  

Seriam essas economias emergentes que impulsionariam a taxa de crescimento da economia global no futuro. O quarteto, escreveu o economista, estava prestes a alcançar os países industrializados em termos de poder econômico.

As previsões eram ousadas: as economias do Bric alcançariam a metade do peso das seis mais fortes do planeta (Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Japão) já em 2025 e, no máximo até 2040, se igualariam economicamente aos países dominantes até então.

As previsões foram sustentadas por O’Neil com base numa nova divisão de trabalho, segundo a qual esses países fortaleceriam sua posição na economia mundial. Assim, o Brasil se tornaria o “armazém das matérias-primas” ou “cesta de pão” para a economia global; a Rússia “posto de abastecimento do mundo”, por causa de suas reservas energéticas; a Índia o “think tank”, devido a sua indústria de tecnologia da informação; e a China viraria a grande “fábrica” global.

Bric rapidamente se tornou uma referência para medir as economias emergentes. Como estavam de fato crescendo extraordinariamente rápido, esses países experimentaram também um impulso político. Em 2006, uniram-se para formar uma comunidade que se encontrou formalmente pela primeira vez em 2009. A África do Sul aderiu em 2011. Desde então, o clube das economias emergentes tem sido chamado de Brics.

Vinte anos mais tarde, pode-se dizer que algumas das previsões de O’Neill provaram estar corretas. Porque, já em 2017 – oito anos antes do esperado – os países Bric alcançaram a metade do peso dos países do G6. Atualmente, de acordo com o FMI, eles têm um PIB equivalente a 57% do do G6.

Presidente Lula em encontro do Bric, com os líderes de Rússia, China e Índia, em 2010

Em 2010, presidente Lula recebe os líderes de Rússia, China e Índia: era o grupo do Bric, ainda sem a África do Sul

Duas realidades dentro do grupo

A setorização também foi amplamente confirmada: o Brasil foi capaz de expandir ainda mais seu papel como fornecedor de matérias-primas, sendo agora a principal fonte de alimentos para o mercado mundial. A Rússia é um dos mais importantes exportadores de petróleo e gás. A crescente importância da Índia na economia global continua a se dever, em grande parte, à sua indústria de software. E a China foi capaz de aumentar significativamente a competitividade e o domínio de sua indústria.

Entretanto, O’Neill estava errado em suas previsões para os países do Bric individualmente: ao lado da Rússia, o Brasil compõe um segundo escalão do quarteto. O decepcionante desenvolvimento econômico nesses países na última década é a principal razão por que, hoje, o termo Bric quase não tem relevância. Também politicamente quase não houve aproximação entre os países. Na verdade, em parte eles estão em feroz competição.

Os indianos e os chineses, por sua vez, deixaram os retardatários bem para trás: a China tem boas perspectivas de, em 2050, ser tão forte economicamente quanto os EUA e a União Europeia juntos. E a Índia provavelmente também tomará o lugar dos americanos como segunda maior economia do mundo.

A economia brasileira, por outro lado, perdeu o prumo: exceto pelas matérias-primas, o Brasil quase não oferece produtos competitivos para o mercado mundial. Sua indústria está encolhendo. Ao mesmo tempo, o poder de compra dos brasileiros foi o que mais diminuiu entre os países do Bric nos últimos dez anos, sendo agora comparável ao da China.

Ao contrário do país asiático,no Brasil a pobreza está novamente em ascensão. No momento, nenhum banco de investimento contam com o crescimento acelerado do país nos próximos anos.

Entretanto, a previsão de O’Neill ainda pode se tornar realidade: a empresa de consultoria PricewaterhouseCoopers International (PwC) prevê que a Alemanha ocupará o nono lugar econômico do mundo em 2050, com o Brasil em quinto. A essa altura, porém, a economia chinesa terá cerca de oito vezes o porte da brasileira.

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