No último dia 22, completaram-se 18 anos do acidente de Alcântara, um dia que gostaríamos de esquecer, mas que precisamos lembrar se quisermos aprender alguma coisa com aquela tragédia
O acidente de Alcântara foi o mais triste episódio do Programa Espacial Brasileiro. Ocorreu no dia 22 de agosto de 2003, três dias antes do terceiro lançamento do foguete VLS-1, que colocaria em órbita dois satélites brasileiros, o SATEC, desenvolvido pelo INPE e o UNOSAT, da Universidade Norte do Paraná.
O VLS-1
O VLS, sigla para Veículo Lançador de Satélites, era resultado de 18 anos de projeto e desenvolvimento. Antes dele, já havíamos acumulado outros 18 anos de experiência com o desenvolvimento dos foguetes da série SONDA.
Evidentemente nosso programa não era tão glorioso quanto os programas americano e russo, mas nossa engenharia espacial vinha evoluindo bastante, e o VLS-1 era justamente o resultado dessa evolução.
O VLS-1 era um foguete de 4 estágios. O primeiro, com 4 propulsores S43, e o segundo com outro S43, eram responsáveis por tirar o foguete do chão e levá-lo até o limite do espaço, cerca de 100 quilômetros acima do solo. O terceiro estágio, era composto de um propulsor S40 e as baias de equipamentos e controle. O quarto estágio seria o responsável por levar a carga útil até sua órbita final. Era composto de um propulsor S44 e um cone de acoplamento que continha grande parte dos equipamentos e onde a carga útil ficava presa.
Ao todo, o VLS-1 tinha 19,4 metros de altura, quase 50 toneladas e capacidade de levar uma carga de até 380 kg para uma órbita a 750 km de altitude. Em dois lançamentos anteriores, em 1997 e 1999, o VLS-1 havia apresentado falhas e acabou sendo destruído por segurança. Mas seu terceiro lançamento em 2003 tinha tudo para dar certo… ou não.
Sabemos que acidentes não ocorrem por acaso. Normalmente, são o último elo de uma corrente de falhas e eventos que poderiam ser evitados. E é isso que mostra o relatório produzido por uma comissão criada para investigar o acidente.
Tecnicamente, o acidente teve início com o acionamento intempestivo de um dos propulsores do primeiro estágio, provavelmente causado por uma indução eletrostática no detonador. Mas na prática, desinvestimentos no programa, redução de pessoal, sobrecarga de trabalho e falta de procedimentos, comprometeram seriamente a segurança da operação.
Até que às 13h26m daquele 22 de agosto, enquanto as equipes trabalhavam na preparação do VLS-1 para o lançamento, um dos propulsores foi acionado indevidamente. Preso na base e ainda dentro do galpão, o foguete não teve como subir e explodiu. Em poucos segundos, tudo estava perdido: base, galpão, foguete, satélites e a vida de 21 de nossos melhores técnicos e engenheiros. Acordamos de nosso sonho espacial em meio a um pesadelo, a maior tragédia do Programa Espacial Brasileiro.
Sabotagem?
Após o acidente, muito se especulou sobre suas causas. Algumas das hipóteses que surgiram é de que ele teria sido provocado por uma sabotagem de algumas das superpotências espaciais. Ainda que não houvessem evidências nesse sentido, essa hipótese foi considerada e investigada pela comissão de investigação, que além de militares, tinha representantes do governo, da sociedade civil e inclusive, das famílias das vítimas. A conclusão do relatório é categórica e afasta definitivamente essa possibilidade.
Depois do acidente, uma nova base de lançamento muito mais segura foi construída e o projeto do VLS-1 foi completamente revisado. Ele seria o responsável por colocar em órbita, em 2019, o satélite Amazônia-1, mas em 2016, o programa dos Veículo Lançador de Satélite foi extinto e o Amazônia-1 foi lançado pela Índia em 2020. E hoje, 64 anos depois do Sputinik, o Brasil ainda não conseguiu levar seu primeiro satélite para o espaço.
FONTE: OLHAR DIGITAL