Nobel de Literatura 2021: escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah leva o prêmio

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Gurnah é conhecido sobretudo pelo livro ‘Paradise’ e tem obra que aborda efeitos do colonialismo e o destino dos refugiados presos entre culturas e continentes

O romancista Abdulrazak Gurnah, nascido na Tanzânia e que mora há vários anos no Reino Unido, foi anunciado nesta quinta-feira (7) como o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura pela Real Academia Sueca.

Gurnah, que cresceu na ilha de Zanzibar mas chegou à Inglaterra como refugiado no fim da década de 1960 como estudante, foi premiado por sua escrita “empática e sem compromissos dos efeitos do colonialismo e o destino dos refugiados presos entre culturas e continentes”. “Quero apenas escrever com a maior veracidade possível e tentar dizer ‘algo nobre'”, explicou em uma entrevista concedida na Alemanha em 2016.

Nascido em 1948, ele começou a escrever aos 21 anos no exílio na Inglaterra, e apesar do suaíli ser a sua língua materna, sua ferramenta literária é o inglês, recordou a Fundação Nobel. Gurnah publicou 10 romances, além de livros de contos, e é conhecido sobretudo pelo livro Paradise (Paraíso) de 1984.

“Foi nos primeiros anos morando na Inglaterra, quando tinha 21 anos, que comecei a escrever”, explicou em uma entrevista ao jornal The Guardian. “Comecei a escrever casualmente, com uma certa angústia, sem um plano em mente, mas com pressa e vontade de dizer algo mais”, explicou. “Em grande medida, teve relação com a sensação esmagadora de estranheza e diferença que senti ali”, recordou, a respeito de seus primeiros anos de emigração.

Passaram quase 20 anos antes da publicação de seu primeiro romance, Memory of departure (Memória do embarque), em 1987. Em seguida vieram Pilgrims way (Caminho do peregrino) um ano depois e Dottie em 1990.

Os três livros falam sobre as experiências dos imigrantes no Reino Unido daquela época. A aclamação por parte da crítica veio com seu quarto romance, Paradise (Paraíso) (1994), ambientado no leste da África colonial durante a Primeira Guerra Mundial e que foi finalista do prestigioso Booker Prize britânico.

Sua obra de 1996 Admiring silence (Silêncio admirável) narra a história de um jovem que retorna a Zanzibar 20 anos depois da mudança para a Inglaterra, onde se casou com uma britânica e trabalhou como professor.

Migração e identidade

As obras de Gurnah são “dominadas pelas questões de identidade e deslocamento, e como estas são moldadas pelos legados do colonialismo e da escravidão”, escreveu sobre ele o acadêmico Luca Prono no site do British Council, organismo público que promove a cultura britânica. “Todos os relatos de Gurnah se baseiam no impacto que emigrar para um novo contexto geográfico e social tem na identidade de seus personagens”, destacou.

“As questões que apresento não são novas”, reconheceu o escritor ao jornal The Guardian ao comentar seu trabalho. “Mas se não são novas, são fortemente influenciadas pelo particular, pelo imperialismo, pelo deslocamento, pelas realidades do nosso tempo”, considerou. “E uma das realidades do nosso tempo é o deslocamento de tantos estrangeiros para a Europa”, completou.

Assim, em 2002, com By the sea (Perto do mar), Gurnah voltou a abordar o tema com a história de Saleh Omar, um demandante de asilo que acaba de chegar ao Reino Unido. Suas últimas obras incluem Desertion (Deserção), de 2005, pré-selecionado para o prêmio de escritores da Commonwealth de 2006, e The last gift (O último presente) (2011), que a revista Publishers Weekly descreveu como um “romance inquietante, com uma trama sólida, com reflexões poderosas sobre a mortalidade, o peso da memória e a luta para estabelecer uma identidade pós-colonial”. O romance mais recente de Gurnah, Afterlives, foi lançado no ano passado e conta a história de um menino que foi vendido às tropas coloniais alemãs.

O escritor se aposentou recentemente como professor de Literatura Inglesa e Pós-Colonial na Universidade de Kent e vive em Brighton, sul da Inglaterra.

Apostas frustradas

O prêmio consiste em uma medalha e na quantia de 10 milhões de coroas suecas (R$ 6,25 milhões). No ano passado, a vencedora do Nobel de Literatura foi a poeta americana Louise Gluck. Com a pandemia de Covid-19, pelo segundo ano consecutivo o vencedor receberá o prêmio em seu país de residência.

Para 2021, a Academia havia prometido ampliar seus horizontes geográficos, mas seu presidente destacou no início a semana que o “mérito literário” continuava sendo o “critério absoluto e único”.

Quem ganhou o Nobel de Literatura em 2020 foi a poeta americana Louise Glück. Dela, a Companhia das Letras publicou, depois do prêmio, Poemas: 2006-2014. No ano anterior, quem ganhou foi o austríaco Peter Handke, mais conhecido do leitor brasileiro, que encontra suas obras no catálogo da Estação Liberdade. E a polonesa Olga Tokarczuk, que já tinha tido um livro publicado no país, Vagantes, anos atrás, voltou às livrarias após ganhar o Nobel de Literatura em 2018. A nova fase foi marcada pelo lançamento de Sobre os ossos dos mortos, entre outros títulos pela Todavia.

Cotados

Entre os escritores cotados este ano, muitos também nos anos anteriores, estavam nomes como o do sul-coreano Ko Un, o queniano Ngugi wa Thiong’o, o chinês Can Xue, o indiano Vikram Seth, o moçambicano Mia Couto e o oponente chinês Liao Yiwu. Também era cotados o japonês Haruki Murakami, a russa Ludmila Ulitskaya, o húngaro Peter Nadas, o francês Michel Houellebecq, o albanês Ismaël Kadaré, as canadenses Anne Carson e Margaret Atwood e as americanas Joyce Carol Oates e Joan Didion.

Portugal esperava seu segundo Nobel – agora, para Antonio Lobo Antunes. O primeiro foi para José Saramago. E o Brasil, que não tem nenhum Prêmio Nobel de Literatura, viu circular nas redes sociais, nas últimas semanas, que ele seria dado a um escritor antibolsonarista. Em toda a história do Nobel de Literatura, apenas 16 mulheres foram premiadas. (AFP)

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