Forças Armadas dão golpe de Estado no Sudão e prendem autoridades civis

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
General Burhan dissolve governo, decreta estado de emergência e promete eleições
Manifestantes sudaneses queimam pneus em avenida da capital Cartum para denunciar as detenções de autoridades civis pelas Forças Armadas

Manifestantes sudaneses queimam pneus em avenida da capital Cartum para denunciar as detenções de autoridades civis pelas Forças Armadas (AFP)

Em um movimento considerado um golpe de Estado, o general sudanês Abdel Fattah al Burhan dissolveu, nesta segunda-feira (25), o governo de transição do país, cujos membros civis foram quase todos detidos, e decretou estado de emergência, em uma jornada que já registrou feridos entre os manifestantes pró-democracia que saíram às ruas.

Desde o início da manhã, o “golpe de Estado” denunciado pela comunidade internacional acontece por etapas. O primeiro-ministro Abdallah Hamdok, sua esposa, vários ministros e todos os membros civis do Conselho Soberano – maior autoridade da transição – foram detidos. Segundo a rede internacional Al Jazeera, entre os presos estão o ministro da Indústria, Ibrahim al-Sheikh, e o governador da capital Cartum, Ayman Khalid.

Os militares sudaneses prenderam diversos membros do governo, bloquearam pontes e cortaram o acesso à internet do país. Em resposta, o partido pró-democracia Umma, o maior do Sudão, descreveu as detenções como uma “tentativa de golpe” e convocou os cidadãos às ruas, como forma de protesto e resistência.

A televisão estatal está sob poder dos militares e, no meio da manhã, o general Abdel Fattah al Burhan deu uma declaração. Apesar de repetir que deseja uma “transição civil e eleições livres em 2023”, após 30 anos de ditadura de Omar al Bashir, o general afastou de suas funções todas as autoridades civis.

O governo está dissolvido, incluindo o Conselho Soberano, afirmou. Prefeitos e ministros estão destituídos, e o estado de emergência vigora em todo país, completou. Antes mesmo do discurso do militar, milhares de manifestantes saíram às ruas. Diante da sede do Exército, no centro de Cartum, protegido por soldados há vários dias, 12 manifestantes ficaram feridos por tiros de militares, de acordo com um sindicato de médicos e o Ministério da Informação.

“Proteger a revolução”

O gabinete do primeiro-ministro Abdallah Hamdok havia convocado “protestos contra o golpe de Estado para proteger a revolução” de 2019 – movimento que derrubou Al-Bashir. “É um golpe de Estado militar”, denunciou a Associação de Profissionais, uma das organizações que liderou a revolta de 2019 que acabou com 30 anos de ditadura de Omar Al Bashir neste país do leste da África, um dos mais pobres do mundo.

Ao lado dos sindicatos de médicos e bancários, esta associação convocou a desobediência civil em Cartum, cidade que vive uma situação caótica, sem internet e com as ruas lotadas de pessoas em um cenário de grande instabilidade após um golpe frustrado no mês passado.

Temendo pela vida de Hamdok, detido em um local não identificado, seu gabinete advertiu que as autoridades militares têm “toda responsabilidade sobre sua vida, ou morte”, em um país que registrou uma tentativa de golpe no mês passado. “Peço às Forças Armadas que libertem imediatamente os detidos”, declarou o enviado da ONU para o Sudão, Volker Perthes, que considerou as detenções “inaceitáveis”.

O governo dos Estados Unidos, cujo enviado Jeffrey Feltman visitou no domingo (24) o gabinete de Hamdok, advertiu que “qualquer mudança de governo de transição coloca a ajuda americana em perigo”. A Liga Árabe também manifestou “profunda preocupação” e pediu a todas as partes que respeitem o acordo de divisão do poder.

Diante dos apelos, o general Burhan disse que o país respeitará os acordos internacionais assinados. O Sudão é um dos quatro países árabes que normalizaram, recentemente, as relações com Israel.

De novo nas ruas

Nas ruas da capital Cartum, onde o serviço de telecomunicação é cada vez mais inconstante, muitos sudaneses protestaram e vaiaram o general Burhan. “Não aceitaremos um regime militar. Estamos dispostos a dar nossas vidas pela transição democrática”, declarou um deles, Haitham Mohamed. “Não vamos abandonar as ruas antes do retorno do governo civil”, afirmou Sawsan Bachir.

O Sudão enfrenta uma transição política precária, marcada por divisões e por lutas de poder desde a queda de Bashir em abril de 2019. Desde agosto, o país está sob o comando de uma administração cívico-militar, responsável por conduzir o país para uma transição democrática plena sob gestão civil. O objetivo é organizar, no fim de 2023, as primeiras eleições livres no país em três décadas.

Nos últimos dias, porém, a tensão aumentou entre os dois lados. Em 21 de outubro, dezenas de milhares de sudaneses participaram de passeatas em várias cidades para apoiar a transição de poder para os civis e contra-atacar uma “manifestação” iniciada dias antes, diante do palácio presidencial de Cartum, para exigir a volta do “governo militar (AFP)

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