COP26 decreta fim do petróleo

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COP26 está no quinto dia de reuniões, promessas, acordos, algum otimismo inesperado mas também muita frustração

O mundo continua a sofrer o impacto do aquecimento global: inundações permanentes onde não ocorriam cheias, incêndios que se prolongam por semanas ou colheitas secas que deixaram de poder de contar com a certeza anual da época das chuvas, como disse no seu discurso na abertura da COP26 a ativista queniana Elizabeth Wanjiru Wathuti.

Mas dentro das salas da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas o ambiente tem sido um pouco mais otimista do que o esperado.

Hoje, (23) novos países assinaram um acordo para desativar as usinas de carvão atualmente existentes (até 2030 para as nações mais ricas e até 2040 para as mais pobres) e não construir novas. Esta lista inclui alguns dos países que mais dependem desta matéria-prima, como o Vietnã, Chile e a Polônia. Dezenas de instituições bancárias também se comprometeram em deixar de emprestar dinheiro para a construção de novas usinas.

No total, 190 países, regiões, empresas e outras organizações comprometem-se com “o fim do carvão”, o soundbite do dia.

Ainda assim, as assinaturas ausentes são igualmente significativas – a China não se comprometeu com estas metas; a Índia, os Estados Unidos e a Austrália também não.

A Austrália, aliás, está quase a abrir a consulta pública junto de algumas comunidades costeiras sobre novos projetos de exploração de gás e petróleo – isto quando 80 países já assinaram um documento para reduzir as emissões de metano.

Não é por isso que esta notícia deixa de ser a mais importante neste quinto dia de COP26, segundo os especialistas; outros observadores, mais céticos, têm mais dificuldade em acreditar que alguma mudança tangível no mundo possa acontecer sem os supracitados monstros da indústria mundial.

Sozinho, o carvão é o maior responsável pelo aquecimento global que já está a provocar transformações dramáticas nas vidas de milhares de pessoas. “O caminho até às ‘emissões zero’ é irreversível, a questão é saber como é que vai estar o planeta quando chegarmos lá”, disse à BBC Pete Betts, antigo consultor da UE para as questões climáticas.

O carvão ainda produz 35% da eletricidade de todo o mundo e só a China possui cerca de 1300 usinas ativas que o utilizam essa fonte de energia. Em todo o mundo existem no total cerca de 2600 usinas.

O presidente da COP26, Alok Sharma, revelou que durante estes primeiros dias de conferência já foram prometidos pelos vários países 18 mil milhões de dólares (cerca de 108 milhões milhões de reais) para ajudar na transição do carvão para formas menos poluentes de produção de energia.

“Sabemos que essa transição deve ser justa e que novas ferramentas surgirão para nos vão ajudar a consegui-la – sejam doações de filantropos, bancos de fomento ou as contribuições do sector privado”, disse Sharma numa entrevista à imprensa.

Ed Miliband, ministro do Comércio do Reino Unido, falou em “falhas enormes” por parte da China e de outros países que são fonte de uma grande fatia de emissões.

Também esta quinta-feira, num compromisso separado, mais 25 países, incluindo os Estados Unidos, prometeram acabar com o financiamento público para exploração de combustíveis fósseis no exterior até ao final de 2022. Esta meta destina-se apenas aos projetos que usam os chamados “combustíveis fósseis não-abatíveis”, ou seja, aqueles que queimam combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, sem usar tecnologia para capturar as emissões de CO2.

A INDÚSTRIA DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS IRÃO À FALÊNCIA EM BREVE

Os países que demorarem a descarbonizar sofrerão danos econômicos comparáveis a uma grande crise global como a de 2008 se o consumo de combustíveis fósseis desacelerar bastante nos próximos tempos, avisa um novo estudo coordenado pela Universidade de Exeter, no Reino Unido.

Os resultados focam-se no risco de que algumas empresas possam produzir muito mais petróleo e gás do que o necessário para a procura futura. Milhares de empresas podem ficar com aquilo a que o estudo chama “ativos ociosos” – infraestrutura, terrenos, fábricas e investimentos cujo valor pode cair ao ponto de já não ser possível lucrar de forma alguma.

“Na pior das hipóteses, as pessoas vão continuar a investir em combustíveis fósseis até que, de repente a procura que esperavam vai deixar de existir, e muitas vão acabar percebendo que o que possuem não vale mais nada. Podemos deparar-nos com uma crise financeira à escala de 2008”, disse, citado pelo “Guardian”, o coordenador do estudo, Jean-Francois Mercure.

SEGUEM OS PROTESTOS

Depois de notícias relativamente animadoras, normalmente alguém chega com outra perspectiva menos risonha e todos os dias desta conferência têm sido também marcados por grupos de ativistas em protesto que tentam alertar para problemas que, no seu entender, ainda não receberão a atenção devida por parte dos delegados presentes.

Esta quinta-feira, um grupo de três pessoas juntou-se em Glasgow, onde ocorre a conferência, para protestar contra a pesca intensiva. Com enormes máscaras de cabeça de peixe, peixes mortos nas mãos e uma mancha de água ensanguentada na calçada, pediram o fim “da pesca industrial, corrupta e destrutiva” e exigiram que o Conselho da Autoridade Marítima (MSC na sigla em inglês) que “permite aos seus membros pagar para entrar” e “não os obriga a fazer distinção, nos rótulos dos produtos, sobre a proveniência do peixe”.

Pelas ruas da cidade escocesa desfilaram milhares de pessoas revoltadas contra o que consideram “o branqueamento” ou, em cores mais adequadas ao momento, ao “esverdeamento” de algumas instituições até agora parte do problema e que, de repente, se autointitulam  ativista do clima: bancos e empresas com atividades altamente poluentes foram os principais alvos, muitos deles assinaram esta quinta-feira vários compromissos com governos de todo o mundo com metas para a descarbonização.

Os líderes da indústria acreditam que podem contribuir para o problema, os ativistas examinam os precedentes históricos e não acreditam que desta vez seja mesmo a sério.

SEQUESTRO DE CARBONO NA ÁFRICA “PODE SALVAR O MUNDO”

Também esta quinta-feira, várias nações africanas reuniram-se para pedir investimento na preservação das “depósitos de carbono” do continente, isto é, solos, mares, lagos e florestas, já que são elementos que ajudam à purificação do ambiente por conseguirem captar e aprisionar moléculas poluentes da atmosfera. “É a África que vai salvar o mundo”, disse a ministra do ambiente do Uganda, Beatrice Anywar.

O desflorestamento já foi tema nesta conferência. Na terça-feira, 110 líderes mundiais (cujos países representam 85% de todas as florestas do mundo) assinaram uma declaração onde prometem acabar com o desmatamento até 2030. Mas a controvérsia não demorou a aparecer. Imediatamente, em comunicado, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia, que assinou este documento, veio dizer que nada no texto “garante que os países cumprirão a meta até 2030”.

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