Uma empresa de saúde norte-americana manteve relações com o laboratório de Wuhan, para onde enviou amostras de vírus destinadas a estudos de ganho de função
A EcoHealth Alliance, empresa de saúde dos EUA, enviou amostras de um vírus encontrado em morcegos no Laos entre junho de 2017 e maio de 2019 para estudo no Instituto de Virologia de Wuhan, China, relata no domingo (21) o tabloide Daily Mail.
Os e-mails, revelados pelo grupo de direitos dos animais White Coat Waste Project, indicam que vírus de “morcegos e de outras espécies de alto risco” foram enviados para pesquisas, as quais, como relatos anteriores mostraram, incluíam estudos de ganho de função (edição genética de organismos para melhorar suas funções biológicas). Os cientistas pretendiam estudar a possibilidade desses patógenos de origem animal saltarem para humanos.
A pesquisa foi financiada pelo Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID, na sigla em inglês) dos EUA, embora os Institutos Nacionais da Saúde norte-americanos neguem ter ordenado ou aprovado o uso do método de ganho de função.
No entanto, os NIH confirmaram que a EcoHealth Alliance realizou realmente essa pesquisa, que é considerada perigosa por especialistas devido à possibilidade de liberar acidentalmente ao mundo vírus altamente contagiosos e mortíferos.
Que significado teria a descoberta?
O vírus do morcego de Laos que a EcoHealth Alliance enviou ao laboratório de Wuhan, conhecido como Banal-52, demonstrou uma semelhança de 96,8% em seu genoma com o do SARS-CoV-2, que causou a pandemia mundial. Isso levou alguns veículos de imprensa dos EUA a indicarem que tal fato seria mais um sinal em apoio às afirmações de funcionários e agências de inteligência norte-americanos de que o SARS-CoV-2 teve origem no laboratório do Instituto de Virologia de Wuhan.
O vírus Banal-52 possui uma semelhança de 96,8% com o vírus que causou a atual pandemia, sendo mais semelhante do que alguns dos vírus encontrados em cavernas de morcegos na China, que também foram estudados no laboratório de Wuhan. A surpreendente semelhança entre os dois coronavírus levou os cientistas a especular que a linhagem do morcego do Laos poderia de alguma forma ter dado origem ao SARS-CoV-2.
No entanto, não está claro se as experiências de ganho de função com os coronavírus que a EcoHealth Alliance conduziu no laboratório de Wuhan podem realmente explicar uma diferença genética tão grande, nem se as autoridades dos EUA poderiam permanecer sem conhecimento de tais experiências perigosas, que foram financiadas pela Casa Branca.
Os EUA têm sido uma das fontes principais na promoção da teoria de que o Instituto de Virologia de Wuhan vazou acidentalmente o SARS-CoV-2 durante experiências, uma declaração defendida repetidamente pelo ex-presidente Donald Trump (2017-2021) e explorada por Joe Biden, atual chefe de Estado do país. No entanto, as investigações das agências de inteligência norte-americanas não conseguiram encontrar evidência sólida para tais afirmações. A própria China também as negou.