Edgard Parrales foi sequestrado por homens não identificados perto de sua casa em Manágua, afirmam sua esposa e uma defensor de direitos humanos
O ex-embaixador da Nicarágua na Organização dos Estados Americanos OEA – que criticou o presidente Daniel Ortega – foi preso em Manágua, segundo sua esposa e um defensor de direitos humanos.
Edgard Parrales foi sequestrado por homens não-identificados perto de sua casa na segunda-feira, disseram sua esposa, Carmen Dolores Cordova, e a presidente do Centro de Direitos Humanos da Nicarágua, Vilma Nunez.
“Eles o prenderam em casa, não eram policiais uniformizados, mas duas pessoas em trajes civis que o levaram em um carro”, disse Nunez.
Ele havia denunciado como “absurdo” o anúncio de Ortega sobre os planos de se retirar da OEA, órgão regional que acusou o governo de Ortega de atos de repressão e fraude eleitoral no início deste mês.
“Não é tão fácil sair da OEA”, disse Parrales. “Demora dois anos para que isso entre em vigor, durante os quais a Nicarágua ainda está comprometida, por lei, com o respeito aos direitos humanos.”
Parrales foi um dos poucos analistas políticos dispostos a criticar abertamente Ortega, que foi acusado de uma repressão generalizada à dissidência, nos últimos meses. Jose Miguel Vivanco, diretor executivo da divisão das Américas da Human Rights Watch, denunciou a prisão.
“A mensagem de Ortega é clara: ele vai atrás de qualquer um que o critique”, disse Vivanco no Twitter.
Ortega foi eleito para um quarto mandato consecutivo em eleições que foram amplamente condenadas como ilegítimas depois que sete prováveis adversários foram presos e encarcerados antes da votação.
A Assembleia Geral da OEA votou pela condenação das eleições, afirmando que “não foram livres, justas ou transparentes e carecem de legitimidade democrática”.
Vinte e cinco países nas Américas votaram a favor da resolução, enquanto sete – incluindo o México – se abstiveram. Apenas a Nicarágua votou contra. A Frente Sandinista de Ortega e seus aliados controlam o congresso e todas as instituições governamentais.
Ortega serviu pela primeira vez como presidente de 1985 a 1990, após a revolução de 1979 que derrubou a ditadura da família Somoza, antes de retornar ao poder em 2007.
Mas os críticos dizem que o governo de Ortega passou a se parecer com o governo ao qual ele resistia. Isso ficou particularmente visível durante os protestos antigovernamentais em 2018, que viram uma violenta repressão por parte das forças de segurança e grupos armados pró-governo. Dezenas de manifestantes foram presos e mais de 300 pessoas foram mortas durante os protestos, com Ortega condenando os manifestantes como “terroristas”.
O governo não comentou a detenção de Parrales.