Com banco de questões velho, Enem ignora pandemia e aquecimento global

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
No Rio, segundo dia de provas do Enem tem protestos contra o governo Bolsonaro. No segundo dia de avaliação, estudantes fizeram provas de matemática e de ciência da natureza (Valter Campanato/Agência Brasil)

O segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) evidenciou o envelhecimento do banco de questões que compõem o teste. Neste domingo, 28, estudantes fizeram as provas de Ciências da Natureza e Matemática. Não caíram temas mais atuais, como a pandemia de covid-19, e a prova se mostrou mais conteudista – com questões diretas, que exigiam do estudante fórmulas e menos interpretação.

Como o Estadão mostrou, o Banco Nacional de Itens, onde estão as questões que vão fazer parte das provas do Enem, não foi atualizado em 2020 e 2021, por causa da pandemia. O tamanho do banco hoje é limitado – não deve ter mais de 200 questões.

O Enem deste ano ocorreu em meio à crise interna no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Às vésperas da prova, servidores pediram exoneração por discordarem da gestão do presidente, Danilo Dupas. Também denunciaram pressão pela retirada de questões do exame, porta de entrada para o ensino superior.

Na prova deste domingo, apesar de caírem questões sobre o desastre ambiental em Mariana (MG), ocorrido em 2015, dengue e carros elétricos, assuntos como coronavírus, vacinação, aquecimento global e Floresta Amazônica não apareceram. “É uma prova que não consegue puxar muito para temas atuais, o que demonstra escassez do banco de itens”, diz Fernando Santo, gerente de Inteligência Educacional e a Avaliações do Poliedro.

Os enunciados traziam textos retirados de sites ou reportagens publicados há pelo menos três anos. O que foi visto na prova do Enem deste domingo difere da expectativa para outros vestibulares, como a Fuvest (da Universidade de São Paulo), exame mais atual, elaborado meses antes da aplicação.

Causou surpresa a prova de Biologia, com menos Ecologia – que tradicionalmente cai em peso no exame – e mais questões específicas de Botânica. “Foi diferente do tradicional. O aluno precisava de conhecimento, muitas vezes aprofundado e as questões estavam relativamente diretas, não tinham tantos textos introdutórios”, diz Guilherme Francisco, professor de Biologia do Curso e Colégio Objetivo.

Para Santo, o conteudismo também se revelou em Matemática e Física, com comandos diretos e pouco contexto. Na prova de Física, por exemplo, uma das questões só poderia ser resolvida se o estudante lembrasse a fórmula – uma “novidade para o Enem”.

O professor acredita que a montagem da prova ficou refém de um banco de itens pequeno – por isso, o aumento de questões menos interpretativas e mais diretas. “Ao longo dos anos, naturalmente foram escolhidas as melhores questões do banco.”

A mudança foi sentida pelos candidatos. Bacharel em Educação Física, Jefferson Cruz, de 35 anos, fez o Enem em 2012 e voltou este ano. “Vi uma prova diferente, bem técnica, feita para testar o conhecimento ao extremo.”

Protestos

Protestos contra o governo de Jair Bolsonaro marcaram o segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). “Enem da desigualdade”, “o mais elitista da década” e “mais cotas, menos Bolsonaro” eram algumas das palavras de ordem em cartazes do lado de fora do local de prova.

Os portões foram abertos às 12h e fechados pontualmente às 13h. Faltando dez minutos para às 13h, os retardatários começaram a correr para não perder o horário, com o apoio de professores e monitores de cursinhos pré-vestibular, que foram para a porta da universidade prestar solidariedade aos alunos. “Estamos torcendo por vocês”, diziam.

Uma jovem que chegou na garupa de uma moto poucos minutos após o fechamento dos portões ainda tentou negociar sua entrada com os seguranças sem sucesso. Saiu chorando e não quis falar com a imprensa. Mas recebeu o apoio dos professores: “Ano que vem tem de novo, vai dar tudo certo.”

Uma tenda solidária também foi armada na porta da universidade, distribuindo canetas pretas, máscara e água para os jovens. A prova deste domingo tem 90 questões de ciências da natureza e matemática. No Rio, 218.200 alunos estavam inscritos para a prova.

Voz do Pará com informações Agência Estado

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