Comentário sobre o livro recém-editado de Anselm Jappe
O novo livro de Anselm Jappe é subdividido em sete capítulos entre o prólogo e um apêndice. Na breve introdução o autor usa do mito de Erisícton para oferecer um panorama geral do tema de seu estudo, relacionando a fome insaciável do protagonista – que chega a devorar o próprio corpo – à situação do capitalismo contemporâneo.
Jappe introduz dois temas centrais e interligados para a exposição de seu pensamento: o fetichismo da mercadoria e o narcisismo. Um sistema insaciável, que não pode frear a busca incessante pelo mais valor, cada vez mais dependente de produções massivas, além de consumir a si próprio acaba por dar forma a um sujeito que o autor denomina como narcisista.
A personalidade narcisista não surge com a sociedade de mercado. Há diversos fatores objetos de estudo da psicanálise a apontar causas da personalidade egocêntrica e narcísica. Porém, é possível estabelecer uma relação entre a afluência da personalidade de traços narcísicos em profusão e o desenvolvimento do sistema de trocas mercantis.
“Do fetichismo que reina nesse mundo”. Com este título o primeiro capítulo procura mostrar que o germe das características que moldam o “homem moderno” já se encontrava presente em ideias de diversos pensadores desde o início do que se pode chamar de sociedade de mercado. Entre fetichismo e narcisismo a conexão é direta desenvolvendo-se paralelamente no percurso histórico da sociedade capitalista. O sujeito automático, em termos marxistas, é fonte do narcisismo observado na sociedade moderna.
O pensamento de Descartes mostra-se como exemplar do movimento em prol da ascensão do ego, do indivíduo cada vez mais isolado e nutrindo sentimentos de prepotência em relação ao mundo. A separação entre corpo e alma, a prevalência do espírito humano como criador apartado do mundo; a submissão e até negação do que é da ordem do sensível – ligado à matéria –; as questões do intelecto separadas do meio material que a cercam encontrados no pensamento de Descartes são ilustrativas da presença em expoentes do pensamento moderno de certa hipertrofia do sujeito, apartado do mundo que o rodeia.
Diferentemente de períodos anteriores nos quais a força da religião era praticamente determinante do pensamento humano o narcisismo comporta um indivíduo que não se reconhece como parte do todo, não se integra ao meio. Pelo contrário, o ambiente que o cerca deve submeter-se a seus desígnios.
A negação da ordem do sensível, do que se aplica aos sentidos, em contraponto à superioridade da razão, está presente também nos pensamentos de Kant e de Sade. De maneiras distintas ambos contrapõem o racional e a disciplina a um mundo dominado pela vontade, por um irracionalismo tido como quase animal dado pelo que se relaciona com a matéria.
Se em Kant o domínio do intelecto que não é constrangido pelo meio é sinônimo de liberdade, para Sade a disciplina e o auto-controle são formas corretas de se atingir os fins. A superioridade de um espírito que não se integra ao mundo sensível de forma irrefletida, que o evita como se este estivesse relacionado ao animalesco, todo esse pensamento remete ao elevado do mundo da razão, do recolhimento, isolamento e abstração do meio material. Em Sade esta ausência de mundo dá fruto a um desejo de destruição de um ambiente vazio de significados.
Narcisismo e capitalismo
O tema do narcisismo foi tratado de forma lateral por Freud, contendo comentários esparsos ao longo de sua obra. Anselm Jappe retoma diversas dessas abordagens culminando em exposições posteriores a 1920 quando as distinções entre “id”, “ego” e “superego” estavam colocadas.
Em poucas palavras o narcisismo seria equivalente ao sentimento de onipotência da criança ligada à mãe após o nascimento, que entende o mundo como submisso a seus desejos. Para ser mais preciso, o tema envolve categorias distintas como onipotência e dependência. A dependência natural do bebê em relação à mãe dada sua quase nula autossuficiência. Em paralelo há um sentido de onipotência seja do bebê seja no pré-natal do ser que satisfaz suas necessidades sem grandes esforços.
Nesse momento o princípio do prazer reinaria de forma soberana. A posterior realidade da separação e do enfrentamento dos desafios do mundo objetivo é colocada com certo sofrimento. Porém, essa separação e consciência dos infortúnios da vida real acabam por proporcionar a elevação do eu, uma complexificação do entendimento da realidade objetiva e desenvolvimento individual.
O narcisismo primário, em termos freudianos, remete ao retorno a um estado intrauterino de fusão total, de completa calma. A referência ao Nirvana lembra um estado sem perturbações ou turbulências, livre de um mundo repleto de enigmas, interrogações e desafios.
O narcisismo como forma social é algo distinto da forma patológica, subjetiva. Mesmo que haja diversas abordagens sobre o tema as considerações dessa obra convergem para um sintoma decorrente primordialmente da forma social moderna e contemporânea na qual o sujeito está inserido. No caso da forma objeto da psicanálise as coisas estão mais diretamente ligadas a relações a que o indivíduo está submetido na infância, em geral no seio da família. Ainda que existam conexões entre elas é salutar manter certa distância entre as abordagens, principalmente nas causas dos fenômenos observados. Os sintomas têm muito mais conexões, diferindo, quem sabe, na intensidade. De qualquer forma, pode-se dizer que as relações do sujeito narcísico com os objetos são de projeções de seu ego. Não há relações enriquecedoras, apenas maneiras de alimentar seu próprio eu.
Retomando o percurso do pensamento ao longo do progresso da sociedade capitalista, mas agora analisando a crítica social que surgiu no início do século XX, pode-se dizer que a psicanálise foi absorvida de forma controversa pelo pensamento crítico logo no começo. Desde Lukács há uma miríade de maneiras de julgar as análises freudianas. Desde sua não aceitação por tratar-se de uma teoria um tanto naturalista que não remete a influências e transformações de ordem social, até uma excessiva importância dada à libido como energia transformadora, as coisas da mente foram se incorporando às análises sociais de formas distintas por vários pensadores no último século.
Um debate bastante acalorado entre representantes da escola de Frankfurt é discutido nesse capítulo. Tanto Adorno quanto Marcuse se envolveram em críticas à maneira de abordar a psicanálise por representantes do que nomearam “revisionistas freudianos”, especificamente Erich Fromm. Muito resumidamente as ideias de Fromm ligam-se menos às questões tidas como “biológicas” de Freud, como a libido e o complexo de édipo, e dão mais relevância a questões culturais, como a educação, para superar o estado de coisas dado pelo formato repressivo da sociedade.
Para Adorno e Marcuse era como se Fromm e os revisionistas considerassem a possibilidade de superação dos problemas sociais inseridos na lógica da sociedade capitalista sem que essa lógica precisasse ser submetida a grandes transformações. Por outro lado para esses autores esse Freud “biologista”, afastado das análises de Fromm, aponta os sintomas de uma sociedade atomista, repressiva e individualista. Ou seja, seria uma análise muito mais realista do que a de Fromm.
Para Marcuse a repressividade geral se revela na primeira infância, algo que os revisionistas davam menor importância. Marcuse, como é sabido, conferia grande valor à evolução tecnológica e às possibilidades de superação de repressões libidinais que se dariam pela liberação do trabalho excessivo e intenso. Essa liberação de pulsões dada pela diminuição do tempo de trabalho proporcionaria uma sociedade mais equilibrada.
O debate envolve diversas complexidades, mas, como é possível notar, se dá dentro dos limites da ordem capitalista. O sujeito automático da lógica fetichista continua intocável.
O debate social envolvendo a psicanálise alongou-se pelo século XX, porém, a categoria narcisismo ganhou corpo apenas na década de 1970 através de Christopher Lasch. Lasch vincula o narcisismo a diversas características identificadas no pós-guerra, especialmente a partir dos anos 1970. O aparecimento da família moderna, com o declínio da figura do pai opressor, a diminuição da importância da pequena empresa familiar, a abundância da mercadoria, tudo isso contribuiria para o declínio da figura repressora e autoritária e a ascensão de um ego inflado do sujeito.
A sociedade capitalista contemporânea atribui ao indivíduo a responsabilidade pelo sucesso. Ao mesmo tempo limita as condições para tanto. O superego originado a partir de figuras repressoras facilmente apontadas como o pai ou um empregador opressor é substituído por um superego cujas fontes estão diluídas no meio social conferido por um ambiente individualista, que atribui o sucesso de cada um a seu próprio esforço. Por conseguinte, o fracasso advém dessa mesma condição.
Como diz Jappe “os cidadãos da sociedade contemporânea oscilam permanentemente entre sentimentos de onipotência e de impotência”. Sentimentos muito próximos aos do recém-nascido e sua relação com a mãe. Há uma tentativa de controlar o mundo à sua volta, gerir o entorno para que o meio seja submetido a seu proveito.
Mesmo apontando causas ligadas à sociedade capitalista desenvolvida (ele também leva em conta a sociedade de consumo como promotora do perfil narcisista), Lasch não vai no âmago da questão relativa às causas maiores desse fenômeno. Tanto ele quanto críticos anteriores da sociedade desenvolvida mantém sua análise internamente à ordem capitalista, propondo soluções que não a superam.
Em continuação ao maior capítulo do livro, Jappe investe em caracterizar melhor esse fenômeno na contemporaneidade.
A ligação direta entre tecnologia e narcisismo pode ser dita de forma abreviada como se se tratasse de um traço de magia. Apertar um botão é o suficiente para se obter o que se deseja. Ao mesmo tempo a relação de dependência é total. Fontes de energia, alimentos e emprego têm origem tão exterior ao indivíduo que ele pode deixar de ter acesso a elas sem qualquer ingerência sobre isso. Novamente a dinâmica onipotência/ impotência presente no narcisismo freudiano se apresenta.
Ao não estabelecer relações mais “complexas” com os objetos o narcísico não enriquece seu mundo interior, tem sua evolução psíquica e senso crítico podados. O mundo à sua volta deve estar a seu dispor. O que atrapalha, dificulta, desafia acaba afastado.
Anselm Jappe usa exemplos do dia a dia para ilustrar o significado do encontro com si mesmo. Vinhos ajustados para atender aos paladares, o realce do gosto adocicado nos alimentos, até museus que se apresentam extremamente didáticos. Há um sem número de exemplos de ajustes e adaptações para que os objetos se apresentem como facilmente consumíveis e vendáveis. Quanto menos a ser decifrado, menores nuances, melhor.
O narcísico busca apenas se reconhecer no mundo que o rodeia. Os objetos são espelhos de seu ser, que, pouco desenvolvido, busca relações com o que já lhe é familiar investindo pouco no enriquecimento de seu eu. Tal qual o trabalho abstrato as relações narcísicas com o mundo são voltadas mais à quantidade do que à qualidade. Fetichismo e narcisismo como faces da mesma moeda.
O pensamento contemporâneo perante o fetichismo.
É possível distinguir-se duas fases preponderantemente presentes nos últimos 250 anos do capitalismo: uma fase “ edipiana” autoritária e uma fase “narcísica” de diluição do autoritarismo e maior permissividade, que tem seu início apontado para o começo da século XX, mas que a partir da década de 70 encontrou seu auge.
A fase narcísica é marcada, como já dito, pela potencialização do individualismo e desintegração com o meio. O interesse individual prevalece, não o coletivo. A busca do gozo sem limites como apontado pelo filósofo Dany-Robert-Dufour. Dufour cita Freud para quem o imperativo categórico kantiano estava diretamente ligado ao complexo de édipo no trajeto à consciência.
Fica simples apontar uma correlação entre as características da modernidade, onde a autoridade se diluiu, e uma formação problemática do sujeito, sob a ótica edipiana. O desejo barrado pela figura autoritária busca saídas através de neuroses e sublimações. Esse desejo, que antes era impedido, passa, nas palavras de Dufour, “a ser substituído pela fruição direta”. Deixa de haver o filtro dificultador – muitas vezes autoritário – e formador do caráter, para dar lugar à personagem do consumo incessante.
É como se essa figura limitadora desse lugar a um estado de completa liberdade ao ser, ser esse submetido e limitado ao princípio do prazer, e esse sujeito passasse a ser tragado pelo espetáculo das mercadorias, que lhe confere possibilidades infinitas de satisfações. Em vez de a emancipação da autoridade paterna conduzir a uma autonomia ela leva à dependência de estímulos e satisfações constantes tal qual se dá com a figura do recém-nascido.
Ainda que tendo apontado para o lado correto da questão, Dufour e os chamados neo lacanianos – segundo Jappe – erram ao considerar a fonte dos problemas como sendo a perda da função do pai na modernidade, conduzindo a uma condição de pulsões sem limites. Ele também não teria direcionado a crítica para o cerne da questão, que estaria na ordem capitalista e sua forma desenvolvida.
Essa forma desenvolvida do capitalismo inclui, como indicado por Boltanski & Chiapello em O novo espírito do capitalismo, maneiras de adaptação do capital às críticas recebidas da sociedade. Os protestos de 1968 continham exigências de aumento de salário para os trabalhadores e maior autonomia. Os gestores acabaram por incorporar a demanda por mais autonomia e a ordem capitalista se reinventa adaptada a parte das críticas que recebia. O universo do capital passa a ficar mais flexível tal qual a própria sociedade que vinha se modificando.
São diversas características que se pode considerar como sinalizadoras das mudanças ocorridas na sociedade desenvolvida. O “ desaparecimento da infância” e a “infantilização dos adultos” são duas delas.
No caso das crianças nota-se sua participação intensa na exploração econômica através do consumo. É possível perceber isso ao se dar conta dos investimentos maciços da indústria de propaganda nessa faixa etária.
Em paralelo há um “empobrecimento do imaginário”. Submetida a um oceano de imagens desde a mais tenra idade a criança tem dificultado o seu desenvolvimento criativo limitado ao que é dado.
No caso dos adultos e seu regresso infantilizador percebe-se a diminuição das barreiras entre comportamentos considerados anteriormente como infantis e comportamentos de adultos. Jogos, imediatismo, desfrute, consumo mordaz. Atributos antes elencados como infantis hoje são características aceitas e incentivadas em adultos. O próprio mundo do trabalho se transfigurou para se apresentar como divertimento e atualmente é difícil determinar as fronteiras entre trabalho e lazer, tanto um como outro submetido às regras da concorrência e do rendimento.
O progresso tecnológico permitiu a simplificação dos procedimentos utilizados pelo usuário. O trabalho não demanda mais uma formação lenta e apurada ligada à experiência. É notável a substituição da experiência pela emoção e por acontecimentos. Remetendo à Fenomenologia do Espírito de Hegel e ao percurso da consciência em sua formação através do acúmulo de experiências vividas Jappe reforça uma importante característica do sujeito do capitalismo desenvolvido: o diminuto espírito crítico.
O narcísico tem dificuldade em viver experiências por sua própria condição de estabelecimento problemático de relações com os objetos e busca apenas a si mesmo no mundo que o rodeia. Ao estabelecer poucas relações e pouco se desenvolver o narcísico considera-se auto-suficiente, detentor de muitas respostas posto se perceber senhor de si. Por não estar aberto a experiências e relações, pois sente-se em paz no encontro consigo mesmo, com o que já conhece, o espírito narcísico comunga um sentimento de tudo conhecer e estar à sua disposição. Soma-se a fugacidade e superficialidade que acalmam as sensações. Onipotência e impotência, pulsão de morte, nirvana: características que estão sempre à volta do sujeito que se forma.
A crise da forma sujeito
Anselm Jappe é um pensador da crítica do valor, que considera a forma estruturante da sociedade capitalista como causa primeira das agruras da sociedade de mercado. À diferença da luta de classes para a crítica do valor o nevrálgico que sustenta o capital são o trabalho abstrato, o valor, o fetichismo da mercadoria. O vazio do trabalho abstrato, que não contempla diferenças ou qualidades, apenas quantidades, correlaciona-se à forma sujeito contemporânea, conformada pela sociedade que a rodeia.
Tal qual o trabalho abstrato a forma sujeito é esvaziada de conteúdos. Ao não estabelecer relações intensas com os objetos o narcísico vive um excesso de si mesmo, pouco desenvolvido e dependente de frequentes sensações e estímulos vazios de significados. Esse vazio existencial conduz a uma busca de preenchimento através do que possibilite o reconhecimento a qualquer custo. A violência ao exterior e ao interior no limite revela-se como uma maneira de diminuir essa pulsão sem direcionamento certo.
A pulsão de morte como diminuição de tensões, na forma freudiana, como maneira de buscar um estado de nirvana onde reine a calma é caracterizada pelo empenho em encontrar uma situação similar à de fusão do pré-natal, comparável ao estado narcísico. A violência perpetrada por home schoolings ou outras formas de mortes em escala em muitos casos tem como característica a busca por saídas do vazio existencial narcísico da forma contemporânea de sujeito.
Se por um lado o sujeito narcísico contemporâneo no limite pode recorrer a formas extremas de superar seu estado de individualidade e vazio interior atentando, inclusive, contra sua própria vida, por outro a sociedade capitalista se auto devora ao consumir sua fonte de valor representada pelo trabalho vivo. E ao consumi-lo se obriga a impulsionar cada vez mais a busca pelo lucro num movimento que não pode cessar.
Isso não significa uma derrocada natural da sociedade capitalista, pelo contrário. Pode significar o impulso a uma forma de barbárie tão acentuada quanto mais definhe sua fonte de mais valor.
O que fazer com esse mau sujeito?
Anselm Jappe imaginou como primeiro título dessa obra “As aventuras do sujeito” como continuação a sua obra anterior As aventuras da mercadoria. Ao traçar as modificações da forma sujeito ao longo do tempo em paralelo à ascensão da sociedade capitalista desenvolvida e da dominação da forma mercadoria Jappe revela a integração entre sujeito e mercado que se formam e se modificam em conjunto.
Mesmo não se declarando um materialista histórico, Jappe nutre-se da fonte do materialismo ao considerar o inconsciente como formado a partir de estímulos e percepções do dia a dia. Ligados necessariamente a formas de sobrevivência, produção e consumo. O sujeito automático, figura que representa o valor, é a grande força motriz que coordena o mundo do capital e dá forma ao meio material e aos indivíduos que agem como coisas submetidas ao movimento mágico das mercadorias. O fetichismo da mercadoria na fórmula marxista.
O individualismo e a competitividade, característicos do modo de vida da sociedade contemporânea, são decorrência direta da forma mercantil dominante. A busca por interesses individuais sem preocupações com o entorno, o ambiente sendo usado apenas como recurso para obtenção de fins de benefício próprio. O afastamento do mundo, a não integração e pouca vivência de experiências verdadeiras são, como já visto, características do narcisismo.
Todos os atributos tecnológicos facilitadores e promotores de imagens representam – além do fortalecimento da figura do ser que espera tudo à mão rapidamente sem considerar o aparato social por traz de qualquer produto ou serviço – um declínio na difusão da leitura e de capacidades criativas e de raciocínio. A própria crise ecológica se mostra de difícil solução numa realidade em que se faz necessário ganhos cada vez maiores de produtividade.
Encerro aqui a tentativa de condensar em poucas linhas o cabedal de ideias contido neste livro. As análises envolvendo os temas narcisismo e fetichismo muitas vezes são consideradas próximas a leituras pequeno burguesas, levando-se em conta que parte da humanidade encontra-se distante de padrões mínimos de consumo. Porém, mesmo que a ideia de uma sociedade de consumo na totalidade seja criticável, o ponto é que a forma sujeito vai se moldando e se influindo, se modificando aos poucos, gotejando mesmo em sociedades mais carentes do básico para se viver. O sujeito contemporâneo molda-se como categoria, como forma predominante de modos de agir e pensar em todos os cantos sob domínio da sociedade capitalista desenvolvida. Com nuances, mas se impondo.
Está é uma obra que tem a rara qualidade de ser ao mesmo tempo densa e agradável do início ao fim. Um livro que merece ser lido com vagar, pois extremamente rico de conteúdos e com conexões em áreas diversas do pensamento. Sem dúvida, uma grande obra.
por Alexandre Maruca | Outras Palavras
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