Capitólio: tragédia que poderia ter sido evitada

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Autoridades locais não agiram preventivamente, no sentido de evitar o pior

Ao contrário do que declarou o governador de Minas, Romeu Zema, a tragédia ocorrida em Capitólio, no sábado (08/01), não foi uma fatalidade. Como alguns especialistas afirmam, o incidente poderia ter sido evitado se as autoridades tivessem agido no sentido de orientar turistas e pilotos de lanchas sobre os sinais de perigo. Ao que tudo indica, há vários anos o talude que desmoronou no cânion do Lago de Furnas já apresentava rachaduras.

Um vídeo postado nas redes sociais mostra o súbito aumento no volume de água nas cachoeiras que circundam o cânion. Qualquer pessoa com um mínimo de inteligência deveria saber que uma cabeça d’água geralmente se forma, toda vez que a cabeceira do rio é atingida por um aguaceiro.

O perigo é real, sobretudo nesta época do ano, quando as invernadas se prolongam em várias regiões do Estado, causando sérios prejuízos. Será que os pilotos das lanchas de Capitólio nunca foram orientados a se afastarem das cachoeiras nessas ocasiões? As chuvas dos últimos dias não seriam motivo suficiente para que o acesso ao cânion fosse temporariamente bloqueado?

Outros vídeos mostram as pedras se soltando e caindo no lago, pouco antes da grande rocha se deslocar e atingir a lancha Jesus, ceifando a vida de dez passageiros. Turistas que testemunharam a tragédia tentaram em vão avisar aqueles que se encontravam perto das escarpas. O som alto das lanchas e o ruído das cachoeiras provavelmente abafaram os gritos de alerta.

Manobras arriscadas

Paisagem exuberante, o Lago de Furnas é um lugar ideal para o turismo ecológico. Contudo, quem já conhece a região deve ter notado que os passeios de lancha nem sempre são devidamente fiscalizados. Há cerca de 40 dias, quando estivemos lá, um dos braços do cânion estava fechado por medida de segurança. No entanto, em outro ponto, pareceu-nos arriscado o piloto avançar a proa sob uma queda d’água, para que os passageiros pudessem se refrescar.

Também estranhamos o fato do sujeito entrar na onda de jovens passageiros entusiasmados, aumentando o volume do som sem consultar os demais e fazendo a lancha balançar de um lado para o outro, a toda velocidade. A brincadeira certamente oferecia riscos, já que a maioria sequer usava colete salva-vidas.

Além disso, identificamos negligência sanitária num bar flutuante aos pés de uma escarpa. Ao perguntar onde ficava o banheiro, fomos informados que deveríamos nos dependurar numa escadinha ao lado do bar ou simplesmente entrar na água para fazer as necessidades. Pior que isso foi ver um funcionário limpando peixe na margem do lago, a alguns metros dali.

Tudo leva a crer que a tragédia de sábado resultou de negligência. As autoridades locais não agiram preventivamente, no sentido de evitar o pior. O município de Capitólio depende do turismo para sobreviver, mas a prefeitura não poderia subestimar a natureza nem deixar a segurança a cargo dos próprios turistas. O governo do Estado e a Marinha brasileira também devem explicações à opinião pública.

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