Desde o ano passado, Jeremy Grantham alerta para um colapso financeiro sem precedentes na história da economia moderna que deverá abalar os mercados de criptomoedas, ações, títulos e imóveis
É sempre muito difícil prever quando uma bolha financeira está prestes a estourar.
Segundo a Cointelegraph, no começo de 2021, o octagenário investidor Jeremy Grantham, fundador da firma de investimentos G.M.O., lançou um alerta aos seus clientes em um relatório intitulado “Esperando pela última dança”. Nele, Grantham fazia previsões sobre o ano que começava ressaltando os perigos de alocar investimentos em mercados de risco na fase final do que denominava uma “super bolha” financeira. Momentos como este, dizia, são aqueles em que fortunas são construídas e desperdiçadas, dependendo do nível de ganância dos investidores.
Quem tivesse levado sua advertência a sério teria perdido uma valorização de mais de 138% do Bitcoin (BTC) entre 1º de janeiro e 10 de novembro. Isso sem falar em outras criptomoedas cujos retornos foram muito superiores. Em 2021, o S&P 500 subiu 27% e o índice Nasdaq, 21%. Extamente um ano depois, um investidor hipotético que tivesse seguido o conselho de Grantham teria perdido grandes lucros.
Pouco mais de um ano depois, neste início de 2022, quem tivesse ouvido a advertência de Grantham poderia ter minimizado em muito as perdas substanciais que janeiro vem impondo aos investidores. Aos olhos de hoje, as palavras iniciais dde Grantham ganharam um novo sentido:
“O longo ‘bull market’ em curso desde 2009 finalmente amadureceu em uma bolha épica de pleno direito. apresentando supervalorização extrema, aumentos explosivos de preços, emissão frenética de moeda e comportamento histericamente especulativo dos investidores, acredito que este evento será registrado como uma das grandes bolhas da história financeira, junto com a bolha do mar do sul, a crise de 1929 e [a bolha ponto com de] 2000.”
Talvez a bolha não tenha estourado da forma traumática como previu o idoso investidor. Mas pode estar se encaminhando para esse desfecho, conforme sugere um artigo publicado na revista The New Yorker nesta segunda-feira.
Janeiro vermelho
Entre o pico de janeiro e o fechamento do pregão na sexta-feira, o S&P 500 caiu cerca de 8,3%, e o índice Nasdaq, cerca de 13%. No mesmo período, o índice VIX, que rastreia a volatilidade esperada e funciona como um índice para medir o medo do mercado, disparou cerca de 73%.
Enquanto isso, o Bitcoin registra 25% de desvalorização apenas neste mês. Desde a última máxima histórica, no não muito distante 10 de novembro, a maior criptomoeda do mercado caiu 46%.
Se Grantham estiver correto, a atual correção dos ativos de risco pode marcar o início de algo muito maior e muito mais danoso à economia como um todo e aos investidores em nível individual. Em um novo documento endereçado aos seus clientes datado de 20 de janeiro, Grantham escreveu que a bolha do mercado de ações que ele identificou em janeiro passado se transformou em uma “superbolha”, e agora engloba títulos, imóveis e, também commodities:
“O que é novo desta vez, e apenas comparável ao japão na década de 1980, é o perigo extraordinário de adicionar várias bolhas juntas, como vemos hoje com três classes e meia de ativos borbulhando simultaneamente pela primeira vez na história.”
As criptomoedas merecem um pequeno comentário em um trecho em que Grantham afirma que a recente queda antecipa “a fase final de estreitamento do mercado característica de uma grande bolha.”
O investidor acrescenta que o pessimismo ainda não tomou conta do mercado de forma incisiva. Quando isso acontecer, diz, testemunharemos “a maior redução potencial de riqueza na história dos EUA”.
Taxa de juros
Valorizações irracionais por si só não são capazes de provocar o estouro de bolhas. Não aconteceu na bolha imobiliária do Japão, nos anos 1980. Nem nos EUA, com o valor das ações de tecnologia da Nasdaq que triplicaram durante a virada do milênio.
O ato definitivo para provocar a derrocada do mercado em ambos os casos foi o aumento da taxa de juros. Motivado por temores inflacionários, os mesmos que assolam a economia americana e a administração de Joe Biden nos dias de hoje, Alan Greenspan aumentou a taxa de juros em um ponto percentual, de 4,75% para 5,75%, entre 1999 e 2000. Em março a bolha explodiu, acumulando uma retração de 60% um ano depois. No Japão, o aumento foi de 2,5% para 6%, provocando um aumento ainda maior no preço dos imóveis ao mesmo tempo que a bolsa japonesa desvalorizou-se em 35%.
Esta semana o Banco Central Americano (FED) fará a sua primeira reunião anual para discutir a política monetária a ser implementada e a expectativa, tanto do mercado quanto da mídia especializada, é de que o primeiro de uma série de aumentos na taxa de juros seja levado à cabo já em março, quando o FED volta a se reunir.
Minimizando as previsões cabalísticas de Grantham, analistas de Wall Street e do mercado de criptomoedas acreditam que mesmo que haja aumentos nas taxas de juros ao longo do ano, o índice ainda ficará abaixo de sua média histórica. E taxas de juros baixas favorecem os mercados de risco. Além disso, apesar da valorização do mercado acionário no ano passado, os valores dos papéis das empresas não estão exacerbadamente acima dos ganhos das empresas como ocorreu durante a bolha ponto com.
Os analistas também apostam que o mercado já teria precificado a esperada alta da taxa de juros com as recentes correções tanto no que diz respeito às ações quanto às criptomoedas.
Embora tenha acertado em suas previsões sobre o mercado acionário do Japão nos anos 1980, a bolha ponto com nos anos 2000 e a crise das hipotecas subprime em 2008, Grantham errou em outras ocasiões.
Desde pelo menos 2011, quando o S&P 500 estava em cerca de 1.300 pontos, ele vem alertando sobre um possível colapso da bolsa que desde então não se materializou. Em 2015, ele disse que o mercado estava “maduro para um grande declínio” no ano seguinte, quando o Dow Jones Industrial Average fechou o ano com uma alta de 13,4%, apesar de um começo difícil parecido com este de 2022.
A história se repete
Grantham termina sua reflexão relembrando uma história pessoal para ilustrar como investidores envolvidos em frenesis especulativos não costumam dar ouvidos às advertências dos mais velhos sobre a natureza cíclica do mercado – e das bolhas financeiras. Ele já desempenhou um papel oposto ao que lhe cabe hoje e desperdiçou o dinheiro fácil que havia feito apostando em ações especulativas sem dar ouvidos àqueles que tentaram lhe avisar que a farra se aproximava do fim.
O último ciclo de baixa do mercado de ações está tão distante hoje que a mentalidade de comprar a baixa parece estar enraizada na psicologia dos investidores. O mercado de criptomoedas é mais volátil e seus ciclos são mais curtos. Mesmo assim, como há novos investidores que compraram suas primeiras criptomoedas em 2021, o ano em que a “alta infinita” parecia uma promessa a se realizar, a memória de um mercado baixista para muitos nem sequer existe.
Sendo inevitável, a única coisa que os investidores podem fazer em tempos de incerteza como agora é medir suas ações com cuidado para ter algum controle sobre como irão lembrá-lo: como vencedores ou vencidos.
Via Cointelegraph Brasil