O que levou a maior economia da Europa ao colapso?
O declínio do “milagre alemão” e os desafios do futuro
A Alemanha, conhecida por décadas como a potência econômica da Europa, enfrenta uma crise sem precedentes. O modelo que sustentou seu crescimento por anos está obsoleto, deixando o país à mercê de mudanças tecnológicas e geopolíticas que transformaram o cenário global. Com sua economia estagnada e setores industriais em queda, as consequências ultrapassam as fronteiras alemãs e ameaçam toda a União Europeia.
O início do “milagre alemão”
O milagre econômico alemão teve origem no pós-Segunda Guerra Mundial, quando o país se reinventou com uma economia baseada na engenharia e na indústria pesada. Na década de 2000, viveu uma segunda onda de prosperidade com o gás barato da Rússia e a expansão do mercado global, especialmente com a China. Entre 2005 e 2015, a Alemanha consolidou sua posição como líder industrial e referência mundial de eficiência.
No entanto, essa dependência de mercados específicos, como o gás russo e a demanda chinesa por bens industriais, tornou-se o calcanhar de Aquiles da economia alemã.
O que deu errado?
Wolfgang Münchau, analista e autor do livro Kaput: The End of the German Miracle, explica que o declínio da Alemanha está relacionado a uma série de decisões estratégicas equivocadas:
- Dependência de energia russa: Durante o governo de Angela Merkel, o país intensificou sua relação com a Rússia para obter gás natural barato, mesmo diante de riscos geopolíticos.
- Falta de inovação: A indústria automotiva, principal motor da economia, perdeu espaço para concorrentes como Tesla e fabricantes chineses, que dominaram o mercado de veículos elétricos.
- Tecnofobia estrutural: A Alemanha não acompanhou a revolução digital. O país enfrenta problemas como redes de telefonia ultrapassadas e pouca adoção de tecnologias modernas, incluindo inteligência artificial.
- Política energética ineficiente: A decisão de abandonar a energia nuclear sem uma estratégia robusta para substituí-la fragilizou ainda mais a economia.
O impacto da crise para a Europa
Com uma economia em crescimento lento e pouca margem fiscal, a Alemanha, antes a principal financiadora da União Europeia, está menos disposta a liderar programas de auxílio econômico ou de defesa, como o apoio à Ucrânia.
“A Alemanha era o motor da Europa. Com ela parada, nenhum outro país da União Europeia tem o tamanho ou a força para assumir esse papel”, explica Münchau.
Um futuro incerto
O governo atual, liderado por Olaf Scholz, enfrenta um impasse. Com a coalizão em colapso e eleições previstas para 2025, o país precisa decidir se seguirá investindo em setores industriais tradicionais ou se abraçará as novas tecnologias e os serviços digitais.
Enquanto isso, as grandes empresas alemãs, como a Volkswagen, ameaçam encerrar fábricas históricas, algo inédito em quase 90 anos. A Alemanha passou de Exportweltmeister para Ex-portweltmeister! Parece que o ‘Made in Germany’ precisa de um upgrade para o século 21.