Como uma campanha judicial e alianças estratégicas ajudaram a manipular o cenário político do Equador em favor de interesses externos
A ocupação e controle de um país sempre foram movimentos caros e arriscados, tanto em termos financeiros quanto de vidas. No entanto, no século 21, onde a guerra assimétrica prevalece, conquistar um território não exige mais a força militar — a “lawfare”, ou guerra judicial, surge como uma estratégia menos onerosa e mais sutil para influenciar geopoliticamente uma nação. No Equador, a Procuradora Geral Diana Salazar tem sido uma figura central nessa mudança de poder, conduzindo uma série de investigações que, segundo críticos, tem como alvo principal o movimento revolucionário de esquerda “Revolução Cidadã”, sob a justificativa de combate à corrupção e ao narcotráfico.
Caça às bruxas ou combate à corrupção?
Embora existam registros de corrupção no governo do ex-presidente Rafael Correa, diversos casos de grande repercussão envolvendo figuras próximas a Salazar falharam em se sustentar legalmente. Enquanto isso, figuras políticas de direita, muitas ligadas a interesses corporativos globais, têm visto suas acusações arquivadas ou desacreditadas. Esse movimento de proteção seletiva tem alimentado uma narrativa pró-direita na mídia, que tende a retratar Salazar como a principal combatente contra o narcotráfico, enquanto críticos a acusam de orquestrar uma perseguição política.
O caso Correa e o precedente na justiça equatoriana
Em 2020, Rafael Correa, ex-presidente do Equador e figura importante da esquerda latino-americana, foi condenado a oito anos de prisão e banido da vida política do país. Acusações de que Correa orquestrava uma rede de subornos foram rapidamente desmascaradas, mostrando-se baseadas em um empréstimo de $6.000 que o ex-presidente recebeu e pagou com fundos partidários. Sem evidências claras, as acusações trouxeram à tona a questão do uso político da justiça no Equador. Em um testemunho recente, Wilman Terán, juiz que sentenciou Correa, revelou que havia sido pressionado por emissários de Salazar para garantir uma condenação.
A dualidade no tratamento judicial: o caso Moreno
Em contraste, o ex-presidente Lenín Moreno, que liderou o Equador em uma guinada para o alinhamento com os Estados Unidos, enfrenta um processo muito mais lento, apesar de evidências robustas de subornos de até $76 milhões. As acusações de corrupção contra Moreno têm sido, por anos, sistematicamente adiadas. Segundo críticos, isso reflete uma retribuição de favores, já que Moreno teria nomeado Salazar como Procuradora Geral. A proximidade de Salazar com a embaixada dos Estados Unidos e os acordos bilaterais com o governo norte-americano são frequentemente mencionados como justificativas para a proteção de Moreno.
Criminalidade e o narcotráfico: entrelaçamentos de Estado e máfias
À medida que o Equador enfrentava políticas de austeridade que desmantelaram seu sistema de justiça, organizações criminosas internacionais, como o cartel dos Bálcãs e o CJNG mexicano, começaram a infiltrar o governo e as instituições de segurança do país. Em um ambiente onde o dólar circula amplamente e o controle estatal é mínimo, essas redes criminosas prosperam, com o apoio de setores do governo. Casos de narcotráfico envolvendo figuras políticas de direita e empresários associados ao ex-presidente Guillermo Lasso receberam tratamento brando, com acusações rebaixadas ou arquivadas.
Manipulação política e influência internacional
A influência de Salazar, apoiada pela mídia e em cooperação com a embaixada dos EUA, chega a níveis inéditos, influenciando julgamentos, manipulando investigações e pressionando juízes. Com o respaldo do governo e do sistema judicial, Salazar utiliza seu cargo para exercer poder sobre o Legislativo e o Judiciário, promovendo investigações que permanecem indefinidamente abertas até que se encontre um pretexto político adequado. Em resposta, movimentos de esquerda e organizações de direitos humanos têm denunciado uma “perseguição judicial” que visa controlar o Equador sem recorrer à ocupação militar.