Novas tecnologias disponibilizam informação em excesso, com o ritmo acelerado, gerando uma atenção ampla; porém, rasa e superficial
Segundo o filósofo Byung-Chul Han, o excesso de positividade, presente no mundo, devido às grandes mudanças tecnológicas, se manifesta também como excesso de estímulos, informações e impulsos. Descreve que a chamada ‘multitarefa’, não apresenta nenhum progresso civilizatório.
Por contraditório que pareça ser, para Byung-Chu Han as evoluções tecnológicas- sociais, tem aproximadocada vez mais a sociedade humana da vida selvagem. Na vida selvagem, o animal está obrigado a dividir suaatenção em diversas atividades: “O animal não pode mergulhar contemplativamente no que tem diante de si, pois tem de elaborar ao mesmo tempo o que tem atrás de si”. O bem viver, no mundo contemporâneo,cedeu lugar à preocupação por sobreviver.
As novas tecnologias disponibilizam informação em excesso, com o ritmo acelerado, gerando uma atenção ampla; porém, rasa – superficial. Conforme a filósofa Hanna Arendt, “quanto mais superficial a pessoa é, mais suscetível está a ceder ao mal”. A disseminação de uma ‘cultura de ódio e intolerância’, em boa parte, se explica por essa ausência de compreensão da vida e, de suas relações. Sujeito às manipulações nas redes sociais, parte da população é conduzida numa onda de superficialidade e insensatez.
Assertivamente, já no final do século XIX, o poeta e filósofo Ralph Waldo Emerson, caracterizou o ser humanomoderno: “um andarilho que corre sobre uma fina camada de gelo. Ele não tem um destino certo. Mas sabe que, se parar, o piso racha e morre afogado” (…) “nossa segurança está em nossa velocidade”.
Por sua vez, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche,evidencia que, a vida humana, finda numa hiperatividade mortal se, dela for expulso todo elemento contemplativo. Eis suas palavras: “Por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto. Assim, pertence às correções necessárias a serem tomadas quanto ao caráter da humanidade fortalecer em grande medida o elemento contemplativo”. O homem e a mulher do século XXI, tem a responsabilidade de fortalecer e estimular o “elemento contemplativo”, tão necessário para uma cultura do bem-viver e do bem-conviver equilibrado.
A contemplação, diante da vida, inicia e sustenta a aprendizagem, estabelece uma relação amorosa com saber.O amor à sabedoria, nasce do espanto (admiração), que por sua vez é fruto da contemplação da beleza do mundo.Essa contemplação cósmica, diante do mistério da vida,levou o místico Thomas Merton a dizer: “O poeta entra em si mesmo para criar. O contemplativo mergulha em Deus para ser criado”. Tanto o poeta, quanto ocontemplativo, são envolvidos por uma aura de leveza,recolhimento e quietude.
O filósofo coreano Chul Han faz uma constatação:“A massa de informações eleva massivamente a entropia do mundo, sim, o nível de ruído. O pensamento necessita de silêncio. É uma expedição para o silêncio”. O nível de ruído, de barulho, interfere na qualidade do pensamento, da reflexão. Essa cultura contemporânea hiperruidosa não gera nada de novo, reproduz o que já existe, expressa aflição, inquietação e,uma concepção reducionista da vida.
Contemplar significa compreender que, a acelerada rotina, não basta para a plenitude de nossa existência.Significa recuperar e, se reconciliar com a vida em seu instante vivido, dizendo sim à sua beleza. O tédio cansa,esgota. A contemplação reencanta e revigora a integridadeda vida. “É uma expedição para o silêncio”.
A busca da contemplação não deve ser confundida com anseios por sensações de arrebatamento. Nas palavras do Papa Francisco, “Contemplar e cuidar: eis duas atitudes que indicam o caminho para corrigir e reequilibrar nossa relação de seres humanos com a criação”.
A contemplação está presente também nos ensinamentos e na vida de Jesus de Nazaré: “Olhai os lírios do campo que não trabalham e nem fiam e, no entanto, nem Salomão em toda a sua glória jamais se vestiu como um deles” (Lucas 12, 27). Jesus de Nazaré é o contemplativo itinerante que sabe ver, olhar e contemplar a beleza da natureza presente nos lírios do campo. Quanta sensibilidade contemplativa. Parar e contemplar: eis a grande dificuldade do ser humano da pós-modernidade.
Parafraseando o teólogo Karl Rahnner que afirmou que o cristão do futuro, ou será um místico ou não será, ahumanidade nesse século ou será contemplativa ou perderá sua própria humanidade.
por Eder Vasconcelos e Roberto Camilo
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