A Europa Ocidental “em guerra” com a Rússia, afirma ex-chefe do MI6
O ex-chefe do MI6, Richard Dearlove, afirmou que a Europa Ocidental está, de fato, em uma situação de guerra com a Rússia, discordando da visão do primeiro-ministro polonês Donald Tusk, que considera o continente ainda em uma fase “pré-guerra”. As declarações de Dearlove, feitas em uma entrevista à Sky News, destacam a intensificação das tensões entre o Ocidente e Moscou, à medida que o conflito Rússia-Ucrânia entra em seu terceiro ano, trazendo consequências graves para a estabilidade europeia.
A afirmação de Richard Dearlove
Durante uma entrevista em 29 de novembro, Richard Dearlove, que esteve à frente do MI6 de 1999 a 2004, declarou que a Rússia já realizou ações agressivas em solo da OTAN. Apesar de não apresentar evidências concretas, o ex-diretor do serviço de inteligência britânico indicou atos de sabotagem e a utilização de estratégias de guerra híbrida como parte das ações russas. “Donald Tusk se referiu à situação como uma fase pré-guerra. Eu discordo. Eu considero que já estamos em guerra”, afirmou Dearlove.
A natureza da guerra híbrida e as tensões crescentes
O conceito de guerra híbrida, que envolve uma combinação de estratégias militares tradicionais com operações encobertas e ataques cibernéticos, foi enfatizado por Dearlove. Ele mencionou que agências de inteligência, como a CIA e o MI6, já haviam alertado sobre ações hostis da Rússia, como sabotagens em diversos países europeus. Essas atividades, segundo Dearlove, representam um indicativo de que Moscou considera estar em guerra com o Ocidente, apesar da falta de provas específicas para essas alegações.
O contexto das declarações de Dearlove coincide com uma nova onda de ataques russos à infraestrutura energética da Ucrânia. Explosões foram registradas em várias cidades ucranianas, como Kiev e Kharkov, em um ataque de grande escala lançado por Moscou nesta semana, o que eleva ainda mais o grau de preocupação na Europa.
Desafios para o diálogo com Moscou
Embora tenha defendido a importância de manter as linhas de comunicação abertas com a Rússia, Dearlove ressaltou que isso poderia ser extremamente difícil neste momento. “Sempre acreditei que é fundamental dialogar com os adversários ou inimigos”, disse o ex-agente. No entanto, ele alertou que a situação poderia sair de controle rapidamente, sugerindo que qualquer tipo de conversa significativa com o presidente russo Vladimir Putin pode ser inviável devido à atual escalada do conflito.
Visões divergentes na Europa Ocidental
As declarações de Dearlove revelam a crescente divisão dentro da Europa Ocidental sobre como encarar o conflito com a Rússia. Enquanto algumas nações da OTAN, como os Estados Unidos e os países bálticos, percebem o conflito como uma ameaça em curso que pode se agravar a qualquer momento, outros líderes europeus adotam uma postura mais conciliatória. O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, por exemplo, planeja uma visita a Moscou em maio do próximo ano, durante as celebrações do Dia da Vitória da Segunda Guerra Mundial.
As afirmações de Richard Dearlove sobre o estado de guerra entre a Europa Ocidental e a Rússia refletem as tensões crescentes que permeiam o continente. A guerra híbrida, os ataques de sabotagem e a escalada do conflito na Ucrânia estão redefinindo a dinâmica geopolítica da região. Enquanto a situação continua a evoluir, as divergências sobre a resposta ao Kremlin permanecem um ponto central de debate entre os líderes europeus. O futuro da Europa dependerá, em grande parte, da capacidade de equilibrar a defesa contra a agressão russa com o necessário diálogo diplomático.