A mídia conservadora aparece 56 vezes em escândalos de paraísos fiscais desde 1999; por isso esconde o caso Pandora Papers

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Os donos da mídia conservadora aparecem em seis dos nove escândalos de remessa de dinheiro para offshores sediadas em paraísos fiscais desde 1999. Isto explica por que eles se recusam a cobrir o caso de Paulo Guedes e de Roberto Campos Neto, o presidente do BC, informa o jornalista Mauro Lopes

Pode haver uma razão ideológica pela qual as mídias conservadoras do Brasil estão empurrando para debaixo do tapete o escândalo da presença do ministro da Economia e do presidente do Banco Central no Pandora Papers? Pode.

Afinal, são todos milionários e os milionários brasileiros todos defendem seu “direito” de enviar parte de suas fortunas para “paraísos fiscais”. São, de fato, paraísos para eles, porque nesses lugares eles não precisam pagar imposto algum ou no máximo taxas simbólicas. Esta preferência não é só deles, reconheça-se. Os milionários do capitalismo em todo o planeta gostam do esporte de roubar das pessoas comuns de seus países os recursos a que elas teriam direito com o pagamento de impostos que deveriam retornar às sociedades em serviços como os de saúde ou educação, por exemplo. 

Mas não é apenas ideologia o que explica a reticência da mídia conservadora brasileira, que, como se diz, “passa pano” para Guedes e Campos Neto. Não. O motivo de fundo é outro: os barões da mídia e mesmo alguns jornalistas endinheirados também mandam seus milhões (ou bilhões) para os paraísos capitalistas. 

Veja o quadro a seguir:

Créditos: BRASIL 247

Desde 1999, houve nove operações que levaram à divulgação de listas parciais de alguns milionários brasileiros que possuem contas secretas ou dinheiro em empresas offshore nos paraísos fiscais. As seis que aparecem acima são aquelas nas quais os barões da mídia brasileira foram flagrados. São elas: CC5 (1999), HSBC Papers (2015), Panamá Papers (2016), Bahamas Leaks (2016), Paradise Papers (2017) e, agora, Pandora Papers (2021). Em todas elas estão as pegadas -e os milhões- da imprensa conservadora brasileira. Houve mais três operações desde então e só nelas não foram detectados os barões da mídia: Bribery Division (2019), Luanda Leaks (2020) e FinCen Files (2020).  

Não se iluda, o que apareceu até hoje é uma pequena caneca perto do verdadeiro oceano de dólares surrupiados. Foram expostas ao público nesses anos contas de alguns bancos ou instituições financeiras de menos de 10 países – mesmo nesses países, a lista é parcial. Por exemplo, o escândalo HSBC Papers, de 2015, desnudou apenas parte das contas da filial desde banco na Suíça -há centenas de bancos que operam naquele país. 

Para que se tenha uma ideia, a Receita Federal do Brasil tem uma relação oficial de 60 países que classifica como paraísos fiscais. Veja a lista aqui.

Há diversas empresas e empresários de mídia nos seis escândalos. 

Um nome é o campeão de audiência. Sim, ele mesmo, o Grupo Globo -os Marinho só não apareceram até agora no Pandora Papers. Além dos Marinho, estão outros sobrenomes sonoros como os Frias, os Mesquita, os Civita, os Saad, os Sirotsky. Nomes de empresários da comunicação e estrelas do entretenimento, como Ratinho, e ao menos um jornalista, José Roberto Guzzo, que foi um alto executivo da Abril e um dos maestros que orquestraram a campanha de perseguição da editora ao PT.

Há até um “novo barão”, que aparece como figura solitária no escândalo de agora, o dono da CNN Brasil, Rubens Menin.

Acompanhe, operação a operação, quem da mídia brasileira foi flagrado com contas secretas ou offshores no exterior, em paraísos fiscais.

CC5 (1999)

Em 1999, foi desvendado um monumental esquema de lavagem de dinheiro, o “escândalo das CC5”. As contas CC5 eram contas previstas na carta circular nº 5, editada pelo Banco Central em 1969, que regulamentava as contas em moeda nacional mantidas no País, por residentes no exterior -elas foram usadas para remessa ilegal de dinheiro. Estima-se que US$ 125 bilhões tenham saído ilegalmente do país. Na lista dos remetentes estavam o Grupo Globo, que enviou dinheiro através de empresas como Globosat Comunicações, Globopar, Globo Participações ou Globosat Telecomunicações.

HSBC Papers (2015)

Pelo menos 22 empresários do ramo jornalístico e seus parentes e 7 jornalistas estavam na relação dos que mantinham contas na agência do HSBC em Genebra e apareceram no escândalo HSBC Papers em 2015 -as informações referiam-se não apenas a contas ativas, mas igualmente a contas encerradas anos antes. Entre os correntistas do HSBC na Suíça estavam pessoas ligadas a algumas das maiores empresas de comunicação do país. 

Estava na lista Lily de Carvalho, viúva de dois jornalistas e donos de jornais, Horácio de Carvalho (1908-1983) e Roberto Marinho (1904-2003). Horácio de Carvalho foi proprietário do extinto “Diário Carioca”. Roberto Marinho foi o grande estruturador dono das Organizações Globo.

Os nomes de proprietários do Grupo Folha, ao qual pertence o UOL, também se fizeram presentes no escândalo: Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), Carlos Caldeira Filho (1913-1993), Luiz Frias (atual presidente da Folha e presidente/CEO do UOL). 

Quatro integrantes da família Saad, dona da Rede Bandeirantes, também tinham contas no HSBC na época em que os arquivos foram obtidos. Constam entre os correntistas os nomes do fundador da Bandeirantes, João Jorge Saad (1919-1999), da empresária Maria Helena Saad Barros (1928-1996) e de Ricardo Saad e Silvia Saad Jafet.

Outros nomes da lista:

Fernando Luiz Vieira de Mello (1929-2001), da Jovem Pan.

Edson Queiroz Filho, Yolanda Queiroz, Paula Queiroz Frota, Lenise Queiroz Rocha, todos do Grupo Edson Queiroz-TV Verdes Mares-Diário do Nordeste.

Luiz Fernando Levy, da Gazeta Mercantil.

Dorival Masci de Abreu (falecido em 2004), da rede CBS de rádios. 

João Lydio Bettega, da Curitiba e Ouro Verde FM.

Fernando João e Maria Pereira dos Santos, do Grupo João Santos.

Anna Bentes, viúva de Adolpho Bloch, fundador do Grupo Manchete.

Carlos Roberto Massa (Ratinho) e Solange Martinez Massa, da Rede Massa (SBT no Paraná e oito rádios).

Aloysio de Andrade Faria (1920-2020), ex-proprietário do Banco Real, do Grupo Alfa-Rede Transamérica.

Panamá Papers (2016)

Foram citados no escândalo uma neta de Roberto Marinho e diretores e ex-diretores do Grupo Globo. Do Grupo Estado, que publica o jornal “O Estado de S.Paulo”, estavam na lista Ruy Mesquita Filho e o presidente do Conselho de Administração do Grupo Estado, Walter Fontana Filho.

Aparecem também a dona da TV Verdes Mares, Yolanda Vidal Queiroz; o apresentador Carlos Massa, o Ratinho, dono da Rede Massa de Televisão; um sócio do grupo Bloch, antigo dono da TV Manchete, Pedro Jack Kapeller; o ex-senador João Tenório, dono da TV Pajuçara, em Alagoas; e o sócio das TVs Studio Vale do Paraíba e Jaú, Antonio Droghetti Neto.

O jornalista José Roberto Guzzo, que era um jornalista do Grupo Abril, também teve seu nome arrolado.

Bahamas Leaks (2016)

Mais uma vez, o Grupo Globo: José Roberto Marinho e Paulo Daudt Marinho, vice-presidente do Grupo Globo e presidente da Fundação Roberto Marinho. 

Paradise Papers (2017)

A família Marinho compareceu no escândalo com José Roberto Marinho, Roberto Irineu Marinho e João Roberto Marinho.

Outro presente na lista foi o empresário José Hawilla (1943-2018), dono da Traffic, atuante no setor de marketing esportivo, e da TV Tem, rede de televisão com emissoras em quatro cidades do interior paulista e da rede de jornais Bom Dia, também no interior de São Paulo.

Também estiveram relacionados ao escândalo Eduardo Sirotsky Melzer, do Grupo RBS, e a Editora Abril. 

Pandora Papers (2021)

No escândalo em curso, está o patriarca da família Menin, Rubens Menin, e seus filhos. Eles são donos da CNN Brasil, da construtora MRV, do Banco Inter e outras empresas.

FONTE: BRASIL 247

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