A peste

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Praga paralela à pandemia pode ser tão destrutiva quanto o coronavírus

Tudo começou antes da pandemia, em 2013. Surgiram nas ruas uns gatos pintados de verde-e-amarelo e se espalharam feito cogumelos depois da chuva. Sabe-se que foram patrocinados pela Fiesp e outras entidades de gente rica. Mas os gatos barulhentos não são ricos, apenas gostariam de ser.

Berram slogans e repetem ameaças contra o STF, o Congresso e a mãe de quem apoiar o PT ou a esquerda. Pedem ditadura militar direta, não a indireta que hoje temos. São neofascistas sem o saber.

Alguns recebem um dinheirinho oculto do governo de ultradireita para gastar saliva, ódio e sola de sapato nas avenidas. Eles têm a proteção da polícia. Vários tiras e PMs engrossam suas hostes enfurecidas nas horas de folga. Deve ser um hobby.

Os gatos pintados antecederam o bolsonarismo e cobram de seu chefe que continue a ignorar a pandemia e os mais de 450 mil mortos. Gente finíssima, pertencente a várias camadas das classes médias e ao lumpen marginal. Liderados por figuras antes anônimas como a deputada Carla Zambelli, bolsonarista de choque e simpática à família de milicianos das rachadinhas.

Por que eles existem, cada vez mais escassos, ainda que agora treinados para 2022?

Sua origem é difusa, começou na massa antipetista da classe média branca de 2013, todos misturados, agora estão depurados. É como se tivessem passado por uma peneira rigorosa por exclusão. Só ficaram os piores. São os mais violentos, estúpidos, sedentos por agredir alguém, espalhando ódio contra as instituições democráticas e fazendo campanha presidencial antecipada para 2022.

Essa pequena massa que fez uma manifestação no primeiro de maio, Dia do Trabalho, paradoxalmente não contém trabalhadores propriamente ditos, mas o bloco dos insatisfeitos e frustrados em sua ascensão social. Esse bloco foi engrossado pelos pequenos comerciantes que sofreram com o lockdown parcial imposto pelos governos estaduais a fim de enfrentar a pandemia. São os que entraram no meio do tiroteio entre o governo negacionista e alguns governadores mais sensatos, que priorizam o caminho de conter a pandemia para que se retome o crescimento econômico o mais rápido possível.

Os idiotas da objetividade – como dizia Nelson Rodrigues – não entenderam que as perdas temporárias serão maiores se a pandemia prosseguir e a vacinação, sabotada pelo governo extremista, continuar a atrasar.

Para essas pessoas, não adianta clamar por evidências científicas ou argumentos racionais. Fanáticos até a medula, acrescidos de muitas hostes evangélicas, continuam a minimizar o perigo do coronavírus e a enaltecer as mentiras governamentais, denunciadas pelo mundo inteiro.

O triunfo da ignorância proposto por um governo que destrata a educação e a cultura, exaltando a força bruta e o militarismo, pode nos conduzir nas próximas eleições para uma crise sem precedentes e inédita: a histeria à moda de Trump e uma tentativa de golpe com apoio de uns poucos gatos pintados de verde-e-amarelo.

O maior perigo é que esses personagens semimarginais da cena brasileira têm o apoio governamental, mais uma máquina de propaganda reforçada pelas verbas que Bolsonaro liberou para as redes de TV fiéis a ele, como o SBT, a Rede da Record e, agora, surpreendentemente, a Rede Bandeirantes.

A “grande imprensa”, jornais e revistas que apoiam a política econômica de Guedes, também não está isenta de responsabilidade de dar voz e apoio indireto a esses grupos neofascistas, cujo mote é enfrentar a violência a bala.

Não foi acaso que só se falou na manifestação anti trabalhista do Dia do Trabalho, feita pelos gatos pintados na Avenida Paulista, em São Paulo, enquanto corria uma grande manifestação da CUT no Viaduto do Chá, com maior adesão de trabalhadores do que os grupos bolsonaristas jamais terão.

O efeito espetaculoso desses grupos treinados lembra a cena que um fotógrafo flagrou de Bolsonaro indo para um avião, acenando para uma multidão inexistente. O vídeo mostrava que o grande Mito acenava para ninguém.

O Brasil está vivendo essa praga paralela à pandemia destrutiva, mas que pode ser tão destrutiva quanto o coronavírus. Se vir um gato pintado de verde-e-amarelo na rua, cuidado com ele! Ele pode eleger um presidente que já subiu ao poder graças às fake news e à baixaria mais repugnante. Um presidente mais vazio do que a cena para a qual acenava no aeroporto, mas com uma política de destruição em massa.

VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!

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