Ex-presidente afirma que poderia buscar asilo diplomático, rebatendo as acusações de planejamento de golpe, e nega envolvimento em qualquer plano de violência contra autoridades.
Jair Bolsonaro fala em buscar asilo em embaixada
O ex-presidente Jair Bolsonaro, sob investigação por parte da Polícia Federal por suspeita de envolvimento no planejamento de um golpe de Estado, fez declarações alarmantes em entrevista ao portal UOL nesta quinta-feira (28). Bolsonaro, que é indiciado em um relatório da PF por tentar desestabilizar o processo eleitoral de 2022, afirmou que está sendo alvo de uma “perseguição política” e não descartou a possibilidade de buscar refúgio em uma embaixada, caso a situação se agrave.
“Embaixada, pelo que vejo na história do mundo, quem se vê perseguido, pode ir para lá”, afirmou o ex-presidente, deixando claro que, se necessário, recorrerá à diplomacia internacional para evitar um possível processo judicial que o leve à prisão. O comentário surge após uma série de investigações que apontam Bolsonaro como um dos principais articuladores de ações que visavam reverter os resultados das eleições presidenciais de 2022, em favor de sua reeleição.
Perseguição política ou trama golpista?
Bolsonaro também rebateu as acusações feitas contra ele, garantindo que sua decisão de retornar ao Brasil, após uma temporada nos Estados Unidos, reflete sua ausência de culpa. “Se eu devesse alguma coisa, estaria nos Estados Unidos, não teria voltado”, afirmou, minimizando as investigações que o envolvem. O ex-presidente ainda fez questão de ressaltar que retornou ao país por vontade própria e não fugiu de qualquer acusação.
Em fevereiro deste ano, Bolsonaro havia ficado dois dias na embaixada da Hungria, logo após a deflagração de uma operação da Polícia Federal que o colocou no centro de um inquérito sobre o incentivo ao golpe de Estado. O episódio gerou controvérsias e alimentou especulações sobre sua tentativa de buscar refúgio diplomático no exterior.
Discussões sobre a Constituição e negações sobre planos violentos
Em sua entrevista, Bolsonaro também fez algumas admissões sobre os bastidores de sua administração após a derrota nas urnas em 2022. O ex-presidente admitiu ter discutido com os comandantes das Forças Armadas sobre “artigos da Constituição”, com o objetivo, segundo ele, de “voltar a discutir o processo eleitoral”. No entanto, ele assegurou que essas conversas não levaram a ações concretas, afirmando que a ideia foi “abandonada rapidamente”.
Apesar de ser investigado por suspeitas de envolvimento em tramas golpistas, Bolsonaro negou qualquer envolvimento em planos que pudessem colocar em risco a vida de líderes políticos. Especificamente, ele refutou as acusações de que teria tido conhecimento de planos para a prisão ou até mesmo a morte de autoridades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin, ou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
O indiciamento e as consequências jurídicas
O ex-presidente Bolsonaro é um dos alvos principais do inquérito aberto pela Polícia Federal, no qual ele e 36 outras pessoas foram indiciados por tentativa de golpe de Estado. O relatório da PF foi enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR) no dia 26 de novembro, com a determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF, de levantar o sigilo dos autos para permitir o acesso das defesas aos documentos da investigação.
O relatório aponta para um suposto esforço de Bolsonaro e aliados para manipular os resultados das eleições e até mesmo para fomentar ações violentas contra o sistema democrático, com o objetivo de contestar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. A investigação traz à tona uma série de atos que envolvem desde articulações políticas até a utilização de recursos públicos para alimentar o movimento golpista.
O papel do Supremo e as expectativas para o futuro
O Supremo Tribunal Federal (STF) segue acompanhando de perto os desdobramentos das investigações e o impacto político da situação envolvendo o ex-presidente. A expectativa é de que, com o indiciamento de Bolsonaro, o cenário político se intensifique, com mais debates sobre a estabilidade das instituições democráticas e o papel do ex-presidente em desestabilizar o processo eleitoral.
Enquanto isso, o ex-presidente se mantém firme nas suas declarações de que as acusações são parte de uma perseguição política orquestrada contra ele. A política de asilo diplomático mencionada por Bolsonaro também acirra o debate sobre os limites da política externa brasileira e o impacto de uma possível busca por refúgio em um momento de crise interna. Bolsonaro perseguia a democracia como um caçador, mas agora é ela quem dá o revés.