A risada das hienas

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.

A credibilidade do governo cai na mesma proporção em que aumenta o número de mortos pelo coronavírus

Num dos seus mais impressionantes relatos de caça, Ernest Hemingway narra a cena em que uma hiena ferida devora o próprio intestino até à morte. Isso mostra que a selvageria excessiva pode levar ao autocanibalismo. As gargalhadas do presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores, ao saberem que o pedido de impeachment de Alexandre de Moraes, do STF, havia caído no colo do ministro Kássio Nunes, revelam o estado de espírito do mandatário.

 

Kássio Nunes arquivou o pediddo de impeachment de Cajurú

 

As risadas comprovam, mais uma vez, a alienação e a indiferença dessa gente diante do sofrimento humano. Naquele mesmo dia, o número de brasileiros mortos pela Covid-19 ultrapassava a marca dos 355 mil. Tal comportamento também demonstra que o presidente tem plena confiança no seu protegido. Como um agente infiltrado no Supremo a serviço do Executivo.

No entanto, como diz o velho ditado, “quem não deve, não teme”. Ao querer intimidar aqueles que trabalharam em favor da CPI da Covid-19, Bolsonaro mostra que tem culpa no cartório. Se tivesse certeza da inocência, não hostilizaria Moraes publicamente e tampouco tentaria incluir governadores e prefeitos no mesmo inquérito. Afinal, se a CPI não der em nada, ele sairia no lucro.

Fato é que a credibilidade do governo cai na mesma proporção em que aumenta o número de mortos pelo Coronavírus. Portanto, tudo o que Bolsonaro menos deseja é ter que assistir ao depoimento do general Eduardo Pazuello na CPI. Uma vez pressionado pelos senadores, dificilmente o ex-ministro da Saúde assumirá sozinho a responsabilidade pelos erros cometidos durante a sua gestão.

A evidência dos fatos

Um presidente sem partido, cuja popularidade afunda a olhos vistos, dificilmente encontrará quem o defenda diante da evidência dos fatos. Oxalá seu filho 01, senador Flávio Bolsonaro, consiga argumentar em seu favor. Outro que talvez possa defendê-lo é Jaques Wagner, que declarou considerar inoportuna a abertura da CPI no ápice da pandemia.

A opinião do senador baiano reflete a estratégia petista, que visa empurrar o presidente com a barriga até as eleições de 2022, quando Lula tentará chutá-lo nas urnas feito um cachorro morto. Em outras palavras, lulistas radicais têm na Covid-19 uma grande aliada. Quanto mais mortes durante o atual governo, menos eleitores Bolsonaro terá e Lula ressurgiria como o salvador da pátria. No jargão militar, essas mortes seriam consideradas “danos colaterais”.

Contudo, aguardar o fim da pandemia para investigar o governo seria, no mínimo, adiar o inadiável. Trata-se da maior tragédia já ocorrida no país e ninguém sabe onde ela vai parar. Boa parte das mortes e do sofrimento da população poderia ter sido evitada se o presidente tivesse agido a contento, assumindo a liderança que lhe cabia. Em vez disso, preferiu se deixar levar pela vaidade e pelo orgulho ferido, atitude típica de psicopatas quando são contrariados.

Vale lembrar que o STF só autorizou a ação de governadores e prefeitos contra a pandemia devido à inoperância da administração federal. Isso não tirou do presidente a responsabilidade que lhe cabe. Também não significa que outros não devam ser investigados. No entanto, longe de ser um bode expiatório, Bolsonaro sabe que vai pagar pelos próprios erros e tenta misturar as coisas para criar o caos e sair ileso. Como a hiena ferida, sua gargalhada é também de nervosismo, fruto de preocupação e de noites mal dormidas. Não que a consciência lhe pese, mas por se saber culpado da própria derrota.

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