A um ano das urnas

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Ainda há tempo para superar a rinha Bolsonaro versus Lula

Daqui a exatos 12 meses os brasileiros vão às urnas escolher o presidente da República, governadores, um terço do Senado, deputados federais e estaduais. Na disputa ao Planalto, o tempo parece curto para novidades frente à polarização entre Jair Bolsonaro e Luís Inácio Lula da Silva. Mas é uma eternidade quando confrontado com o que ocorria um ano antes de o país confirmar a pior das escolhas que já fez em sua história.

A comparação com 2017 é didática. Em outubro daquele ano, diante da possível inelegibilidade de Lula, Marina Silva, candidata da Rede, liderava as pesquisas de opinião. Teve apenas 1% dos votos nas eleições de 2018, vencida por um Bolsonaro que só deixou de ser azarão poucos meses antes da peleja.

Sabe-se que a História não se repete, mas é prudente utilizá-la no mínimo como parâmetro temporal a indicar que tudo, até o que a princípio se tem como improvável, pode acontecer no futuro próximo. 

Marina, derrotada em 2014 por ações sórdidas do marqueteiro do PT de Dilma Rousseff, João Santana (hoje guru de Ciro Gomes), que a colocou como quem tirava comida dos pobres para dar aos ricos, alcançou a liderança da disputa em 2017 pelo recall da campanha anterior.

Lula, que viria a ser preso em abril do ano seguinte, ainda liderava nos cenários em que aparecia, mas naquela altura sua candidatura já estava em xeque. O petista Fernando Haddad, que em 2018 disputaria o segundo turno, aparecia na rabeira, com 2 ou 3 pontos. Bolsonaro oscilava entre 16% e 19%, contando mais ou menos com o mesmo número de eleitores que ele ainda mantém no cabresto.

É claro que o Brasil de 2021 é bem diferente do de 2017. Lá, saía-se de um impeachment para o governo-tampão de Michel Temer, que acabara de ser atropelado pela delação de Joesley Batista.

Embora deputado há mais de duas décadas, integrante do baixo-clero e conhecido por suas posturas pró-ditadura e ditadores, homofóbicas e misóginas, Bolsonaro começou a se vender como o outsider da vez. Soube arrebanhar o antipetismo que nas ruas gritava “minha bandeira jamais será vermelha” e, via uma azeitada – e bem financiada – estrutura nas redes sociais, foi abocanhando a insatisfação nacional.

No ano seguinte, o então candidato do PSL teve o auxílio da vitimização, provocada pelo atentado a faca que sofreu em Juiz de Fora, sob o qual ainda se alimentam suspeitas oportunistas dos dois lados. Bolsonaristas bradam que Adélio Bispo agiu sob mando da “esquerda”, que, por sua vez, crê em farsa.

É bobagem afirmar que os desafios agora são mais complexos do que os de 2017. Tem-se cruamente que os problemas se agravaram e o presidente Bolsonaro, longe de ser solução, é figura central da perturbação.

À gravidade da pandemia, Bolsonaro acrescentou o incentivo a comportamentos que ampliam a mortandade – não ao distanciamento social, às máscaras e às vacinas, sim à hidroxicloroquina. À crise econômica, acresceu um estado disfuncional. Mexe em impostos de forma improvisada, distribui e suspende auxílios aos pobres sem qualquer planejamento, prioriza o que não tem a mínima urgência, como porte de armas e afrouxamento em leis de trânsito. Cria o estado da desconfiança.

Na semana passada, comemorou os mil dias de seu governo em palanques. Além da inauguração de 10km de asfalto na Bahia, jogou para a galera em Minas com obras para o futuro: um centro de produção de vacinas na UFMG, que teve verba anual cortada, e a linha 2 do metrô de Belo Horizonte, projetada há 10 anos, lançada um sem número de vezes, sem previsão orçamentária ou projeto de privatização e sem data para iniciar. Campanha eleitoral pura.

Daqui a exatos doze meses os eleitores vão às urnas. Hoje ainda não se enxergam opções competitivas para além da rinha Bolsonaro x Lula, do debate agressivo, radical e dicotômico, no qual ponderação é crime. Não é fácil escapar disso, mas ainda há tempo de 2022 não ser assim. (Mary Zaidan)

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