O que acontece agora já nem é a inconformidade com o que não podemos mais fazer sem medo, mas o quanto já nos acostumamos a isso como se inevitável e irreversível fosse. Estamos todos encapsulados
Cada vez fica mais claro, no Brasil e no planeta, que haverá, a partir de agora a era AP e a era DP. Antes e depois da pandemia. Tanto isso é verdade que a maioria de nós sabe exatamente o que fazia até o dia em que teve que começar o confinamento, por volta de meados do mês de março do triste ano de 2020.
Ficamos agora, pois, saudosos do que podíamos fazer (e agora não dá) até aquele triste começo de confinamento. Ir à praia, beber com amigos em um boteco, jogar frescobol, assistir a partidas de futebol em estádios, rir, gargalhar, sentir o vento contra o rosto sem medo do vírus entrar pelas narinas. O que parecia corriqueiro já é utopia.
O que acontece agora já nem é a inconformidade com o que não podemos mais fazer sem medo, mas o quanto já nos acostumamos a isso como se inevitável e irreversível fosse. Estamos todos encapsulados. Mesmo aqueles que todos os dias tem que encarar transporte público ou dirigir seus carros em congestionamentos. Estamos em bolhas que parecem que nunca serão rompidas ainda mais quando levamos em conta a morosidade para combater o vírus que caracteriza esse desgoverno genocida.
Diante disso tudo se desenrola agora a tal CPI da Covid que seria cômica não fosse trágica. O que deveria ser discutido não é o fato dela ser ou não necessária, mas sim o desvio de foco que promove ao julgar descasos decorrentes do “não combate” à uma pandemia quando ela ainda corre solta Brasil afora. Ou seja, estamos de certa forma julgando os pseudo-réus quando novos réus brotam do pântano bolsonarista todos os dias. É mesmo um país surreal. Um país que não fica melhor em nenhum aspecto no período DP, como ingenuamente pensamos que pudesse ocorrer. Julgamos uma situação recorrente como se fosse ausente.
Eduardo Pazuello, o general omisso que pegou o Ministério da saúde com 30 mil mortos e o “devolveu” com mais de 300 mil é muito mais que um personagem omisso, caricato e vassalo de Bolsonaro e se todos conhecêssemos o contexto da sua “vida e obra” na região amazônica saberíamos que ele não é o anjo adiposo que pretende parecer. Conhecer o contexto dessa triste figura – ainda mais depois de seu fantasioso depoimento a CPI – talvez ajude os senadores e os brasileiros a entenderem melhor o sentido de sua inércia no morticínio brasileiro.
Sobre a CPI muitos colegas mídia afora andam escrevendo e não vos tomarei mais tempo com o assunto. Mas faço questão de reiterar que me parece absurdo nos debruçarmos sobre irregularidades passadas quando se avolumam as irregularidades presentes. Assim, subvertendo uma frase ufanista usada na ditadura militar esse “não é um país que vai pra frente”. E não há sinais que sairemos disso tudo melhores . O período DP aliás pode ser pior que o período AP diante da recorrente caça as bruxas que esquece que as bruxas seguem aí. Livres , leves e soltas a destruir o que um dia foi um projeto de país.
por Ricardo Soares
VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!
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