Organização De Olho No Material Escolar busca afastar referências a desmatamento e uso de agrotóxicos dos conteúdos escolares
REPÓRTER BRASIL – A organização De Olho No Material Escolar, formada por pais e empresários do setor agro e financiada por grandes corporações do agronegócio, vem crescendo rapidamente e ampliando sua influência sobre o sistema educacional brasileiro. Em apenas três anos de atuação, o grupo, conhecido como Donme, tem procurado remodelar os livros escolares, buscando afastar a imagem negativa associada à agropecuária, ao uso de agrotóxicos e ao desmatamento.
A entidade alega que quer promover uma visão mais “equilibrada” e “científica” sobre o agronegócio, afirmando que muitos livros escolares distorcem a realidade do setor e incentivam uma “visão ideológica” negativa. Em evento realizado em São Paulo, o vice-presidente da Donme, Christian Lohbauer, ex-executivo da indústria de agrotóxicos, expressou a intenção de reformular o que é ensinado às novas gerações, dizendo que “as crianças não podem aprender que o alimento brasileiro está envenenado com agrotóxicos” ou que “a pecuária é responsável pela destruição da Amazônia.”
Por trás das ações da Donme, encontram-se dezenas de empresas do setor agro, incluindo nomes importantes como a JBS, a Cargill e a Croplife Brasil, grupo que representa as maiores fabricantes de agrotóxicos.
Influência no Congresso e nos sistemas educacionais
Desde sua fundação, a Donme vem se articulando com líderes no Congresso Nacional para influenciar o novo Plano Nacional de Educação (PNE), que definirá diretrizes educacionais para a próxima década. Com o apoio da bancada ruralista, a associação busca ampliar sua influência sobre os currículos escolares e garantir que a educação brasileira adote uma visão mais favorável ao agronegócio.
Em 2023, o grupo realizou encontros com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, para debater a inclusão do agronegócio de forma mais positiva nos materiais escolares. A Donme também estabeleceu parcerias com instituições como a Universidade de São Paulo (USP), criando a “Agroteca”, uma biblioteca digital com conteúdos sobre o agro, embora esses materiais frequentemente neguem dados como o uso excessivo de agrotóxicos no país.
Questionamentos e resistência da comunidade acadêmica
Enquanto a Donme intensifica suas ações, especialistas em educação expressam preocupação com o que consideram uma tentativa de monopolizar a narrativa sobre o setor. Segundo Rodrigo Lamosa, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), o movimento é ideológico e busca eliminar a diversidade de abordagens educacionais. Para ele, é “uma falácia dizer que o agro não está dentro da escola”, considerando que os temas relacionados ao agronegócio já fazem parte dos conteúdos escolares.
Lamosa acredita que o objetivo da Donme é controlar a narrativa sobre o setor, enquanto outros especialistas afirmam que a organização busca esconder questões como o desmatamento na Amazônia e as práticas de trabalho escravo no campo, aspectos frequentemente mencionados em estudos e dados públicos.
A crescente influência da Donme sobre o sistema educacional brasileiro reflete uma nova etapa na disputa pelo controle da opinião pública sobre o agronegócio. Com forte apoio financeiro e político, o movimento do setor agro busca consolidar uma imagem positiva, ao mesmo tempo que enfrenta resistência de grupos educacionais e ambientais. A questão agora é até que ponto essa influência moldará o que as próximas gerações aprenderão sobre o papel do agronegócio na sociedade e no meio ambiente.
Veja o apelo do brancos e ricos, por uma “mudança” na educação, no vídeo produzido por eles proprios abaixo.