Trabalhadores denunciaram um “sucateamento acelerado do quadro técnico operacional das empresas Eletrobrás”
A sombra do apagão não é apenas sobre a energia, mas sobre o futuro da Eletrobrás. Profissionais especializados em operação e manutenção dos sistemas de geração e transmissão da empresa estatal denunciaram o “sucateamento acelerado do quadro técnico operacional” em uma carta direcionada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O cenário catastrófico é resultado da desestatização, ocorrida após a decisão do governo anterior de entregar a empresa ao setor privado. O alerta desses trabalhadores chega em um momento crucial, logo após um apagão que afetou 25 estados e o Distrito Federal.
A voz dos operários ecoa como um grito de socorro. Em um movimento inusitado, eles pedem a atenção do presidente, enfatizando que a privatização promoveu uma “frenética demissão de profissionais” desde junho de 2022, quando a Eletrobrás foi entregue às mãos privadas. Os métodos empregados nesse processo, como o Plano de Demissão Voluntária (PDV) coercitivo, foram veículos de tortura psicológica e assédio moral coletivo, conforme denunciado pelos trabalhadores. A empresa que antes era um pilar de energia para o país agora se tornou palco de um desmonte irresponsável.
Os prejuízos não são apenas econômicos, mas também sociais e ambientais. Os signatários da carta, que representam as subsidiárias da Eletrobrás, denunciam o aumento de acidentes de trabalho e a degradação do quadro técnico, colocando em risco a segurança energética do país. O processo de privatização, que cedeu o controle acionário da maior empresa de energia elétrica da América Latina a um grupo minoritário de acionistas, é classificado como um “crime contra a sociedade e contra o desenvolvimento do país”.
A reação à privatização falida se alastra para além dos corredores da Eletrobrás. Parlamentares e até o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, reconhecem os equívocos do processo. A falta de planejamento, o desrespeito ao patrimônio público e a busca incessante pelo lucro estão expondo o país a riscos energéticos e econômicos. O apagão, que poderia ter sido evitado, é um sintoma claro da destruição da expertise técnica acumulada ao longo de décadas.
Os trabalhadores não apenas relatam o caos, mas também apresentam uma solução clara: a reestatização. A interferência do governo na gestão da Eletrobrás, como busca Lula via ação no Supremo Tribunal Federal, é vista como uma saída viável para conter o desastre. A empresa que já foi responsável por impulsionar o setor energético do país merece ser resgatada da rota de colisão imposta pela privatização irresponsável.
As consequências desastrosas do sucateamento da Eletrobrás devem ser um alerta para o país. O preço de entregar setores estratégicos como energia, água e petróleo ao mercado é alto demais para ser ignorado. A catástrofe que se desenha com a privatização é um lembrete doloroso de que a busca cega pelo lucro pode apagar as luzes da prosperidade nacional. A energia que movia a Eletrobrás, construída ao longo de décadas, está sendo dissipada rapidamente. A pergunta que fica é: até quando seremos vítimas de decisões irresponsáveis que impactam nossa soberania e bem-estar?
Veja agora a carta dos trabalhadores ao presidente Lula:
É com muita satisfação que cumprimentamos Vossa Excelência pelas ações que seu governo está implementando no setor elétrico brasileiro, com destaque para o relançamento do importantíssimo programa Luz para Todos, que propiciará a inclusão energética e social de muitas famílias brasileiras, bem como a inauguração da interligação de municípios do Estado do Amazonas ao SIN (Sistema Interligado Nacional) e a assinatura de Ordem de Serviço para construção do Linhão Manaus-Boa Vista (RR), que também interligará Roraima ao Sistema.
Sr. Presidente, somos trabalhadores e trabalhadoras da ELETRONORTE, CHESF, FURNAS e CGT ELETROSUL, subsidiárias da ELETROBRAS, que juntamente com a holding foram privatizadas de forma irresponsável, num verdadeiro CRIME DE LESA-PÁTRIA, que transferiu o controle acionário da maior empresa de energia elétrica da América Latina para o grupo de acionistas minoritários, apoiados por agentes públicos que tinham o dever e obrigação de defender os interesses e direitos societários da União Federal e sociedade brasileira.
Sr. Presidente, atuamos nos processos produtivos de operação e manutenção dos sistemas elétricos de geração e transmissão de energia das empresas do Sistema Eletrobras – somos os responsáveis por manter todo o sistema funcionando com segurança e confiabilidade.
Sr. Presidente, infelizmente, muitos de nós que assinamos esta carta já não fazemos mais parte dos quadros de funcionários das empresas Eletrobras, uma vez que a partir de junho/2022, após a privatização da Companhia, a atual gestão sob a liderança do seu presidente Sr. Wilson Pinto Ferreira Júnior, iniciou um processo frenético de demissão de profissionais, seja por meio de PDV forçado, cujas adesões foram obtidas por meio de torturas psicológicas e assédio moral coletivo, como também de demissões sem PDV.
Sr. Presidente, o que estão fazendo com a Eletrobras é um verdadeiro crime contra a sociedade e contra o desenvolvimento do país, por isso, nós não poderíamos ficar alheios e inertes ao processo acelerado de destruição de tudo aquilo que ajudamos a construir ao longo de mais de 50 anos, com muito esforço e dedicação.
Sr. Presidente, lamentavelmente, a referida privatização foi efetivada em junho de 2022 e depois desta famigerada data, as consequências maléficas começam a aparecer, conforme relatamos abaixo, relativas ao que está acontecendo no âmbito das empresas ELETROBRAS, e que são do conhecimento do MME e da Casa Civil:
1. Sucateamento acelerado do quadro técnico operacional das empresas Eletrobras: Em menos de 12 meses serão demitidos, via PDV forçado e sem planejamento, mais de 4 mil trabalhadores e trabalhadoras, cuja consequência principal será a perda de capital intelectual e capacidade técnica em todas as empresas do grupo de norte a sul do país, bem como o aumento dos riscos operacionais;
2. Aumento da ocorrência de acidentes de trabalho nas empresas Eletrobras, sendo que na subsidiária CHESF houve o registro de acidentes fatais (morte de trabalhadores);
3. Explosão e incêndio do transformador elevador da Unidade 19 da Usina Hidrelétrica de Tucuruí no estado do Pará no dia 31/07/23 – algo que nunca ocorreu desde que a usina foi inaugurada;
4. Registro de acidentes envolvendo transporte de cargas na Usina de Candiota, e
5. Não podemos deixar de citar, o aumento estratosférico dos salários do CEO, dos Vice-Presidentes e dos Conselheiros – um verdadeiro acinte contra os consumidores de energia elétrica.
Sr. Presidente, o sucateamento e as ocorrências citadas acima, são apenas a ponta do iceberg do que vem acontecendo. O que acontecerá daqui para frente, a partir da governança e gestão que está sendo adotada na Eletrobras e suas empresas, será processo de destruição interno acelerado e sem nenhuma preocupação com o futuro da empresa e com os consumidores. Nunca é demais relembrar o que aconteceu na cidade de Macapá, capital do estado do Amapá, que sofreu vários dias sem energia, por conta de problemas técnicos e de planejamento enfrentados pela concessionária empresa privada responsável pelo abastecimento, sendo que a solução do apagão foi diligenciada pelos engenheiros e técnicos das ELETRONORTE ESTATAL. Se o referido problema tivesse ocorrido hoje, possivelmente a Eletronorte privada, focada tão somente no lucro e com quadro de pessoal sucateado estaria assistindo o episódio de camarote.
Sr. Presidente, sua decisão de entrar com ação no STF reivindicando, via ADI, o reconhecimento dos direitos políticos da UNIÃO FEDERAL na governança e gestão da Eletrobras, proporcionalmente à participação de 43%, foi muito acertada e conta integralmente com o nosso apoio, pois só assim, a ELETROBRAS poderá continuar servindo com competência à sociedade brasileira.
Sr. Presidente, em decorrência da referida ADI, o atual Conselho de Administração da Eletrobras, liderado composto por membros indicados por acionistas minoritários e a Diretoria Executiva (escolhida por este mesmo conselho) está adotando uma série de medidas de gestão que estão sucateando rapidamente a Eletrobras e suas subsidiárias ELETRONORTE, CHESF, FURNAS e CGT ELETROSUL, numa estratégia de fazer tudo e de qualquer forma, antes da decisão definitiva do STF. Ressaltamos, que não se trata de medidas de gestão, trata-se de medidas destruidoras e em desrespeito ao maior acionista da Companhia – que é a União, ao Poder Concedente e ao Presidente da República.
Sr. Presidente, todo o sucateamento que está sendo implementado na Eletrobras é fruto da gestão que está sendo feita diretamente pelo Conselho de Administração e seus Comitês de Assessoramento, com participação direta do acionista preferencialista 3G Radar – que do alto de uma posição privilegiada age em detrimento aos interesses da União e dos demais acionistas da Companhia.
Sr. Presidente, para finalizar esta carta é um pedido de socorro à Eletrobras. Vimos pedir Vosso apoio, para que o Ministério de Minas e Energia – MME, a Casa Civil e a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (que representa e defende os direitos da União na Eletrobras) adotem providências urgentes junto à governança e alta administração da Eletrobras, inclusive principais acionistas, para sustar os processos de demissões em curso, da destruição e sucateamento conduzido pelo atual Conselho de Administração e Diretoria Executiva da empresa, de forma que as mudanças sejam feitas com planejamento, visando uma transição segura e preservando a capacidade técnica da Eletrobras e de suas empresas Chesf, Furnas, Eletronorte e CGT Eletrosul!